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Os avós, pontos de referência essenciais para as crianças

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Edifa - publicado em 21/09/20
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Os avós desempenham um papel insubstituível e importante nas famílias. Mas qual é o seu lugar de direito, como podem transmitir sua vida de fé, sua cultura e valores familiares aos netos, sem substituir os pais?

Quem pode esquecer a presença e o testemunho dos avós?”, recordou o Papa Bento XVI em 2008. No passado, os avós ocupavam um lugar essencial no núcleo familiar, muitas vezes compartilhando o lar. Com uma expectativa de vida menor do que a atual, aproveitávamos a chance de viver e aprender com os nossos avós ou avôs porque isso era raro. Hoje as pessoas vivem mais, as gerações não convivem mais sob o mesmo teto, o modelo de família mudou. O que acontece então com os avós nesta nova configuração?

Não substituir os pais na educação das crianças

Os avós têm um lugar mais essencial do que nunca, considera o padre Yannik Bonnet: “Devido ambos os pais precisarem trabalhar, a presença dos avós é muitas vezes necessária, mas, continua, é muito mais complicado do que antes”. Os avós sofrem por serem tratados muitas vezes como prestadores de serviços e, às vezes, por sofrerem chantagem emocional das crianças. Os avós de hoje são chamados a estar 100% disponíveis, mesmo quando ainda são ativos e muitas vezes estão cheios de compromissos após a aposentadoria. São cobrados de estarem atualizados de tudo, mesmo à medida que envelhecem; e acolher na própria família situações que vão contra as suas convicções mais profundas e que os ferem. Como se posicionar nesses casos? Maria e Marcos, Martinha, Francisca, Brigitte e José, Elisabete e Hugo, de 52 a 73 anos, representam a diversidade de situações dos avós de hoje. Todos, independentemente das dificuldades, falam da alegria que os netos lhes trazem.

Francisca, que tem cinco filhos casados ​​e quatorze netos, explica: “A vida é uma dádiva e nós nos tornamos mais conscientes disso à medida que envelhecemos; a única coisa que importa é amar, e como só vemos os netos ocasionalmente, nos concentramos nesses momentos. Por isso, mesmo que a sua situação seja delicada, rejeitem o termo sofrimento”. “Sofremos quando os nossos filhos sofrem”, afirmam Marcos e Maria, que tem quatro filhos – sendo uma das filhas divorciada e novamente casada, e uma nora que se recusa a vê-los – e cinco netos. Martinha possui três filhos, um dos filhos mora junto sem ter contraído matrimônio, e eles também têm uma neta não batizada. Embora ela mesma viva em Cristo, observa: “É uma grande falta para mim”. Da mesma forma, Francisca, que lamenta que três de seus netos não sejam batizados, fala abertamente sobre isso com sua filha, sem procurar lhe dar lições de moral.

Todos eles veem seu papel na disponibilidade, hospitalidade e doação. Eles consideram mais do que normal pôr-se a serviço, embora também saibam como estabelecer limites. Para Brigitte e José, é importante reservar tempo para eles mesmos e, acrescentam, “não se deve e não se pode substituir os pais”. Marcos e Maria adotaram a mesma regra, exceto em emergências; também decidiram ser testemunhas da misericórdia e acolher todas as situações familiares. Apenas Brigitte e José podem se alegrar por não ter encontrado qualquer obstáculo com relação a este assunto, com seus dois filhos casados ​​e seus oito netos, todos batizados – esses avós entenderam bem que não podem substituir os pais na educação dos netos, conforme confirma o Padre Bonnet.

Ame sem contar, sem julgar e sem esperar nada em troca

Francisca, como Martinha, no entanto, impõe certas regras em casa e tem o cuidado de fazer cumprir as regras estabelecidas pelos próprios pais. Por isso, Francisca nunca tem doces em casa, pois acha que os filhos não vão gostar. Da mesma forma, Martinha tem o cuidado de não intervir quando os pais estão presentes, principalmente durante as refeições, onde atende, sem contestar, aos caprichos da neta; por ter tido ela mesma uma mãe muito invasiva, ela sabe o quanto é importante respeitar a liberdade de seus filhos.

