Sentado em uma cadeira, com uma camisa azul, mais magro e abatido: assim aparece o bispo da diocese de Matagalpa, monsenhor Rolando Álvarez, em foto divulgada pelo regime de Daniel Ortega após 116 dias de "prisão domiciliar" do religioso.
Segundo meios de comunicação locais como o La Prensa, o regime - por meio do Ministério Público - acusou Álvarez "pelos crimes de conspiração para atentar contra a integridade nacional e propagação de notícias falsas em detrimento do Estado e da sociedade nicaraguense".
Álvarez, que recentemente completou 56 anos, é o primeiro bispo preso e acusado desde que Daniel Ortega voltou ao poder na Nicarágua, em 2007.
A prisão de Álvarez, que também é administrador apostólico da Diocese de Estelí, ocorreu em 19 de agosto, quando a Polícia de Ortega invadiu a cúria episcopal onde ele estava hospedado com um grupo de padres e leigos. Alguns deles também estão detidos.
"Infame"
O coletivo de Direitos Humanos da Nicarágua ("Nunca más") repudiou a prisão do bispo e afirmou que a acusação a ele imputada é "infame" .
“Bispos e padres têm sido alvo de ataques desde 2018, quando foram espancados e forçados ao exílio, como o monsenhor Silvio Báez, o padre Edwing Román e outros padres, enquanto outros religiosos foram condenados ou estão presos aguardando julgamento com falsas acusações. Exigimos o fim dessas graves violações dos direitos humanos, particularmente da liberdade religiosa, que visam silenciar, prender, exilar ou enterrar um povo que merece liberdade, verdade e justiça", afirma o coletivo.
Assédio e prisão de vários padres em poucos meses
Na Nicarágua, persiste desde junho o clima de tensão máxima contra a Igreja, que Ortega descreveu como uma "ditadura perfeita".
A mesma situação preocupante em relação a Álvarez ocorre com os padres e leigos que acompanharam o bispo quando ele esteve isolado na cúria episcopal, pois eles também são acusados de "conspiração" e "propagação de notícias falsas".
No domingo, 11 de dezembro, foi noticiado o “sequestro” de dois jornalistas também ligados à Diocese de Matagalpa.
Mas a lista de membros ligados à Igreja presos no primeiro semestre de 2022 era maior (11 em menos de seis meses, relembrou um reportagem do site Confidencial ).
Tudo isso acontece em meio a episódios que aguçaram a perseguição contra a Igreja na Nicarágua. Entre eles, a saída do país, em março, do núncio apostólico Waldemar Sommertag e a expulsão das Missionárias da Caridade de Madre Teresa de Calcutá, em julho. Além disso houve proibição de famosas procissões religiosas (Virgem de Fátima, São Miguel Arcanjo e São Jerônimo, entre outras).
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