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Bispo e padres continuam presos pela ditadura da Nicarágua

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Francisco Vêneto - publicado em 24/08/22
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Um deles passou mal durante o sequestro na cúria: ele sofre com hipertensão, diabetes e problemas na coluna

Um bispo e pelo menos quatro padres continuam presos pela ditadura da Nicarágua desde a madrugada da última sexta-feira, 19, quando a polícia do regime de Daniel Ortega invadiu a casa episcopal da diocese de Matagalpa e levou dom Rolando Álvarez e os padres José Luis Díaz, Ramiro Tijerino, Raúl González e Sadiel Eugarrios, além dos seminaristas Darvin Leyva e Melquín Sequeira e do cinegrafista Sergio Cárdenas.

Todos os oito haviam passado 15 dias sob uma espécie de sequestro domiciliar, enquanto o regime mantinha a cúria sob cerco policial. No dia 19, por volta das 3 horas da madrugada, os agentes invadiram a casa episcopal e levaram o bispo preso juntamente com o restante do grupo, sob a alegação de que eles estariam desempenhando “atividades desestabilizadoras e provocativas”.

A organização nicaraguense Observatório Pró-Transparência e Anticorrupção denuncia que a invasão policial à cúria de Matagalpa viola a Constituição e o Código Processual Penal, que estabelecem que a invasão domiciliar só pode ser feita “entre as seis da manhã e as seis da tarde”.

Uma das vozes mais reconhecidas do Observatório é a da pesquisadora e advogada Martha Patricia Molina Montenegro, autora de um minucioso relatório que registra os cerca de 200 ataques sofridos pela Igreja Católica na Nicarágua em menos de 4 anos, sob o atual governo de Ortega – e este levantamento constitui somente a primeira parte de uma série de relatórios que Martha Patricia vem elaborando.

O comunicado da Polícia Nacional sobre a prisão de dom Rolando afirma que os agentes “esperaram durante vários dias, com muita paciência, prudência e senso de responsabilidade, uma comunicação positiva da diocese de Matagalpa, que nunca aconteceu”. A nota diz também que as pessoas retiradas da cúria na madrugada do dia 19 “foram transferidas, com respeito e observância de seus direitos, para a cidade de Manágua para investigações legais”. Por fim, complementa que “o senhor bispo se mantém em proteção domiciliar nesta capital e pôde encontrar-se com seus familiares”.

Quanto aos padres e leigos que a ditadura da Nicarágua também levou da cúria de Matagalpa, a informação é de que estão detidos no presídio de El Chipote, tristemente conhecido como local de tortura.

Em nota veiculada neste domingo, 21, a Equipe Regional de Monitoramento e Análise de Direitos Humanos da América Central exigiu a “libertação imediata” dos padres, dos seminaristas e do cinegrafista, bem como respeito à "sua integridade física e psicológica".

Sua situação, de fato, é preocupante também do ponto de vista da saúde física. O pe. Ramiro Tijerino, que é reitor da Universidade João Paulo II, passou mal durante o sequestro na cúria: ele sofre com hipertensão, diabetes e problemas na coluna.

Consta que um quinto sacerdote também foi preso: o pe. Oscar Benavidez, da paróquia do Espírito Santo em Mulukukú, na diocese de Siuna. O episcopado local afirmou desconhecer "as causas ou razões da sua prisão" e esperar "que as autoridades nos mantenham informados" - o que não aconteceu. Sem esclarecer os motivos, o Ministério Público, sob controle de Ortega, havia pedido 90 dias de prisão para o sacerdote, também levado para o presídio de El Chipote.