O período de terror que levou 160 sacerdotes ao fuzilamento não foi páreo para a presença de espírito do “Super Padre Pro”!
O contexto
O presidente mexicano Plutarco Elías Calles se tornou conhecido como “o Nero do México” por conta da perseguição brutal que promoveu contra os católicos a partir da segunda metade dos anos 1920. O país afundou, a partir daquele período, num anticatolicismo que levaria pelo menos 160 sacerdotes ao paredão de fuzilamento. Foi este o cenário encontrado em julho de 1926 pelo jesuíta e futuro mártir pe. Miguel Agustín Pro, recém-retornado à terra natal. Poucas semanas depois da sua chegada, aliás, um decreto oficial do governo proibiu toda forma de culto público e ameaçou todos os padres com a prisão.
O Ir. Dominico, M.I.C.M., biógrafo do sacerdote mártir, relata assim aqueles dias em sua obra “Padre Pro: Um Mártir Moderno“:
“Toda ordem religiosa foi dissolvida. Todas as escolas católicas foram secularizadas, o que significa que, na prática, se tornaram ateístas: nelas, nenhuma menção a Deus era tolerada. Crucifixos foram arrancados das paredes e as estátuas foram destruídas. Em seguida, para eliminar toda ‘propaganda católica’, as editoras religiosas foram tomadas pelo governo. O padre Pro não poderia ter escolhido melhor hora para retornar.
O embaixador russo garantiu a Calles que as suas políticas anticlericais estavam em perfeito acordo com os métodos comunistas e desejou a ele todo o sucesso. Aplicando os métodos comunistas de vigilância, o ditador pró-comunista empregou dez mil agentes do governo, quase todos estrangeiros, em tarefas de monitoramento do povo, a fim de assegurar que as novas leis fossem cumpridas. De onde aquele país empobrecido conseguiu dinheiro para pagar essa violenta ‘gestapo’ continua sendo um mistério“.
O padre Pro
O cenário de terror, no entanto, não assustou o pe. Miguel Pro. Seu biógrafo prossegue:
“Praticamente sem qualquer descanso, o convalescente padre se lançou num apostolado extremamente árduo. Passava praticamente todo o dia no confessionário da igreja jesuíta local, confortando, aconselhando, repreendendo e absolvendo, das cinco às onze da manhã e, novamente, das três e meia da tarde até as oito horas da noite. Em acréscimo às instruções e sermões, ele recebia todos os visitantes que, até à data do fechamento das igrejas por parte do governo, desejavam consultá-lo sobre problemas no casamento e outras dificuldades. De todos seus deveres, o exigente ministério do confessionário era o que mais exigia da sua fraca saúde. Duas vezes, aliás, ele desmaiou e teve de ser carregado para fora.
Veio então o triste dia que nenhum fiel do México jamais esquecerá. Era 31 de julho de 1926. Naquele dia, a Santa Missa foi celebrada pela última vez publicamente. Todos se apressaram para receber, em suas paróquias, a Vida de suas almas na Santa Comunhão. Essa foi a última vez que o padre Pro celebrou Missa numa igreja. A partir de então, a Igreja no México se tornaria clandestina – ou, como um autor colocou, ‘a antiga Igreja das catacumbas reviveu numa república ocidental moderna’. O México passaria a produzir muitos mártires.
Enquanto ocorriam horríveis martírios, o padre Pro se ocupava organizando a ‘contrarrevolução’ bem no coração da capital. Primeiro, ele estabeleceu ‘estações eucarísticas’ por toda a cidade. Essas estações eram casas de católicos de confiança às quais ele ia em dias determinados para distribuir a Santa Comunhão, e, se possível, rezar a Missa. Por conta própria, distribuía uma média de trezentas comunhões por dia. Também organizou uma companhia de trezentos homens para percorrer toda a cidade e seus subúrbios como instrutores religiosos. Graças a essas instruções, jovens e idosos conservaram viva a sua fé”.
O pe. Pro era abordado e interrogado pela polícia o tempo todo, mas, com coragem heróica e enorme presença de espírito, mantinha com resultados extraordinários o seu apostolado, na clandestinidade e entre peripécias dignas de filmes de ação.
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Certa vez, ao chegar a determinado edifício e perceber que estava sendo seguido por policiais, deu rapidamente um jeito de não demonstrar medo nem expor ao perigo as pessoas que o esperavam: foi fazendo, já de longe, um movimento como de quem apresenta um distintivo e passou pela polícia afirmando com determinação e autoridade: “Um padre estará escondido ali dentro. Esperem aqui”. Pensando que se tratasse de um agente à paisana, os policiais o deixaram passar. Ao entrar no edifício, cumpriu a missão que o trouxera até ali: oferecer os sacramentos a um grupo de católicos que, tão clandestinamente quanto ele, se arriscavam por amor a Cristo. E depois saiu, saudando os policiais e informando que o tal padre não estava mais lá dentro.
Noutra ocasião, em que também notou que dois agentes o vigiavam, encontrou na rua uma senhora católica que conhecia da Missa, aproximou-se dela e ordenou em voz baixa que agisse com se fosse sua esposa. Vestido de civil conforme a lei o obrigava, ele tomou-lhe o braço e, de braços dados com a repentina “esposa”, seguiu andando tranquilamente.
Em outra ocasião ainda, enquanto usava um táxi, deu-se conta de que a polícia, para variar, o seguia em outro automóvel. Ordenou ao motorista: “Siga viagem sem se deter porque eu vou me jogar para fora”. Abriu a porta do táxi e saltou rapidamente. Quando a polícia percebeu, o padre já estava longe.
Outro biógrafo do pe. Pro, Robert Royal, traz mais relatos extraordinários em seu livro “The Catholic Martyrs of the Twentieth Century” (“Os mártires católicos do século XX”). Ele remete a fotografias que mostram o sacerdote usando vários disfarces: no meio dos trabalhadores, usava suspensórios e capacete; parecia apenas mais um motorista numa reunião de motoristas e mais um mecânico entre os mecânicos. Adotando subterfúgios os mais diversos, conseguia ouvir confissões até mesmo dentro das cadeias. Certa vez, presidia uma reunião com os jovens da Ação Católica dentro de um grande galpão quando subitamente a polícia cercou o local. O padre se escondeu num armário momentos antes que um coronel invadisse o galpão portanto não uma, e sim duas pistolas. “Onde está o padre Pro? Vocês têm um minuto para me dizer onde está esse padre ou eu mato todos vocês!”. No mesmo instante, sentiu um cano frio lhe tocar a nuca. “Solte essas pistolas ou morre!”, disse o padre Pro, surpreendendo-o sem se identificar. O coronel deixou as armas caírem e os jovens rapidamente as recolheram. “Fujam!”, gritou o padre ao grupo. Enquanto os jovens iam saindo, o padre prosseguiu: “Agora o senhor coronel se vire para ver como foi desarmado”. O coronel deu meia volta e, para sua humilhação, percebeu que o “cano de arma” era só a ponta de uma garrafa vazia.
Mártir
Com essas “afrontas” e o sucesso do seu apostolado, o pe. Miguel Pro se tornou um dos maiores inimigos do governo callista. Ele não esmoreceu sequer quando foi finalmente preso e condenado ao fuzilamento. Seu testemunho na hora do martírio pode ser conferido neste outro artigo arrepiante, inclusive com fotos que o governo fez para humilhá-lo e que, no entanto, só serviram para encorajar o povo mexicano a perseverar na fé: