Estamos na Semana das Santas Chagas! Já estamos na sexta edição desta Festa que é uma torrente de graças de cura e libertação pelas Santas Chagas de Jesus. Quando resolvi abraçar esta devoção, uma das primeiras preocupações foi em criar um Ícone de Jesus das Santas Chagas, porque nós somos muito dos sentidos: o ver, o tocar.
A iconografia cristã tem por objetivo principal retratar o mistério de Cristo, da Igreja, dos Santos. As cores e gestos retratados nas figuras cristãs colaboram para a apresentação do mistério de Deus entre os homens. No tocante a Cristo, seus gestos, palavras e cores também seguem uma tradição que auxilia o fiel encontrar a própria profissão de fé, a incluir-se no mistério e nesse mistério encontrar a possibilidade de um encontro com Deus.
No ícone retratado de Jesus das Santas Chagas, o Senhor aparece em pé. Recorda a manifestação apocalíptica para o Apóstolo e evangelista João: “estive morto, mas eis que vivo para sempre” (Jo 1,18). As cores pelas quais as vestes são representadas seguem o perfil adotado pela escola iconográfica do Mosteiro da Ressurreição em Ponta Grossa, que possui grande referência na pessoa de D. Ruberval Monteiro – OSB, cujas obras encontram-se espalhadas ao longo do território nacional e no exterior, sobretudo na Itália.
Neste aspecto, a Abadia da Ressurreição faz uma síntese a respeito dos tons, uma vez que as escolas iconográficas antes do ano 1000 d.C. período da unidade eclesial, tanto o azul como o vermelho remetiam às mesmas realidades. O azul ao mesmo tempo que é a cor do cosmos, do criado, é a cor do Criador, símbolo Dele. O vermelho apresenta a realidade do sangue e da paixão, do humano que é sacrificado, do martírio e também é a cor da realeza, do poder. Assim, fica entendido que tanto no azul como no vermelho aparecem os símbolos da humanidade e da divindade.
A concepção vai ganhar definição a partir da túnica de Cristo. Estando de vermelho, entende-se a divindade. Cristo é Deus, que está coberto com o manto da humanidade. No dourado ou ouro, as tradições do oriente, bizantina e russa, atribuem a iluminação e o esplendor da eternidade. Amarelo e ouro assumem no conjunto iconográfico a iluminação da Luz de Deus.
As chagas apresentam as feridas físicas da paixão, mas agora transfiguradas pela Ressurreição. Estando com os pés calçados, encontramos o sinal da encarnação. É próprio do homem vivente os calçados. Espíritos e mortos não necessitam da proteção para os pés. A cruz, instrumento de maldição e morte, agora dourada e resplandecente. A cruz está exaltada, sendo transformada em estandarte da vitória.
A pedra do sepulcro não é mais empecilho para Cristo. Ela está atrás dele, menor que ele, sendo apenas mera memória de um cárcere mortuário incapaz de reter em si a vida que resplandece com a força da ressurreição. Olhos bem abertos, sinal que tudo vê, tudo perscruta e tudo conhece. Olhar de frente, longe de qualquer temor.
Mão estendida focando a chaga e o convite à aproximação. Mão erguida indicando a vitória e a bênção. Pisando sobre o esquife da morte, este também se torna pequeno e passageiro, submetido aos pés chagados e gloriosos. Cingido de uma faixa dourada, Cristo ostenta a eternidade daquele que É, que era e que vem.
Assim, a iconografia em seus símbolos abrem as portas à catequese, à promessa eterna e ilimitada de um Deus que sendo eterno entra no tempo dos homens. O limite humano de Cristo permite a eternidade do homem, permite uma admirável troca. Ou seja, Cristo tomando nossa humanidade nos dá sua divindade.
Por fim, convido todos a mergulharem comigo nesta devoção, que Santo Agostinho, São João Crisóstomo, São Bernardo, São Boaventura, São Tomás de Aquino, São Francisco de Assis, São Pio de Pietrelcina e tantos outros santos de nossa Igreja se dedicaram com especial zelo.
Jesus das Santas Chagas nos ensina que, por meio de suas chagas, somos curados, somos evangelizados, somos evangelizadores. Nos ensina que quando tocamos seu lado, podemos abandonar a incredulidade, como fez Tomé. Ensina ainda que ao tocar suas chagas, podemos experimentar a alegria da Ressurreição.