O tenor italiano Andrea Bocelli é um dos colaboradores do filme Fátima, a História de um Milagre. Sua canção Gratia Plena faz parte da trilha sonora do filme estrelado pela atriz brasileira Sônia Braga.
Bocelli deu uma entrevista exclusiva à Aleteia - algo raro, já que o cantor geralmente não fala com os veículos de comunicação. Durante a conversa, ele explicou que Fátima e a devoção a Nossa Senhora fazem parte da vida dele.
– O que a participação artística no filme Fátima lhe proporcionou, do ponto de vista humano e espiritual?
Foi uma experiência muito intensa, embora minha contribuição tenha sido modesta. Mas estou feliz que minha voz tenha contribuído para a trilha sonora de um filme tão importante.
Acho precioso e sempre oportuno divulgar a história das aparições de Fátima: é uma história que não podemos decifrar racionalmente, mas cuja autenticidade e doçura podemos compreender – em qualquer instância.
É um episódio edificante para todos e sempre me impactou e me emocionou, justamente pela poderosa mensagem de amor que carrega, e que resume aqueles valores cristãos nos quais baseei minha existência.
– Quais são os primórdios e a intensidade de sua devoção à Maria?
Sempre achei essa presença feminina que intercede por nós luminosa, poética, comovente.
Lembro-me que, já no decurso da minha infância, me encantava com a religiosidade genuína de certas passagens sagradas...
À medida que a minha fé crescia e se consolidava, Maria tornou-se uma presença essencial e constante no meu dia a dia. Gosto de pensar nela como a versão celestial de nossa mãe terrena, consoladora e mediadora. Maria é a luz que ilumina o caminho obrigatório para chegar ao Pai.
– Quando te convidaram para cantar durante as comemorações do centenário das aparições de Fátima, como você se sentiu? Foi a sua primeira vez em Fátima?
Quando criança tive a oportunidade de ir a Lourdes. Já adulto, visitei repetidamente outros lugares abençoados com uma especial energia mística, desde o Santuário brasileiro de Aparecida até a Basílica de São Pedro, em Roma; a Basílica de Assis, o Santuário de Medjugorje…
No entanto, quando fui convidado em 2018 para dar a minha contribuição nas comemorações do centenário das aparições, foi para mim a primeira vez em Fátima, tanto como cantor como como fiel. Fiquei favoravelmente impressionado com aquele oásis de oração, paz e espiritualidade, uma ponte entre o humano e o divino.
– De que forma e através de que exemplos você recebeu o dom da fé?
Tive a grande sorte de crescer numa família unida, que me educou nos valores cristãos, sobretudo através do exemplo. Dos meus pais absorvi o significado de honestidade, coerência, respeito, amor ao próximo e à natureza.
Então, na minha juventude, vivi um período ingenuamente rebelde, no qual não me importei com o transcendente, e até me chamei de agnóstico.
Mas algumas questões existenciais logo se fizeram sentir, justamente porque sem fé é difícil dar sentido à vida.
Percebi que, na base de todas as nossas escolhas, estamos diante de uma encruzilhada que leva em direções opostas (uma vai para o bem, a outra para o mal). Conceber uma vida tomando-a como certa não é muito conveniente, mas também é ilógico.
Na primeira encruzilhada fundamental - acreditar ou não acreditar - escolhi o caminho que me pareceu mais lógico...
Hoje a fé é meu farol pessoal, minha força, é um elemento básico de minha existência, um dom inestimável. Porque quem tem fé melhora a sua vida e o mundo. Ter fé significa acreditar no poder da bondade.
– O que significa para você a história e a mensagem reveladas a Francisco, Jacinta e Lúcia? O que você acha que essa mensagem pode ensinar no mundo de hoje?
É uma mensagem forte, nos mostra que a beleza é inerente ao bem. A mensagem dos três pastorinhos é uma grande parábola sobre o amor.
Acredito que a mensagem de Fátima pode restaurar a esperança em muitos corações, tanto entre aqueles que não têm o dom da fé, como entre os crentes. Estes podem ser estimulados a cultivar com mais entusiasmo a emoção e a alegria da fé, abandonando aquela tibieza que, certamente, não faz bem à alma.
– Como seu testemunho de fé é recebido no mundo do entretenimento?
Embora nem todas as áreas estejam livres de áreas cinzentas, acredito que meu testemunho de fé é, geralmente, bem recebido.
Acredito que todo artista desempenha um papel muito importante na sociedade. A música é uma linguagem universal que tem a força e a capacidade de afetar nossa consciência, ajudando-nos a ser melhores.
Graças a esta arte é mais fácil entender que não estamos sozinhos, que não estamos aqui por acaso. Também graças à música (e à oração), nossa alma se liberta da presença barulhenta do ego e nos mostra a beleza, a plenitude da vida.
A música é uma luz que ajuda a encontrar o caminho, a tomar consciência da alegria que está por trás do fato de se estar vivo, do dom, do privilégio e da responsabilidade que nos foi atribuída.