“Papai, por que não posso ir ao casamento? Eu amo casamentos”. Estas são palavras da minha decepcionada filha de nove anos de idade, depois de saber que, mais uma vez, ela não foi convidada para outro casamento. Ela e suas irmãs – minhas filhas mais velhas – amam celebrações especiais. Elas adoram se vestir elegantemente quando vamos a restaurantes e de participar de todos os tipos de atividades adultas.
Elas ainda fazem muita coisa de criança, como jogar futebol, andar de bicicleta e olhar para coisas aleatórias sob um microscópio. Nada as agradava mais do que abrir um convite de casamento ou festa que chega por e-mail. No entanto, o triste é que em muitos desses convites agora estão inscritas as palavras: Proibido crianças.
Eu entendo. Recepções de casamento são extremamente caras. Nenhum casamento precisa começar com uma carga de dívida por causa da recepção do casamento – além disso, casamentos mais baratos parecem prever casamentos mais longos. Então, eu sei que há boas razões para limitar os participantes e fazer recepções apenas para adultos.
Tenho notado, porém, que as crianças estão sendo deixadas de fora de mais e mais eventos nos dias de hoje. Por exemplo, em muitas igrejas os filhos são deixados em seus próprios programas de escolinha dominical; em festas, eles são enviados para outra sala para ver televisão (ou sair de casa com uma babá), e em restaurantes são tratados diferentemente.
Eu serei o primeiro a admitir que as crianças fazem barulho nos eventos. Vejamos uma igreja onde as crianças ficam com os adultos para a adoração. Às vezes, elas prestam atenção ou silenciosamente se entretêm, mas há outros momentos em que eu me preocupo que elas vão reduzir o edifício a escombros com as sua energia excedente. A família que fica em frente à nossa tem quatro rapazes com menos de nove anos de idade, e Tim, o pai, lembra seu filho o tempo de não cuspir no chão. Ao lado deles deles fica Bill, cujos filhos são adolescentes agora, mas ele lembra o quão estressante foi quando eles eram mais jovens: “Eles pareciam muito mais barulhentos para mim do que pareciam todos os outros. Agora? Eu ouço as crianças de outras pessoas e acho doce”.
Eu me pergunto realmente como o homem no banco atrás da minha família pode rezar quando a minha criança joga uma bola de borracha em seu rosto, ou como o padre pode pregar seu sermão quando meu filho está em pé sobre o banco.
É quando eu começo a sonhar em deixar as crianças fora da igreja, em uma escolinha dominical, e sobre quão glorioso seria tê-los fora do caminho um pouco. Mas então, de vez em quando, um paroquiano gracioso passa pelo nosso banco e nos agradece por trazer os nossos filhos. Um domingo, uma doce mulher irlandesa chamada Joan disse que ela adora ver as crianças. Será que ela não viu a brincadeira de luta que meus meninos tiveram no banco? Mas ela nos assegurou que os meninos serão sempre meninos e é muito bom tê-los por perto.
Embora eu às vezes precise de uma noite sem meus filhos, eu concordo com Joan que é bom ter as crianças ao redor. Recentemente, minha esposa e eu fizemos uma festa na véspera de Ano Novo e convidamos famílias inteiras para celebrar conosco. Uma quantidade modesta de champanhe estava sendo consumida pelos adultos, mas as crianças estavam com a gente, às vezes sentadas e ouvindo a conversa dos adultos, e às vezes correndo como selvagens pelos corredores e brincando. Nossos convidados ficaram surpresos e felizes por não encontrarem babás e, embora a festa tenha terminado bem antes da meia-noite, a reunião foi um sucesso.
Pais em outras partes do mundo parecem mais dispostos a ter filhos e dar-lhes responsabilidades de adultos. Veja na Espanha, onde não há hora de dormir para as crianças , para que elas possam “participar da vida familiar à noite”, ou na França, onde não há tratamento diferenciado para crianças em um restaurante, ou na Alemanha, onde os pré-escolares estão autorizados a usar facas.
Enquanto isso é bom para as crianças se envolverem na vida de seus pais, às vezes, as crianças só querem ser crianças. Então, como tudo, há um equilíbrio a ser encontrado. Estar com os pais é bom para as crianças, mas é importante que os amigos não desloquem os pais. Queremos que os nossos filhos absorvam nossos valores e tradições, e não de colegas aleatórios na escola.
No livro Hold On to Your Kids: Why Parents Need to Matter More Than Peers, os médicos Gordon Neufeld e Gabor Maté escrevem: “Há um tipo especial indispensável de relacionamento, sem o qual a paternidade carece de uma base sólida... Para uma criança ser aberta para ser pai quando adulta, ela deve ter um vínculo ativo com o adulto”. Paternidade é menos sobre o que fazemos e mais sobre quem somos. Nós somos parte da família, e nossa presença constante dá aos nossos filhos a confiança para ir sem medo para o mundo.
Uma das melhores maneiras de ajudar as crianças a fazerem isso e se tornarem adultos bem equilibrados é permitir-lhes passar mais tempo em nossas vidas junto com a gente – levando-as para tomar uma xícara de chocolate quente em uma cafeteria, deixando-as comer a nossa comida, deixando-as ir a casamentos e festas com a gente, e ficar na igreja com todos os outros. Em casa, minha filha muitas vezes pega sua xícara de chá e fica ouvindo a minha esposa conversar com outras mães. Ao invés de ser indesejável e pedir que ela saia, minha esposa deixa, pois ela está descobrindo a arte da conversa.
As crianças ainda estão aprendendo e elas têm as suas próprias interações exclusivas com o mundo, por isso não podemos esperar que sejam mini-adultos, mas a diversidade e alegria que elas trazem para qualquer ocasião muitas vezes vale a pena. Afinal de contas, a razão do por que se casar, comemorar aniversários da família e participar de adorações é para estar juntos como uma família humana e compartilhar nossas vidas com os outros.