Cientistas manifestam preocupação com a Neuralink, empresa de Elon Musk para chips no cérebro. Segundo o megaempresário, que disputa com Jeff Bezos o título de homem mais rico do planeta na atualidade, os implantes cerebrais em voluntários humanos vão começar ainda este ano.
Entre as dúvidas já manifestadas explicitamente por cientistas, há questionamentos sobre bioética, segurança, uso de dados e o próprio futuro dos chips implantados depois que os testes terminarem.
A promessa fundamental de Elon Musk para justificar a existência da Neuralink é ajudar no tratamento de pessoas com deficiências, particularmente as vitimadas pela paralisia: graças ao chip implantado no cérebro, elas poderiam, potencialmente, usar sua atividade neural para operar computadores e smartphones "com facilidade". O bilionário já complementou que os microchips também ajudariam a tratar pessoas com autismo e com esquizofrenia.
Em janeiro de 2022, o jornal britânico The Times noticiou que a companhia criada pelo mesmo fundador da Tesla e da SpaceX está recrutando grandes talentos da medicina e da engenharia. Os testes da Neuralink em voluntários humanos teriam duração aproximada de três anos e consistiriam na implantação de microchips de inteligência artificial no crânio dos participantes. Caso o paciente não deseje mais utilizar o equipamento, que tem o "tamanho de uma moeda grande" e é conectado ao cérebro por fios ultrafinos, poderá "facilmente" removê-lo, segundo afirmações da empresa.
A Neuralink informou ainda que já realizou testes num macaco chamado Pager, que conseguiu mexer um cursor numa tela de computador graças ao uso do chip, e que teria "coletado dados" de uma porca chamada Gertrude, em cuja cabeça também havia sido implantado o chip.
Chips no cérebro: cientistas preocupados
De acordo com matéria do site The Daily Beast, a especialista em neuroética Laura Cabrera, da Universidade Estadual da Pensilvânia, questiona como serão removidos os implantes sem danificar o cérebro. "Se der errado, não temos a tecnologia para ‘explantá-los’". Ela pergunta ainda qual é a vida útil do chip e se a Neuralink oferecerá atualizações posteriores aos participantes nos testes.
Karola Keritmair, professora de história médica e bioética na Universidade de Wisconsin-Madison, se preocupa com futuros dilemas comerciais dessa tecnologia: se o objetivo do implante é ajudar pessoas com deficiência, então se trata de um universo de usuários relativamente pequeno, em termos de viabilidade comercial. Se houver problemas de lucratividade e a empresa encerrar as atividades, o que acontece com quem implantou o chip?
No caso de se usar o chip para controlar outros dispositivos apenas com o cérebro, como, por exemplo, carros elétricos da própria Tesla, surge então o problema ético de usar pessoas com necessidades reais para o ganho comercial de terceiros, como observa L. Syd Johnson, do Centro de Bioética e Humanidades da Suny Upstate Medical University. Ele também se pergunta se os alegados objetivos terapêuticos da empresa são de fato viáveis ou não passam de "promessas irreais", já que, a seu ver, a tecnologia está "longe de ter a capacidade" de curar a paralisia, por exemplo.
Outra pergunta recorrente entre os críticos da Neuralink diz respeito ao uso dos dados coletados a partir do cérebro dos usuários e o
que vai acontecer com esses dados em caso de aquisição da Neuralink, falência ou até invasão do dispositivo por hackers.
No geral os cientistas que se manifestaram com esses questionamentos afirmam que não são necessariamente contrários a essa tecnologia, mas sim cautelosos quanto a possíveis abusos e lacunas de segurança. De fato, o potencial desse tipo de implante para melhorar a vida de pessoas paralisadas é relevante - e a Neuralink não é a única empresa que está trabalhando em interfaces neurais. As implicações éticas, no entanto, não podem ser negligenciadas.
Empresas dispostas a reformular a biologia humana?
Dentro do que parece ser uma tendência de investidores bilionários a interferir na genética e nas funcionalidades naturais do corpo humano, o homem mais rico do mundo, Jeff Bezos, também divulgou recentemente um investimento de 3 bilhões de dólares na startup Altos Labs, que anunciou o objetivo de desenvolver tecnologias para retardar drasticamente o envelhecimento e até mesmo “derrotar a morte”. Saiba mais: