A notícia de que um familiar (pai, avô, marido) acabou de sofrer um Derrame cerebral é assustadora. O tempo de internação, o período na UTI, os riscos de infecção ou a pneumonia são somente algumas das angústias sofridas por quem está aflito pela vida do seu ente querido. Mas, quando se recebe a informação de que este ente vai receber alta do hospital, a sensação de alívio vem acompanhada de outras aflições. Será que ele vai andar? O que é esse tubinho no nariz? Como ele vai tomar banho?
É assim que começa uma nova etapa na vida de muitas pessoas, a vida de cuidador. Aquele indivíduo que fica responsável em cuidar de um ente querido que, por um motivo ou outro, torna-se vulnerável e dependente de cuidados. Independente se a origem da dependência foi Derrame Cerebral, Alzheimer, acidente automobilístico, os pacientes com sequelas, muitas vezes, precisam de ajuda para as atividades simples como, por exemplo, escovar os dentes e cabe a um cuidador oferecer este tipo de cuidado.
Os cuidadores normalmente passam mais de 20 horas por semana ajudando seus entes queridos. Embora esta função possa ser profundamente gratificante, ela pode gerar consequências na saúde e na qualidade de vida do cuidador. Um relatório da Family Caregiver Alliance (uma organização de apoio aos cuidadores na Califórnia-EUA) constatou que de 40% a 70% dos cuidadores apresentam sintomas de depressão.
Este problema ainda chama atenção pelo fato de que 41% dos cuidadores experimentaram a depressão até 3 anos após a morte de seu cônjuge com doença de Alzheimer ou outra forma de demência. Além disso, vale a pena destacar que a depressão em cuidadores é maior em mulheres em relação a homens.
É importante destacar que cuidar do próximo e ser cuidador não é a causa da depressão, mas sim a maneira com que este cuidado acontece. Muitas pessoas, na tentativa de dar o melhor de si ou por falta de apoio humano (familiares, amigos) ou ainda por falta de recursos financeiros, acabam se sobrecarregando e deixando de lado as suas próprias necessidades físicas e emocionais. Este sacrifício pessoal gera sentimentos inadequados como raiva, tristeza, exaustão, além de um grande sentimento de culpa justamente por ter estes sentimentos.
Os principais problemas que os cuidadores sofrem decorrentes do cuidado com pessoas com alta dependência são:
Privação do sono – muitas vezes, um idoso com Alzheimer troca a noite pelo dia, fica agitado impedindo que o cuidador tenha uma noite de sono adequada
Menos tempo para socializar – As demandas com o familiar deixam o cuidador sem tempo ou energia para encontros sociais.
Conflitos – Muitas pessoas que estão precisando de cuidados podem ficar agitadas, nervosas ou não aceitar seu estado de debilidade física e, por isso, acabam agredindo ou tratando mal o cuidador.
Problemas de Trabalho e Dinheiro – Não poucos cuidadores precisam conciliar os cuidados domiciliares com as demandas de trabalho e os custos dos cuidados podem ser altos.
Falta de apoio familiar – É comum os cuidadores se sentirem sós. Muitas vezes, os cuidados são direcionados a um único familiar ou, ainda, a escolha do cuidador entre os membros da família não leva em consideração as necessidades e vontades do familiar (por exemplo: “ele não tem filhos, então tem mais tempo para os cuidados”, “ela é a única mulher entre os filhos, portanto, tem mais jeito para cuidar”, “Ele mora sozinho, então tem mais espaço em casa”)
Falta de atenção à própria saúde – O cuidador, muitas vezes, deixa sua própria saúde em segundo plano. A preocupação constante em levar seu familiar ao médico, ao laboratório para fazer exames e a atenção em não se esquecer dos horários das medicações do ente querido fazem com que ele acabe deixando de lado suas próprias necessidades, se esquecendo de tomar seus próprios remédios, de fazer seus exames de rotina etc.
Se você é um cuidador, fique atento aos primeiros sintais de depressão, como fadiga crônica, pensamentos negativos, insônia, choro fácil, ideações suicidas e, caso já esteja tendo alguns destes sintomas, procure ajuda de um profissional (médico ou psicólogo). E para evitar este problema vale a pena tomar as seguintes medidas:
- Dividir tarefas com outros membros da família
- Garantir um tempo para um sono adequado (Caso necessário, revesse os cuidados noturnos com outro familiar).
- Não seja orgulhoso nem tenha vergonha e aceite ajuda. Muitas vezes, o cuidador nega ajuda de voluntários ou de membros distantes da família
- Não tenha remorso ao reservar tempos de lazer. Muitos cuidadores não se sentem no direito de ter momentos de alegria quando seu ente querido está doente ou “preso na cama”.
Em suma, o cuidador tem uma missão repleta de desafios físicos e emocionais. Embora seja uma demonstração de amor e dedicação aos entes queridos, o papel de cuidador também pode ter um impacto significativo na saúde mental e na qualidade de vida daqueles que assumem essa responsabilidade. Com medidas de apoio, solidariedade familiar e conscientização sobre os desafios enfrentados pelos cuidadores, pode ser criado um ambiente mais saudável e sustentável para aqueles que dedicam suas vidas ao cuidado dos outros.