Mau tempo, muito trabalho, vizinhos barulhentos, tela do celular quebrada… Todo dia que Deus nos dá, sempre encontramos mil boas razões para reclamar. Mas, numa dose muito alta, essas queixas se tornam insuportáveis para quem está à nossa volta. Sim, saber resmungar quando é necessário sem se tornar insuportável, é uma arte e tanto!Caro amigo resmungão, trago para você uma boa notícia: sua fonte de inspiração é totalmente inesgotável. Porque a vida em família, no trabalho, com os amigos, enfim, a vida, é uma máquina infalível de estresse contínuo. Mas o ponto é descobrir a quem reclamar. A criança chorona já tem dificuldade de encontrar um ouvido compreensivo, o adulto então, você já pode imaginar!
Não é fácil reclamar aos nossos entes queridos; menos ainda com aqueles que estão pertinho como o marido ou a esposa. Só queríamos reclamar das condições do jardim e, depois de dois segundos, já estamos falando do cortador de grama que precisa ser consertado. Ao invés de buscar uma solução em primeiro lugar, precisamos primeiro reclamar, dizer o que está errado, e por que e como está errado. E acabamos com um pacote de queixas junto com um grande saco de pedras a serem arremessadas.
Das reclamações…
Reclamar com o marido ou a esposa, ou pior, com os filhos, de todas as suas falhas reais ou supostas e do progresso geral das coisas, é de pouca utilidade. Porque a reclamação contém esta mensagem: “De você depende o meu destino”. Mas o outro não é o mestre do nosso destino, não precisamos fazê-lo assumir essa responsabilidade, não precisamos mantê-lo nessa ilusão, ele não é todo-poderoso. Por fim, o indignado começa a desejar fugir, pois se tornou deprimente e contagioso e acabou fazendo todos se afastarem dele. Chega de reclamações!
… Às “lamentações”
Portanto, se precisamos reclamar, felizmente Deus nos conhece muito bem: ele está pronto para recolher nossas insatisfações, grandes ou pequenas. Vamos ousar viver a verdadeira lamentação, tirada do coração dos Salmos.
Dizer “Das profundezas clamo a Ti” (Sl 129, 1) ou “De ti depende o meu destino” (Sl 15, 5b), não serve para encher a Deus de queixas, mas na realidade para fazer a ele uma declaração do seu amor. Em vez de embebedar toda a nossa família com lamentações desnecessárias, podemos nos aproximar do próprio Deus. O coração de Jesus é de uma doçura inesgotável, e ele nos ouvirá até o fim, sem sair para receber a correspondência enquanto estivermos falando!
Aquele que passou pela cruz leva a sério o grito de quem se sente desamparado, cansado, sozinho ou abandonado. Esse tempo gasto com Jesus ressuscitado nos restaura de alegria e nos permitirá cantar outra vez: “Tu transformaste meu luto em dança” (Sl 29, 12). Portanto, deixemos de lado as reclamações e passemos à bela arte das lamentações, que nos levam ao louvor: “A parte que me cabe é a minha alegria, recebi a mais bela herança” (Sl 15, 6). Alegria contagiosa garantida!
Jeanne Larghero