A queda histórica das doações de sangue, agravada pela pandemia de covid-19, gerou uma crise sem precedentes no Brasil e no mundo em relação aos estoques disponíveis nos bancos de sangue, cuja situação é emergencial.
Se já era frequente que feriados e períodos de férias representassem redução nos estoques, devido à diminuição do comparecimento de doadores para reposição, a longuíssima duração da pandemia tem impactado brutalmente os bancos de sangue de dezenas de países.
No Brasil, um caso que exemplifica o panorama é o da Fundação Pró-Sangue, que abastece mais de uma centena de hospitais só na região metropolitana de São Paulo. Em 31 de janeiro, segundo matéria da BBC Brasil, a Fundação Pró-Sangue enfrentava uma escassez de nível emergencial, o mais crítico de todos, nos estoques de todos os tipos negativos de sangue. Durante todo o mês de janeiro foram coletadas cerca de 8 mil bolsas de sangue, mas a meta mensal é 9,5 mil - e estamos falando de uma estrutura de referência nacional, que conta com 6 postos de coleta à disposição dos doadores. Em bancos de sangue menores, no interior do país, a situação é ainda mais difícil.
Consequências dramáticas
O desabastecimento dos bancos de sangue acarreta o comprometimento das chances de salvar a vida de pacientes em tratamento, sobretudo de doentes com quadros de maior complicação ou que passam por cirurgias delicadas, além de vítimas de acidentes de trânsito ou mães com hemorragia pós-parto, por exemplo. Chega-se ao ponto em que médicos precisam decidir quais pacientes receberão transfusão e quais não. Cirurgias podem ser canceladas praticamente em cima da hora por falta de sangue para transfusão. Doentes de câncer são enviados de volta para casa sem transfusões que não poderiam deixar de receber.
Por outro lado, uma só doação tem o potencial de salvar quatro vidas, segundo o Ministério da Saúde do Brasil.
Impacto da pandemia
No início da pandemia de covid-19, o volume de doações de sangue desabou em decorrência das restrições à circulação da população. Em contrapartida, a própria demanda de sangue também caiu, já que o número de acidentes de trânsito também se reduziu notavelmente. Além disso, os doentes internados por covid-19, na grande maioria, não requerem transfusões de sangue.
Com a normalização gradual da circulação de pessoas, porém, os acidentes de trânsito e as cirurgias antes adiadas voltam a crescer em número, pressionando os bancos de sangue. As doações, entretanto, não retornaram aos volumes necessários: em vez disso, a rápida proliferação da variante ômicron tem voltado a dificultá-las, já que os milhares de infectados precisam guardar isolamento e, após se recuperarem completamente, ainda devem aguardar dez dias para poderem voltar a doar sangue. Esta norma, de segurança, é do Ministério da Saúde.
Desafio generalizado
Vários países encaram desafios semelhantes ou até mais graves.
No Reino Unido, o sistema público de saúde informou ainda em outubro de 2021 que os suprimentos haviam caído para "níveis críticos": só na Escócia, o número de doações chegou a ser o mais baixo em mais de 20 anos.
Nos Estados Unidos, o problema é tamanho que, na segunda semana deste mês de janeiro, a Cruz Vermelha norte-americana declarou "crise nacional" por falta de sangue pela primeira vez na sua história. O cenário forçou a remarcação de cirurgias, a recusa provisória de novos pacientes em alguns centros médicos e o adiamento, sem data certa, de tratamentos vitais. Desde março de 2021, a queda geral nas doações de sangue no país foi de 10%, mas as campanhas de doação nas escolas e universidades registraram uma redução de 62% nas coletas.
A queda de 10% é semelhante à verificada no Brasil em 2020, conforme dados do Ministério da Saúde. O remanejamento de bolsas de sangue entre diversos bancos conforme a demanda de cada região, porém, evitou a escassez.
Ainda segundo o ministério, houve leve alta de 4% nas doações entre janeiro e setembro de 2021 na comparação com o mesmo período de 2020, mas a chegada dos períodos de férias de fim e começo de ano, assim como a disseminação da variante ômicron do coronavírus e os surtos localizados de gripe e dengue, voltam a acionar os alertas. De fato, na primeira semana de janeiro deste ano, o Hemocentro de Brasília registrou queda de 23% nas doações.
Como você pode doar sangue no Brasil
Aproximadamente 2% da população brasileira é doadora de sangue. Ampliar este percentual para 4% já colocaria o país numa situação muito mais sustentável.
De acordo com o Ministério da Saúde, para doar sangue no Brasil é preciso:
Impedimentos temporários para doar sangue:
Impedimentos definitivos para doar sangue:
Um adulto tem, em média, 5 litros de sangue. Em cada doação, o máximo de sangue retirado é de 450 ml.
Por favor, considere tornar-se doador. É um gesto imenso de caridade e amor ao próximo!
Doação de medula óssea
Saiba também como tornar-se doador de medula óssea - outra necessidade contínua para salvar a vida de milhares de pessoas.