“Se não se consegue ver a diferença entre uma missa e um baile de carnaval, fica difícil conversar”, afirma dom WilsonArcebispo detona interrupção de Missa de Crisma em Santa Catarina: dom Wilson Tadeu Jönck, arcebispo de Florianópolis, deplorou a forma como autoridades da cidade de Botuverá, na arquidiocese de Florianópolis, interromperam uma Santa Missa em que 78 pessoas estavam recebendo o sacramento da Crisma, no último sábado, 28 de novembro.
As autoridades responsáveis pela interrupção alegaram que a celebração religiosa violava normas de prevenção contra a covid-19. A Santa Missa estava sendo celebrada no salão da Paróquia São José, justamente para facilitar o distanciamento social.
As providências que tinham sido tomadas
Segundo declarações do pároco, pe. Paulo Riffel, ao site local Olhar do Vale, a vigilância sanitária do município de Botuverá visitou o salão paroquial na quinta-feira de manhã, “olhou e ajudou a organizar os espaços”. À noite, porém, “sem me comunicar nada, mandaram uma mensagem por WhatsApp que deveria ser cancelado”.
Na sexta-feira, o sacerdote se reuniu com o prefeito: “Conversamos, analisamos, juntamente com o jurídico, e foi então liberada a celebração”. O pe. Paulo destaca que foi respeitado o limite máximo de ocupação de até 30% do espaço para cultos religiosos: seriam usados 312 dos 1.200 lugares disponíveis no local.
De fato, a prefeitura de Botuverá declarou mediante nota:
“Em reunião havida com o Prefeito Municipal, Assessor Jurídico da Prefeitura e o Padre, cogitou-se a realização da missa, considerando-se que a realização de missas e cultos em igrejas ou templos de qualquer culto, bem como qualquer reunião presencial de cunho religioso, estaria condicionada ao cumprimento das regras dispostas”.
O próprio dom Wilson Tadeu Jönck, em nota veiculada pela Arquidiocese de Florianópolis, confirmou que todas as paróquias “são orientadas a seguir as normas lançadas pela autoridade sanitária com referência aos cuidados preventivos com relação à COVID-19”.
Tais cuidados são os exigidos pelo governo do Estado de Santa Catarina, conforme o arcebispo explicita:
“Em todos os lugares de culto, os assentos estão demarcados de acordo com a capacidade estipulada pelos decretos do Estado; é fornecido álcool gel para todos os participantes e é obrigatório o uso de máscara. Nós nos consideramos colaboradores do Estado no seu esforço no combate à pandemia”.
No tocante à celebração em Botuverá, dom Wilson complementa:
“Tudo estava organizado seguindo à risca as normas da autoridade sanitária: distanciamento, lugares demarcados para todos os participantes, fornecimento de álcool gel e todos os presentes usavam máscaras”.
A intervenção em Botuverá
Apesar de todos os cuidados, prevaleceram interpretações que trazem insegurança jurídica pela falta de clareza e uniformidade.
A própria nota da prefeitura, de fato, mesmo tendo reconhecido que a reunião com a paróquia previa o cumprimento dos protocolos sanitários, acaba, porém, acrescentando:
“Não foi este o entendimento do Ministério Público, bem como da Secretaria de Estado de Saúde, por se tratar de ‘evento’, além do entendimento de impossibilidade de garantia de cumprimento das regras vigentes diante do porte do evento”.
A nota da prefeitura (que pode ser lida na íntegra em seu site oficial) prossegue dizendo:
“Infelizmente, na sexta-feira à tarde, a Secretaria de Saúde recebeu a informação de que a cerimônia não seria cancelada. Ainda nesta sexta-feira, a secretária de saúde e a vigilância sanitária estiveram presencialmente na paróquia, na certeza do convencimento deste adiamento ou no mínimo da possibilidade de realização em diferentes momentos, o que também não foi aceito. Diante da recusa, no sábado, o pároco foi oficiado da impossibilidade da realização do evento, porém novamente os alertas foram ignorados”.
Ou seja, a interrupção da Santa Missa se basearia na interpretação de que a cerimônia religiosa deveria ser considerada genericamente como um “evento social”.
Arcebispo detona interrupção de Missa
Dom Wilson reage:
“Causa revolta quando o argumento usado é o de que, pelo fato de a missa ser celebrada no salão, ela se tornava um evento e este era proibido”.
Foi com essa interpretação, conforme o relato do pároco, que a secretária de saúde de Botuverá, Márcia Adriana Cansian, chegou ao salão paroquial com uma equipe da vigilância sanitária e da polícia para interromper a celebração da Santa Missa.
O pe. Paulo comenta:
“Conseguimos levar até o final da crisma, sendo crismados os participantes. Mas na hora da comunhão, foi-nos avisado que iriam entrar com os policiais. Então, o bispo decidiu fazer a oração final, agradecer e dar a bênção”.
Dom Wilson fez questão de enfatizar o que mais o feriu:
“Foi a ordem de interromper a missa. E foram repetidas ameaças de que iriam entrar e acabar com a celebração. Preciso dizer que a celebração da missa não se interrompe na metade. Nos meus mais de 40 anos de sacerdócio, isto nunca me aconteceu”.
O pe. Paulo Riffel definiu o acontecimento como “um atentado contra a fé católica”. E comenta:
“Foram impedidos de comungar. Fico muito triste. O bispo, que é autoridade máxima, em nenhum momento foi notificado ou comunicado antes. Pegaram-no de surpresa”.
Realmente, dom Wilson declarou mediante a nota da arquidiocese:
“Ora, se não se consegue ver a diferença entre uma missa e um baile de carnaval, se torna difícil conversar. Havia uma insistência para se achar um motivo para implicar. Sinceramente, não consigo encontrar o motivo para tal implicância. Mas deve haver um motivo”.
E denuncia:
“Tenho lido nos noticiários que tais fatos acontecem em regiões onde há perseguição contra os cristãos. Aproveitam quando a comunidade está reunida para atacar. Não esperava passar por esta experiência em Botuverá”.
Leia também:
Missa de Crisma é interrompida por policiais e autoridades de saúde