Beatificado por São João Paulo II: conheça a extraordinária história do sacerdote que viveu o seu calvário no campo de concentraçãoCampo de concentração de Auschwitz, sábado anterior ao Domingo de Ramos de 1942. O verdugo, alemão, tem um nome: Hans. A vítima, da Polônia, também: Pedro. Sobre o alemão, a crônica do campo de concentração registrou somente o primeiro nome e o cargo, “Arbeitsdienstführer” (chefe de operações). Do polonês, foi registrado que o número era 24.529, que seu nome completo era Piotr Edward (Pedro Eduardo) Dankowski e que se tratava de um sacerdote católico.
Nesse dia, na recontagem matutina, outro sacerdote é testemunha do golpe cruel. Derrubado por um soco, já no chão, ele é chutado na cabeça e na barriga. O chefe também quebra os seus óculos. O motivo? No dia anterior, o pe. Pedro não tinha podido ir ao trabalho porque estava muito doente. Para o verdugo, a impossibilidade real de trabalhar parecia um mero capricho: “Você não quis trabalhar”.
Depois, mandou amarrarem um tronco grosso nos ombros do sacerdote, que se contorcia de dor. Bem depois ele foi mandado para a enfermaria.
No dia seguinte, Domingo de Ramos, muito consciente de estar colocando a sua vida em risco, o pe. Ladislau Puczka decidiu visitar o seu amigo e ouviu sua confidência: “O kapo Hans anunciou a minha via sacra para esta Semana Santa”.
E foi assim. Em plena enfermaria, ao longo dos dias seguintes, o pe. Pedro sofreu novas torturas.
Na Sexta-Feira Santa, quando o pe. Ladislau entrou na enfermaria para visitar novamente o amigo, encontrou-o tal como a Vítima Divina do Calvário estava naquele mesmo dia: na cruz. Debilitado, extenuado, brutalmente espancado, ele tinha um tronco amarrado aos ombros. Recebida a absolvição, ele se despediu do amigo: “Até o céu!”. Naquele mesmo dia, o pe. Pedro foi morto a socos e chutes pelo kapo. Era 3 de abril de 1942.
Quando a II Guerra Mundial começou, o pe. Pedro não ficou indiferente ao sofrimento do seu povo e chegou a se juntar ao movimento de resistência em Podhale, dirigindo uma rádio clandestina junto com seu irmão Estanislau e redigindo comunicados. Ao mesmo tempo, prestava ajuda a todos os perseguidos pela Gestapo que fugiam pelas montanhas rumo à Hungria.
O comandante local alemão o advertiu de que ele estava sendo vigiado e poderia ser detido a qualquer momento. Mas o pe. Pedro se negou a fugir e mesmo a se esconder e decidiu permanecer no lugar que o bispo havia lhe confiado para exercer o seu ministério sacerdotal.
Em 10 de maio de 1941, ele foi preso e levado ao “palace”, local de interrogatórios e torturas – uma das mais “fáceis” era ter que dormir no chão gelado tremendo de frio durante a noite inteira. De lá, foi levado a uma prisão em Tarnów, de onde foi mandado para o campo de concentração de Auschwitz em 15 de dezembro de 1941.
No campo de concentração, o pe. Pedro foi obrigado a trabalhar muito além das próprias forças, cavando valas para a instalação de canais. Sua condição de sacerdote católico o transformou em objeto de especial perseguição do kapo Hans, que lhe deu um trabalho extra: cavar diariamente a própria cova e depois enchê-la de terra. Apesar de tudo, o pe. Pedro não perdia a sua serenidade; e, mesmo que o trabalho o deixasse esgotado, ele conseguia cantar hinos católicos para animar os outros. E assim continuou até a Semana Santa de 1942.
O pe. Pedro tinha sido ordenado sacerdote em 1931. Era muito devoto de Nossa Senhora e herdeiro de uma longa tradição familiar religiosa. Cordial, amável, aberto a todos, sabia conversar com as pessoas simples e com grandes intelectuais e ganhava a confiança dos fiéis que recorriam ao seu confessionário e lhe pediam orientação para as suas necessidades espirituais e humanas.
São João Paulo II o beatificou em 13 de junho de 1999.
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