A sombra da União Soviética paira novamente sobre a Igreja Católica em plena Rússia do século XXI, segundo o parecer de um professor católico russo que foi entrevistado pelo portal informativo Catholic News Service na última semana e que, por óbvias razões de segurança, pediu para não ser identificado.
De acordo com o professor, os membros do clero russo temem ser presos caso questionem a presente guerra movida pelo regime de Vladimir Putin contra a Ucrânia. Para o entrevistado, a Igreja Católica já está enfrentando, na Rússia, uma "nova era de silêncio".
Ele comentou que várias paróquias católicas do país estão organizando orações pelo imediato cessar-fogo, mas os padres não podem manifestar-se publicamente:
De fato, o governo de Putin vem proibindo a disseminação de informações não oficiais. Emendas aprovadas em 4 de março ao Código Penal impõem multas severas e até 15 anos de prisão para quem for julgado responsável por "fake news" contra as forças armadas da Rússia, o que inclui a proibição de chamar a guerra de guerra: segundo o governo, o que está sendo perpetrado na Ucrânia é uma "operação militar especial".
O professor entrevistado pelo Catholic News Service acrescentou que os católicos com amigos e parentes na Ucrânia estão bem cientes da realidade dos fatos, mas também estão cientes de que podem ser presos caso usem as "palavras erradas" - o que é particularmente válido para os padres em suas homilias.
A situação de censura e ameaça de represálias é tão grave que muitos bispos católicos da Rússia estão evitando até mesmo divulgar amensagem do Papa Francisco no Ângelus de 6 de março, quando o pontífice declarou enfaticamente que a invasão russa na Ucrânia não é apenas uma "operação militar especial", mas uma guerra que semeia a morte.
Segundo o professor, muitos católicos estão saindo da Rússia tanto para evitar a repressão quanto para driblar um possível alistamento militar obrigatório. As perspectivas, no geral, se mostram sombrias: