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“Amizade espiritual e Oração pastoral”

Rievaulx Abbey
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Vanderlei de Lima - publicado em 07/11/21
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Reconhecendo a importância fundamental e a beleza da amizade, Aelredo de Rievaulx busca a regra, o modelo, a forma e a lei da verdadeira amizade

“Amizade espiritual & Oração pastoral” – Eis, num só livro, duas obras de Aelredo de Rievaulx (1110-1167), monge cisterciense inglês que figura entre os grandes místicos de sua escola.

Sim, a espiritualidade cisterciense é uma escola própria. Com efeito, escreve Dom Luís Alberto Ruas Santos, O. Cist., que “os mosteiros cistercienses produziram grandes místicos. [...] Talvez não tenha havido na Igreja uma escola de espiritualidade tão uniforme na temática e com tantos autores como a cisterciense” (Os cistercienses: uma espiritualidade abrangente e criativa. Itatinga: Abadia cisterciense de Nossa Senhora da Assunção de Hardehausen-Itatinga, 1998, p. 17). Mas, quem são esses místicos e quais pontos nortearam seus escritos? – Todos foram Abades. Deixaram-nos uma rica espiritualidade marcada por três pontos: o pastoral, visava, em forma de Sermões, a santificação dos monges, seus primeiros destinatários; o patrístico, pois continuava a teologia bíblico-simbólica dos Padres da Igreja (escritores cristãos – não necessariamente sacerdotes – dos primeiros sete séculos que muito ajudaram na formulação da reta fé) e também o místico, ou seja, a vivência da verdadeira e estável união com Deus a fim de se tornarem um só com Ele. São grandes expoentes dessa corrente mística Bernardo de Claraval (o pai ou o iniciador), Guilherme de Saint-Thierry, Aelredo de Rievaulx, Guerrico de Igny, Balduíno de Ford etc. (cf. Dom Bernardo Bonowitz. Os místicos cistercienses do século XII. Juiz de Fora: Subiaco, 2005, p. 7-11).

O apresentador e um dos tradutores da edição brasileira de Amizade espiritual & Oração pastoral – Pe. João Paulo de Mendonça Dantas – elaborou importante introdução a ambas as obras. Sobre a Amizade espiritual escreve: “Aelredo deseja apresentar uma reflexão sobre a verdadeira amizade (Prólogo, 2). Reconhecendo a importância fundamental e a beleza da amizade, o autor busca a regra, o modelo, a forma e a lei da verdadeira amizade. Para que exista a verdadeira amizade, é necessária uma verdadeira disciplina dos afetos. Quanto ao método, deve-se notar que Aelredo parte não tanto de um princípio ou de uma tese, mas de sua experiência de vida: a existência é a sua escola” (p. 16). Citando Inos Biffi, teólogo medievalista, pode-se afirmar que “a amizade com Cristo conduz a uma amizade universal” (p. 20) ou supera as fronteiras pessoais. Afinal, é o próprio Aelredo quem indaga a Ivo, seu interlocutor: “O que pode ser dito de mais sublime sobre a amizade, mais verdadeiro e mais útil se não demonstrar que ela nasce de Cristo, progride segundo Cristo, e por Cristo é levada à perfeição?” (p. 34).

Já a Oração Pastoral – escreve o padre – “é um texto breve, mas denso, e segundo alguns, apresenta-se como o ‘resumo de sua vida espiritual’ [...]. Trata-se de uma pequena obra prima cuja concisão conseguiu recolher os aspectos mais cativantes de sua personalidade: ternura, benevolência, afabilidade, mansidão, benignidade, honestidade, afeto cordial, paternidade, compaixão, confiança e abandono em Cristo” (p. 123). Aí, após as várias orações curtas, mas cheias de unção, por diversas intenções, o monge, com base em Jo 10,28, deixa suas últimas recomendações com estas palavras: “Eu, da minha parte, confio-os [os monges – nota nossa] em Tuas santas mãos e em Tua terna providência, que ninguém os retire da Tua mão, nem da mão do Teu servo, a quem os confiastes, mas que perseverem com alegria no santo propósito e, perseverando, obtenham a vida eterna, com o Teu auxílio, oh dulcíssimo Senhor nosso, que vives e reinas pelos séculos dos séculos. Amém” (p. 138).

Eis porque os tradutores e a editora Cultor de Livros merecem nossos melhores elogios.

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