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Qual é a diferença entre perdoar e esquecer?

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Carlos Padilla Esteban - publicado em 13/07/21
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Precisamos aprender a perdoar, mas esquecer a ofensa não é imprescindível

Somos terra sagrada. Mas muitas vezes experimentamos nossa incapacidade para reconciliar-nos, para estar em paz com os outros, com Deus, conosco mesmos. Queremos um coração de criança, um coração limpo, renovado, enamorado.

É um tempo para pedir perdão e para perdoar, para estar em paz com Deus, para perdoarmos a nós mesmos pelas nossas quedas. É um tempo de graça que estamos vivendo. O céu se abre. Chove misericórdia de Deus.

Alguns dizem que não há verdadeiro perdão se não houver esquecimento das ofensas; que é impossível perdoar de verdade quando continuamente voltamos à ferida e alimentamos o rancor; que só esquecendo a ofensa é possível recomeçar.

Mas todos nós sabemos que há lembranças que não se apagam jamais, experiências que ficam gravadas na alma para sempre. A memória guardada no coração nos faz reviver tudo o que acreditávamos já ter esquecido.

Por isso, é necessário diferenciar perdão de esquecimento. Muitas vezes, eles não caminham juntos. Perdoar sempre nos cura. Na verdade, é a única coisa que cura o coração. Perdoar e ser perdoados.

Perdoar é uma graça de Deus, porque humanamente é muito difícil conseguir isso. Quantas vezes nos confessamos incapazes de perdoar quem nos ofendeu! Com quanta frequência percebemos a existência de alguns rancores enterrados na alma, que tiram nossa paz e alegria!

O perdão nos faz levantar-nos e empreender um novo caminho. Reconcilia-nos com a vida, com o mundo, conosco mesmos. Ele nos dá luz, alivia a carga.

O passar dos anos nos deixa feridas na alma. Há ofensas não perdoadas no coração. Precisamos pedir a graça do perdão. Ganha mais quem perdoa que quem é perdoado. Porque, ao perdoar, ficamos mais leves, mais livres. O perdão cura. Perdoar é uma graça de Deus.

Há sentimentos que nos impedem de perdoar. O orgulho, o pensar que temos a razão, o considerar-nos mais importantes do que somos, o fato de exagerar o tamanho da ofensa.

Sentimos que, se perdoarmos, não estaremos dando valor ao que aconteceu. Achamos que somos melhores que os que nos ofenderam, e perdoar nos faz voltar a colocar-nos à sua altura. Por isso, queremos que o outro se humilhe, aprenda uma lição, mude, não volte a ofender.

O perdão está condicionado a uma mudança de atitude de quem perdoa. Perdoamos se o outro se humilha. Perdoamos se o outro compensa o dano causado. Perdoamos se o outro reconhece sua culpa e se torna pequeno. Perdoamos se o outro se compromete a não voltar a fazer a mesma coisa.

Não é fácil perdoar incondicionalmente. Quando colocamos condições para perdoar, pode ser que nunca cheguemos a perdoar totalmente. Sempre resta um resquício para que o rancor entre. Uma porta aberta à amargura, à rejeição.

O perdão é fundamental para viver com paz, para semear alegria, para abrir janelas de luz. O perdão aos outros e a nós mesmos.

Quais são os rancores que você carrega no coração? Neste momento de graça, o que você quer perdoar? Qual é o nome do seu perdão?

Não acho que o esquecimento seja algo tão simples. Na verdade, penso que ele quase nunca é possível. Aquelas feridas do coração, os rancores que nos pesam, são experiências não esquecidas. Como esquecer aquilo que nos marcou para sempre? É realmente muito difícil. Faz parte da nossa história de amor. É como esquecer algo que nos constitui. É parte da nossa própria identidade.

Quando esquecemos, costuma ser porque a ferida foi superficial e a ofensa não foi tão grande. São experiências negativas que ficaram perdidas no passado e não lhes demos muita importância.

A memória é nossa bagagem de mão, sempre vai conosco. E nos serve para enfrentar a vida, para aprender do passado, para conhecer nossa história e agradecer, oferecer o que Deus nos deu. A memória nos ajuda a ir além dos preconceitos que a dor constrói. Precisamos perdoar. Mas esquecer não é imprescindível.

Lembro das feridas da minha vida. Algumas sangram às vezes. São parte do meu caminho. Lembro o dia, o momento. Se começo a recordar, chega a doer. Perdoei, mas continua doendo. Não esqueço do que aconteceu. Mas isso não é tão necessário. Além disso, não é algo que controlo. Por mais que eu queria formatar minha memória, não consigo.

Então, se não posso esquecer, o que posso fazer é que essas lembranças não determinem minha forma de tratar quem me ofendeu. Não posso fechá-lo em sua falta e pensar que sempre vai fazer a mesma coisa. Não posso condicionar minha atitude diante dele, meu carinho ou minha rejeição.

Não posso tratá-lo com certo desprezo ou distância. Não posso desconfiar eternamente das suas intenções e pensar que não vai mudar. Não posso julgá-lo e afastar-me da sua presença. Não posso desejar que ele sofra o que eu mesmo sofri. Preciso construir sobre essa rocha, sobre a minha história.

Não posso fazer a lembrança desaparecer. Mas posso decidir como agir, como tratar quem Deus coloca em meu caminho novamente, como vou confiar nele, ainda que já tenha me falhado. Não é fácil, mas é o caminho da paz e da unidade.

Quantas divisões se tornam profundas porque não sabemos recomeçar! Quantas vezes a unidade não é possível porque nos falta humildade para perdoar! Falta coragem para tratar o outro como se nada tivesse acontecido, sem recordar-lhe continuamente o que ele fez, sem jogar na cara suas misérias.

Há pontos da nossa história que são difíceis. Feridas que não acabamos de aceitar. Coloquemos tudo nas mãos de Deus e de Maria. Não se pode esquecer, mas é possível recomeçar.

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