A moda atual da meditação é motivo de regozijo e, ao mesmo tempo, de preocupação, pois ela pode assumir uma forma narcisista. No livro em francês Pourquoi la méditation ne suffit pas ("Porque não basta meditar"), o padre Bernard Minvielle defende que a meditação deve estar aberta à oração para ser uma verdadeira libertação interior.
A equipe da Aleteia em francês entrevistou o autor. Confira!
Aleteia: O que o motivou a escrever este livro?
Bernard Minvielle: Nos últimos doze anos, tenho ensinado a história da espiritualidade para estudantes de teologia. Que sorte descobrir sempre um tesouro de tamanha riqueza! Permanece para mim uma fonte de admiração e alegria. Mas que tristeza também notar que nossa herança comum é tão desconhecida! Vá às grandes livrarias e navegue nas prateleiras dedicadas à espiritualidade. Os mestres orientais eclipsam Francisco de Sales, ou Inácio de Loyola. Compreendi, assim, a importância da meditação e entrei em diálogo com ela e seus grandes autores. Eu queria me juntar aos seus praticantes, responder aos seus preconceitos em relação ao Cristianismo e, acima de tudo, deixar esses fascinantes místicos cristãos falarem. São as melhores testemunhas e os defensores mais credíveis do encontro com Deus. Sonhei com um livro acessível a todos, mas que conduzisse ao coração da experiência cristã.
A meditação está atualmente desfrutando de uma popularidade considerável. É praticada em hospitais, escolas, empresas. Como você analisa esse sucesso?
Vários elementos trabalham a favor. Por suas origens, a meditação é uma prática budista secularizada. Assim, evoca um modo de vida zen, ao mesmo tempo relaxante e sem restrições morais ou de dogmas. Isso está muito em sintonia com os tempos. A meditação também conta com amplo respaldo científico. É comumente apresentada como uma prática benéfica para a saúde mental. Acima de tudo, obtém bons resultados na redução da ansiedade ou no equilíbrio de vidas excessivamente estressadas.
Devemos vê-la como manifestação do narcisismo contemporâneo e da busca pelo bem-estar?
Acontece, sim, que a meditação seja praticada com este espírito, ainda que os mestres da meditação convidem a mais gratuidade e altruísmo. O individualismo generalizado da cultura ocidental a polui - como muitas outras atividades. Mas acho que também podemos olhar para isso com simpatia e grande interesse.
Em que sentido?
Em muitos aspectos, é uma reação saudável à nossa falta de silêncio, lentidão e vida interior, uma reação à invasão das telas e ao consumismo. Resumindo: uma recusa de horizontes muito superficiais ou existências muitas vezes ligadas em modo "piloto automático". A meditação ensina você a parar e estar totalmente presente em cada momento de sua existência, ao seu ambiente e às pessoas. Como tal, não é incompatível com uma vida autenticamente cristã e pode ajudar a encontrar um melhor equilíbrio humano. Em muitos de nossos contemporâneos, sem fé ou cultura religiosa, ela também tende a se tornar uma espiritualidade substituta. Em muitos casos, ele expressa uma busca espiritual que não diz seu nome.
Não é uma forma de renúncia ou de amnésia em relação à herança espiritual cristã?
Sim, claro! Mas antes de mais nada vejo nela uma provocação, um apelo silencioso dirigido a nós, a nós fiéis. Não é normal que, aos olhos de muitos, o silêncio, a meditação e o jejum evoquem os monges budistas mais do que a imensa herança espiritual da Igreja. Depende de nós tonar essa herança conhecida e, antes de tudo, vivê-la e torná-la atraente.
Como a meditação e a oração se unem e se diferem ao mesmo tempo?
Tanto numa como na outra, o homem para, senta-se, cala-se, volta para dentro de si e está presente ao que está ali. A meditação pode, portanto, tornar-se uma eclusa de ar que nos introduz na oração. Entre meditação e oração, portanto, não há oposição, mas a perspectiva, a ação, as intenções são totalmente diferentes. Se ambas apelam à nossa interioridade, a oração descobre ali a presença da Hóstia interior; então se torna relação, troca, comunhão. Consente definitivamente com a alteridade e nos faz sair radicalmente de nós mesmos.
Por que você se volta mais especificamente para os mestres do Carmelo nestas páginas? O que eles têm a nos ensinar?
A primeira razão é minha proximidade com eles. Mas também existem razões mais objetivas. Em primeiro lugar, sua diversidade. Eles contribuem para a sua universalidade: Teresa de Ávila e João da Cruz (espanhóis do século XVI); Teresinha do Menino Jesus e o Padre Marie-Eugène são franceses, Édith Stein é judia, alemã e filósofa. Todos os três estão mais próximos de nós no tempo. Seu ensino e seu testemunho são adequados para uma primeira descoberta, bem como para leitores muito avançados. Como o Evangelho, eles vão ao cerne das coisas sem nos sobrecarregar com várias instruções ou conselhos complexos. São ótimos educadores e sabem apoiar o crescimento de todos com paciência e confiança. Acima de tudo, descobriram o quanto Deus os amava, antes de se tornarem amantes contagiantes.