Relatores da ONU atacam a Santa Sé e são acusados de manipular a sua narrativa e de agir em represália ao Vaticano devido à postura da Igreja contra o aborto. Quem informa sobre o caso é a agência católica norte-americana CNA, do grupo EWTN (Eternal World Television Network), fundado pela Madre Angélica.
A reportagem da CNA registra que um relatório de consultores da Organização das Nações Unidas está acusando a Santa Sé de utilizar os seus acordos internacionais para driblar a própria responsabilidade no tocante aos casos de abusos sexuais perpetrados por indivíduos que são membros da Igreja.
Esta acusação é formulada em um relatório assinado por Fabián Salvioli, Mama Fatima Singhateh, Nils Melzer e Gerard Quinn, apresentados como "relatores especiais" da organização. A ONU define os assim chamados "relatores especiais" como "peritos independentes em direitos humanos" que trabalham em parceria com o seu Conselho de Direitos Humanos. Eles não seriam funcionários da ONU, não falariam oficialmente pela entidade e trabalhariam "em regime de voluntariado".
Entretanto, o próprio fato de publicarem um documento na qualidade de "relatores especiais da ONU" explicita a relação entre a organização e o conteúdo do seu texto.
Pode-se ler no documento assinado pelos quatro relatores:
A agência CNA informa que manteve contato com um funcionário da Igreja que pediu anonimato porque não tem autorização formal para tratar do assunto publicamente. De acordo com a agência, a fonte considera que o relatório dos assim descritos "peritos da ONU" indica uma tentativa de represália contra a Igreja por parte dos promotores da agenda pró-aborto e dos temas "SOGI" (Orientação Sexual e Identidade de Gênero, pela sigla em inglês):
O relatório em questão, publicado em 7 de abril, se baseia numa carta enviada ao Vaticano em abril de 2019 por Maud de Boer-Buquicchio, que, na época, também era "relatora especial" da ONU para casos de tráfico e exploração sexual de menores. O novo documento faz menção também a um comunicado da ONU de dezembro de 2019, no qual a entidade elogiava a decisão do Papa Francisco de não mais aplicar caráter de "sigilo pontifício" à investigação de casos de abusos contra menores e pessoas vulneráveis. Entretanto, os relatores da ONU criticam o fato de que o Vaticano não tenha tornado obrigatório denunciar esse tipo de caso às autoridades civis.
O Vaticano, por sua vez, questiona o conceito de "denúncia obrigatória" porque ele exigiria que os sacerdotes católicos violassem o segredo de confissão. De fato, vários países propuseram leis que impõem essa violação, sendo a Austrália o caso de maior repercussão. O próprio Papa Francisco enfatizou em julho de 2019, porém, que o sacramento da confissão deve preservar a "inviolabilidade absoluta" do que o penitente revela.
Os "relatores especiais" da ONU exigiram que o Vaticano fornecesse "respostas detalhadas" em até 60 dias, período após o qual tornariam público o seu relatório.
O documento também acusa a Igreja de negligência na investigação de "todas as alegações de abuso sexual de crianças e seu encobrimento por parte de clérigos da Igreja Católica em vários países do mundo".
A Santa Sé já expôs a sua posição sobre o assunto em 2014, quando respondeu a outro relatório crítico do Comitê da ONU para os Direitos da Criança. A respeito desse relatório e da resposta vaticana, confira o seguinte artigo de Aleteia publicado na mesma época: