“Guardar ressentimento é como tomar veneno e esperar que a outra pessoa morra.” A frase originalmente aparece no livro A Monk Swimming (1998), do controverso escritor e ator norte-americano Malachy McCourt, conhecido por interpretar sacerdotes católicos irlandeses em filmes como Inimigo Íntimo (1997), Quarta-Feira de Cinzas (2002) e na série Oz (2002-2003). Mas, de tão lúcida, a sentença tornou-se uma espécie de provérbio popular, frequentemente atribuída a William Shakespeare ou Albert Einstein. Pois, se você parar para refletir, perceberá que a mágoa não nos traz nenhuma espécie de alívio, muito menos serve a qualquer propósito de vingança. Ela só faz mal àquele que está magoado.
A mágoa é um sentimento tóxico que nos corrói por dentro e, principalmente, nos impede de seguir em frente, tamanho espaço que ela ocupa em nossas mentes e nossos corações. Como escreveu o escritor moçambicano Mia Couto em seu livro Na Berma de Estrada Nenhuma e Outros Contos (2001): “A espera é uma tecedura, a gente cria presenças com materiais de ausência”. Ou seja, por mais que o ressentimento esteja relacionado a alguém que não esteja mais em nosso convívio, essa ausência se faz presença pelo simples sentimento que se conserva. "Os inimigos que não perdoamos dormirão em nossa cama e perturbarão o nosso sono", escreveu o psiquiatra paulista Augusto Cury, criador da Teoria da Inteligência Multifocal.
A mágoa geralmente advém de quando nosso ego é ferido, diz muito mais respeito àquele que se magoa do que de fato ao causador daquela dor. Ressentir é muito mais uma forma de reprimir um sentimento em vez de assimilá-lo. O passado já passou, o futuro ainda há de ser: o único tempo sobre o qual temos de fato controle e no qual podemos exercer nossas ações é o presente. Mas a mágoa nos aprisiona ao passado, de modo que a única maneira com que podemos ser é nos libertando do que já foi.
Na própria Bíblia são inúmeros os versículos sobre a importância do perdão. Como em Mateus: 21-22: "Então Pedro aproximou-se de Jesus e perguntou: 'Senhor, quantas vezes deverei perdoar a meu irmão quando ele pecar contra mim? Até sete vezes?' Jesus respondeu: 'Eu digo a você: Não até sete, mas até setenta vezes sete'". Se Ele acredita no perdão, quem somos nós para nos colocar em uma posição de superioridade e julgamento? Perdoe a todos que te machucaram. Senão por eles, por você. A pureza no coração e a leveza no espírito valem mais do que qualquer ressentimento.