Em 25 de maio de 2023, o cardeal Leopoldo José Brenes Solórzano, arcebispo de Manágua, tentou acessar a conta bancária da arquidiocese. Não conseguiu. Na véspera, já circulavam relatos de párocos nicaraguenses que também não conseguiam acessar os recursos de suas paróquias.
Em 26 de maio, o ativista Félix Maradiaga, opositor do regime de Daniel Ortega e exilado nos Estados Unidos, divulgou o que estava acontecendo em seu país de origem:
"O bloqueio começou em duas das dioceses mais importantes da Nicarágua: a de Matagalpa, no norte, e a de Estelí. A diocese de Matagalpa é a minha própria diocese, precisamente a do nosso bispo dom Rolando Álvarez, que foi injusta e arbitrariamente condenado a 26 anos de prisão. Outras contas bancárias de organizações católicas, como escolas, universidades e centros para pessoas vulneráveis, também foram congeladas. Por exemplo, na capital da Região Autônoma da Costa Caribe Sul, na cidade de Bluefields, algumas organizações católicas também receberam a mesma notificação do sistema financeiro nacional".
A pesquisadora Martha Patricia Molina, autora do abrangente estudo "Nicarágua: Uma Igreja Perseguida?", registrou que já haviam ocorrido congelamentos prévios, mas nunca "de forma tão massiva".
Em paralelo ao sequestro bancário, a polícia do regime sandinista divulgou uma tentativa de justificativa da medida arbitrária: alegadas investigações teriam descoberto "centenas de milhares de dólares escondidos em sacolas nas instalações de diferentes dioceses do país". Tais sacolas, sempre segundo o regime ditatorial, estariam cheias de dinheiro oriundo de "roubo de recursos de contas bancárias que tinham sido congeladas por fazerem parte de uma rede de lavagem de dinheiro".
Completando a narrativa, mas sem apresentar provas concretas de nenhuma dessas gravíssimas acusações, o regime aproveitou a oportunidade de reforçar a pecha que vem procurando impingir ao clero nicaraguense desde pelo menos os protestos populares de 2018: que os bispos e padres da Nicarágua são basicamente "traidores da pátria".
A polícia sandinista acrescentou que "a Superintendência de Bancos solicitou à Conferência Episcopal da Nicarágua e ao Chefe da Igreja Nicaraguense, Sua Eminência o Cardeal Leopoldo Brenes, a apresentação de documentos que comprovem a movimentação das contas bancárias das Dioceses, para que cumpra as leis do país, evitando os atos ilícitos que vêm sendo cometidos".
Segundo o blog italiano Il Sismografo, o cardeal Brenes foi notificado da suspensão das contas, mas não da acusação de lavagem de dinheiro. Em declarações ao portal nicaraguense Despacho 505, dom Brenes relatou que soube das acusações pela imprensa:
"Estamos vendo apenas as notícias. São as primeiras notícias que temos (…) Estamos analisando. Os bispos vão apresentar suas contas ao povo, como estão os trabalhos. Quando nos ligarem, estaremos prontos para informar".