Após 116 dias de prisão ilegal, o bispo dom Rolando Álvarez, da diocese de Matagalpa, Nicarágua, finalmente ficou sabendo qual é a acusação que o regime de Daniel Ortega tem contra ele.
A ditadura sandinista anunciou neste dia 13 de dezembro que o bispo será submetido em 10 de janeiro a uma audiência pública na qual responderá por conspiração e difusão de notícias falsas - um expediente genérico utilizado cada vez mais disseminadamente por regimes autoritários para perseguir e calar seus opositores.
A acusação formal só foi feita após quase quatro meses transcorridos desde a detenção arbitrária do bispo, que está na capital, Manágua, em prisão domiciliar. Ele foi preso em 19 de agosto depois de um cerco policial que impediu entradas e saídas da casa episcopal durante quinze dias.
Segundo a Diretoria de Imprensa e Relações Públicas do Complexo Judicial Central de Manágua, pesam sobre o bispo de 56 anos de idade os alegados "crimes de conspiração por atentar contra a integridade nacional e divulgar falsas notícias através das tecnologias de informação e comunicação em detrimento do Estado e da sociedade nicaraguense".
O jornal local El Confidencial registra que esse mesmo tipo de acusação genérica e passível de ampla manipulação é usado pelo regime de Ortega para justificar mais de 40 prisões de adversários políticos.
O processo contra dom Rolando se estende ainda a outros acusados ligados à Igreja, como o padre Uriel Antonio Vallejos, diretor da Rádio e Canal Católico Sébaco, que foi fechada pelo governo em agosto. O sacerdote está exilado e é considerado pelo poder judiciário nicaraguense como "foragido da justiça". O país chegou a pedir a sua captura à Interpol.
A perseguição da ditadura do ex-guerrilheiro de esquerda contra a Igreja Católica piorou dramaticamente ao longo de 2022.
Além dos casos do bispo e de padres presos ou no exílio, repercutiram internacionalmente a expulsão do núncio apostólico e de congregações religiosas como as Missionárias da Caridade, assim como a censura e o fechamento de diversos meios de comunicação católicos e a proibição de manifestações religiosas como procissões que estavam em pleno andamento.