Aquela alma escapou, como uma avezinha, da armadilha infernal finalmente rompidaEm 1854, uma mulher idosa morava num hospital de doentes incuráveis, onde estava sempre na cama em consequência de uma paralisia quase total. Seus sentimentos eram os de uma ímpia furiosa, e de sua boca brotavam incessantemente as mais nojentas conversas, misturadas com atrevidas blasfêmias, a tal ponto que muitos a consideravam endemoniada. Desconfiava-se de que ela guardava na cama certos objetos maus, aptos a conserva-la em tão perversas disposições.
Um dia, desocupou-se o dormitório para limpá-lo; tiraram-na para uma sala vizinha, apesar dos uivos que soltava. Debaixo de seu colchão, as irmãs encontraram um saquinho com objetos de origem e destino mais do que suspeitos. Colocaram no mesmo lugar uma medalha de São Bento, e daí a pouco levaram a enferma de novo para a cama, sem lhe avisarem do que se havia feito em sua ausência. Mas sem dúvida algo lhe revelou o espírito mau; pois ela, quando ia ela chagando perto da cama, começou a gritar violentamente com as Irmãs, queixando-se de que lhe haviam roubado o saquinho.
Deitaram-na, entretanto e, de repente, um sossego extraordinário sucedeu aos costumeiros gritos. A alegria lhe transparece na fisionomia que até então só apresentava traços horrivelmente crispados. A pobre criatura pede um padre. Alguns dias depois, na enfermaria transformada em Capela, toda resplandecente de luzes e enfeitada com flores, recebia a Nosso Senhor que vinha consolar e curar aquela alma, escapada, como uma avezinha, da armadilha infernal rompida.
Relatado pelo pe. Próspero Guéranger O.S.B., abade de Solesmes, em “A Medalha de São Bento”, Dom Artpress, São Paulo; via blog Almas Castelos