"Operação militar especial" é o desconcertante termo eufemístico imposto pelo governo de Vladimir Putin às narrativas oficiais da Rússia para referir-se à guerra que o seu exército está promovendo em território da Ucrânia.
O governo russo vem ameaçando e prendendo seus próprios cidadãos que protestam contra a guerra. Só neste domingo foram cerca de 4 mil prisões de manifestantes. População, imprensa e, obviamente, quaisquer membros de qualquer esfera do governo russo estão explicitamente proibidos de usar o termo "guerra" para descrever o que está sendo perpetrado na Ucrânia, sob pena de até 15 anos de cadeia pelo alegado crime de propagar "fake news" caso chamem a guerra daquilo que ela é.
A postura de Vladimir Putin exemplifica de modo retumbante o que é um governo autoritário, ainda que supostamente democático e eleito pela população, e quais são as consequências da intervenção estatal no controle da mídia, ainda que alegadamente "justificada" pela desculpa de "combater fake news".
As ameaças de Putin contra quem questiona a sua assim descrita "operação militar especial", no entanto, não calaram o Papa Francisco.
"Trata-se de guerra"
Em sua tradicional alocução do Ângelus neste I Domingo da Quaresma, 6 de março, o pontífice afirmou sem panos quentes que a guerra da Rússia contra a Ucrânia não é apenas uma "operação militar especial", mas sim uma "guerra" de fato, com todo o horror que este fato significa para a população.
Como medida concreta e urgente de assistência, Francisco reforçou o pedido de que sejam criados e respeitados corredores humanitários nas áreas em conflito, assim como acesso facilitado de ajudas à população que está nessas regiões.
Reconhecimentos
O Papa fez questão de agradecer ainda a todas as pessoas que estão empenhadas em ajudar e acolher os refugiados de guerra:
Francisco fez menção especial também aos jornalistas, voltando a afirmar que eles estão cobrindo uma guerra e não apenas uma operação militar:
Durante o Ângelus, o Papa observou a presença de bandeiras ucranianas entre o público na Praça de São Pedro e rezou com os fiéis uma Ave-Maria dedicada a "Nossa Senhora Rainha da Ucrânia'.
Ações concretas da Igreja pela paz
Ao encerrar sua alocução, Francisco reafirmou que a Santa Sé está disposta a empregar seu máximo empenho pela obtenção da paz. O próprio Papa, de fato, já foi pessoalmente até a embaixada da Rússia perante o Vaticano para interceder pelo fim da guerra. Ele também se prontificou a ser o mediador entre as partes para ajudá-las a estabelecer o cessar-fogo e a retomada de negociações diplomáticas. Neste domingo, Francisco informou que enviou dois cardeais à Ucrânia para facilitar as ajudas da Igreja ao povo local.