Quando se está casado há várias décadas, pode-se viver em uma rotina. Os cônjuges passam os dias de forma quase vazia. Vivem resignados na monotonia, sem esperança de mudança. A convivência passa a ser silenciosa.
Outras vezes, essa convivência pode se tornar até desagradável, pois as censuras saltam recorrentemente e a mochila de dor acumulada pelos erros passados fica muito pesada.
O Instituto Coincidir acompanha muitos casais nessa situação. Antes da pandemia, eles procuravam ajuda para resolver seus problemas de convivência, pois a aposentadoria de um ou de ambos os fazia enfrentar um ritmo de vida diferente. Como resultado do confinamento, a situação de doença, incerteza e dor que vivemos passou a cobrar o seu preço aos casais.
Mas essa realidade também permitiu que muitas pessoas repensassem seu relacionamento e quisessem lutar para viver o casamento de forma mais plena.
O Papa Francisco disse:
Ser capaz de olhar para trás e descobrir certos erros ao gerenciar nosso relacionamento e nossa convivência é uma oportunidade de ouro para aproveitar esse tempo.
Para entender a outra pessoa necessitada, precisamos saber olhar além do que parece estar lá, à primeira vista. É como pegar uma lupa e aprender a focar, descobrindo a realidade à nossa frente, vendo-a de uma forma diferente.
Descubra o que a outra pessoa precisa
Uma vez que observamos, somos capazes de descobrir a verdadeira necessidade da outra pessoa. Às vezes, uma resposta ruim ou uma reclamação pode ser o reflexo de uma necessidade insatisfeita (chamar atenção, dor, sentir-se amado, pedir apoio quando me sinto inseguro, etc...).
Outras vezes, um longo silêncio ou um olhar duro pode refletir um sentimento de tristeza, raiva ou incerteza que não sabemos expressar em palavras.
Só nessa observação atenta descobrimos recantos escondidos do nosso parceiro que nos permitem reconhecer aquela pessoa que outrora conquistou os nossos corações.
40 anos depois...
É aí que, apesar dos hobbies que se pode ter, do mau humor, da deterioração física causada pela doença ou pela passagem do tempo, pode-se começar a viver mais plenamente o casamento depois de 40, 50 ou mais anos de relacionamento.
A chave não é ficar tanto no negativo, mas descobrir, entender e compartilhar o que nos preocupa, nos preocupa ou nos faz felizes. Talvez neste momento possamos pensar que já nos conhecemos. Claro que sim, mas não conhecemos nossa esposa ou nosso marido nessa idade, com essa bagagem e com esse constante desenvolvimento que o ser humano tem.
Aprender a olhar para meu marido ou esposa e entendê-los requer um ato de vontade. É uma demonstração de que quero amá-lo em sua necessidade, mesmo quando não a compartilho. É me colocar no lugar dele e caminhar com ele ou com ela. Aprendemos a dizer coisas uns aos outros, mas dizendo-as com amor e respeito, não para calar a boca. Saber pedir desculpas e perdoar. Um teste desse amor maduro, que, como um bom vinho, melhora com o tempo, mas é preciso saber beber na hora certa.
Um diálogo, em que sentido?
O entendimento entre duas pessoas é fruto de um diálogo maduro. De um diálogo interior comigo, conhecendo-me e aceitando-me na minha imperfeição. E de um diálogo externo com meu marido ou esposa, conhecendo e aceitando o outro em sua imperfeição.
Consciente da nossa imperfeição
É nesta caminhada juntos, apesar das dificuldades, que podemos continuar a descobrir a beleza do nosso casamento. Vemos o verdadeiro significado que cada situação tem, dialogando construtivamente com nosso marido ou esposa. Apesar de nossa imperfeição humana, é possível viver nosso relacionamento de forma mais plena por mais que os anos passem desde o nosso sim no dia do casamento.