“Vosso Pai sabe o que vos é necessário, antes que vós o peçais” (Mt 6, 8). Se Deus sabe tudo aquilo que temos necessidade antes mesmo que o peçamos, para que servem então as nossas orações de intercessão?
É claro que a oração não é um tipo de “poder” que o homem recebe de Deus. Orar não é recitar ou inventar uma espécie de “abracadabra” que permitiria moldar tudo de acordo com os nossos medos ou desejos. Nesse ponto, o ensinamento de Cristo é claro: “Nas vossas orações, não multipliqueis as palavras, como fazem os pagãos que julgam que serão ouvidos à força de palavras.” (Mt 6, 7). Por mais paradoxal que pareça, a oração não age em Deus, mas em nós.
É por isso que o apóstolo nos exorta a orar sem cessar (1 Ts 5, 17). Constantemente, temos que nos voltar para Deus, abrir-nos à sua presença, ouvi-lo, apresentar-lhe nossa vida e a de nossos irmãos, para nos unir à sua vontade. Por trás de qualquer pedido em particular, há, portanto, um pedido básico, que é o nosso desejo por Deus. Caso contrário, corremos o risco de nos estabelecer em uma contradição espiritual muito frequente, que mata a vida espiritual e que consiste em esperar de Deus todos os tipos de coisas. Uma armadilha tola, pois no final não esperamos nada dele.
Deus fica feliz quando oramos
São João da Cruz nos adverte: “devemos preferir o Deus das graças, às graças de Deus”. Com isso em mente, devemos ouvir as primeiras palavras de Jesus no quarto Evangelho. O que você está procurando? Estamos ansiosamente procurando por tantas coisas! Ele mesmo dá a resposta certa: “Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça e todas estas coisas vos serão dadas em acréscimo” (Mt 6:33). Isso também lança luz sobre o significado justo de nossas “intenções” de oração.
Podemos facilmente pedir a Deus mil coisas, tanto a respeito de questões vitais como quanto a detalhes minuciosos, desde que essas coisas tenham uma conexão direta ou indireta com a glória de Deus. Como Santo Agostinho disse no final de sua carta a Proba sobre a oração: “você pode pedir tudo, desde que esteja dentro dos pedidos do Pai Nosso”. A oração que Deus ouve é, finalmente a própria oração de Cristo, que se torna nossa: “Que seja feita a tua vontade!”. Por fim, para que possamos voltar à pergunta original: por que expressar nossos pedidos, já que o Pai Celestial sabe o que seus filhos precisam antes mesmo deles dizerem e, porque ele sempre quer dar o melhor a eles?
Podemos responder que esse Pai não é paternalista. Ele não quer nos salvar sem nós, muito menos a despeito de nós. Ele fica feliz quando a gota de água do nosso amor, do nosso engajamento, incluindo o nosso compromisso na oração, é adicionada. Ou ainda mais, se une ao poderoso rio da oração pura e perfeita do seu Filho amado. Quando oramos em Seu Nome, o Espírito intercede por nós segundo a vontade de Deus.
Padre Alain Bandelier