Acolher incondicionalmente, portanto, não significa dar todo o seu tempo, nem querer preencher as lacunas dos pais. Receber noras e genros de outra religião também não é fácil, admitem Hugo e Elisabete, que têm cinco filhos casados ​​e catorze netos: “Com o meu genro, foi sobretudo a diferença na educação que tive dificuldade em aceitar; com minha nora, é o materialismo que me incomoda. Contudo, agarrei-me ao fato de que eles fazem meus filhos felizes”, explica Hugo. “Com os nossos netos”, continua Elisabete, “procuro acolhê-los sem julgá-los, amá-los sem dar preferência a um ou a outro. Não dar opinião não é fácil, como experimentamos quando uma de nossas filhas, com o marido e três filhos, precisou morar conosco por alguns meses. Guardamos muitas coisas em nosso coração e silenciamos”, lembra ela, rindo.

Amar sem contar, sem julgar e sem esperar nada em troca, é a regra que esses avós se propuseram, mas eles sabem que também têm a delicada tarefa de transmitir. “Este é na verdade o seu papel fundamental”, lembra-nos o Padre Bonnet, “mas isto exigirá conselhos e não ordens”. É exatamente assim que Francisca faz: “Quando pedimos algo aos nossos netos, tudo é feito numa atmosfera bem diferente da casa dos pais, porque nós temos muito mais tempo para explicar o porque das coisas”. “Eles entendem direitinho”, observou Maria, “e isso lhes faz bem; é uma forma de aprender que existem padrões diferentes em famílias diferentes”. A questão também é saber o que transmitir; porque, como observou o padre Bonnet, os mais jovens geralmente ouvem mais atentamente os avós do que os próprios pais. Assim, os mais velhos podem ser verdadeiros apoios para os mais jovens, desde que os ouçam e os questionem sabiamente, em vez de querer doutrina-los. Acima de tudo, portanto, significa transmitir uma experiência de vida que pode ajudar os netos a fazer suas próprias escolhas. E isso também se aplica à fé.

Testemunhe a sua fé através do seu estilo de vida

Temos que ser testemunhas do amor de Deus, respeitando a realidade de cada um”, diz Francisca. Este é um grande desafio: “O respeito pelas convicções dos nossos filhos não me impede de anunciar Cristo”, diz Martinha. Ela ainda acrescentou: “Ele morreu por nós, então não temos o direito de ficar calados na frente dos nossos netos; mas devo ter certeza de fazê-lo com o consentimento de seus pais”. As dificuldades que encontrou com o relacionamento de seu filho, paradoxalmente, fortaleceram sua fé, em vez de diminui-la.

Genevieve, 86 anos, ainda detalha: “Claro, não podemos dar lições de moral, pelo contrário, o meu testemunho vem da minha forma de viver. E então poderemos sempre dizer: em minha longa vida, a minha fé sempre foi a minha força! E mesmo tendo passado por momentos de angústia e tristeza – porque você não pode atingir a minha idade sem ver os entes queridos partir – ela também é minha alegria, provavelmente por causa da esperança”.

Para Maria, procurar uma forma de superar a dificuldade em anunciar foi um estímulo para enraizá-la mais em Deus: “As dificuldades vividas nas casas dos meus filhos obrigaram-me a procurar uma forma de expressar as minhas convicções sem magoa-los”. Atitudes que talvez não seriam possíveis se “já não tivéssemos implementado no nosso quotidiano a vida espiritual”, nota o marido.

Quanto aos conselhos práticos… A oração é a principal e última recomendação do Padre Bonnet: “Só assim se pode construir uma família unida, nas provações e na alegria”. Para Genevieve, isso é muito natural: “Todos os dias, após as laudes, elevo ao Senhor minhas orações pelos meus filhos e netos. Peço-lhe que os abençoe, que os mantenha à sombra das suas asas, que o Senhor esteja sempre presente na vida deles, e que eles queiram estar perto dEle”.

Frédérique de Watrigant