O Papa Francisco concedeu uma entrevista ao jornalista Joaquín Morales Solá, do jornal argentino La Nación, durante a qual respondeu a questões variadas, mas com maior destaque para a guerra na Ucrânia.
Putin
Uma das perguntas do jornalista foi sobre o motivo de Francisco não citar o nome do presidente russo Vladimir Putin ou mesmo o nome da Rússia quando se refere à guerra na Ucrânia. Francisco respondeu que "um Papa nunca nomeia um chefe de Estado e muito menos um país, que é superior ao seu chefe de Estado". Ele acrescentou que o Vaticano está executando tratativas diplomáticas e que não pode entrar em detalhes a respeito.
Ações concretas da Santa Sé
De qualquer forma, é público e notório que o Vaticano já realizou iniciativas bastante concretas e ousadas: o próprio Papa se prontificou desde o início da guerra na Ucrânia a intermediar as negociações de paz; ele chegou a ir pessoalmente até a embaixada russa junto ao Vaticano; Francisco foi enfático ao chamar a guerra de guerra e ao desmentir diretamente a narrativa de Putin, que afirma tratar-se de uma "operação militar especial"; a Santa Sé enviou representantes presenciais de peso à Ucrânia, como o cardeal Krajevski; o Vaticano enviou doações em dinheiro, alimentos, itens de primeira necessidade, remédios e até ambulâncias; a Igreja determinou que conventos, seminários, paróquias e outras instalações físicas acolham desabrigados; etc.
Visita à embaixada
O entrevistador perguntou pontualmente sobre a visita do Papa à embaixada da Rússia junto ao Vaticano. Francisco respondeu que foi um ato de responsabilidade pessoal:
Francisco ressaltou que, "a essa altura da civilização", qualquer motivo para uma guerra é "anacrônico".
Visita a Kiev
Sobre uma possível visita do Papa a Kiev em plena guerra na Ucrânia, Francisco respondeu que não pode comprometer os objetivos superiores, como o próprio fim da guerra, uma trégua ou os corredores humanitários. E devolveu a pergunta ao jornalista:
Kirill
Joaquín Morales Solá perguntou então a Francisco sobre a sua relação com o patriarca ortodoxo de Moscou, Kirill, que está publicamente alinhado ao regime de Vladimir Putin. O Papa respondeu que a relação é boa e lamentou o cancelamento de um encontro que estava previsto entre os dois líderes religiososo para junho:
De fato, o patriarca da Igreja Ortodoxa Russa tem sido reiteradamente acusado de apoiar o regime de Putin e, por conseguinte, ser cúmplice do massacre perpetrado pelas tropas russas contra o povo ucraniano.
A postura de Kirill em relação à Santa Sé, historicamente, também é de fechamento. Ele se recusou a encontrar-se com São João Paulo II e com Bento XVI, mas propôs um encontro com Francisco em 2016, quando o Papa viajava para o México. Francisco fez uma escala em Cuba apenas para encontrar Kirill, que já estava de visita à ilha comunista. Foi um primeiro passo para estabelecer um diálogo. No momento, o diálogo volta a ser dificultado pelo patriarcado moscovita, que opta pelo alinhamento ideológico a Putin.