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Se Deus existe, onde está? Onde vive?

D. Carlo Molari - publicado em 18/01/13

Ouvimos dizer que Deus está no céu, na terra, em todo lugar. Mas onde Ele estabeleceu a sua morada? É um lugar espiritual, separado do universo físico?

Deus não é tempo nem espaço, de modo que não se pode falar de um lugar onde Deus mora. Para nós, criaturas de Deus, é onde podemos acolher a sua ação, que se expressa em nós como força de vida, como intuição da verdade ou desejo de bem. Onde Deus atua, Ele existe para nós.

As dimensões de tempo e espaço são características de nossa atual condição de criaturas materiais. Por aquilo que entendemos de Deus, Ele não se limita ao tempo ou ao espaço. Por isso, não podemos falar de um "lugar" onde Deus mora. Para nós, criaturas, Deus está onde nós podemos sentir e acolher a sua ação, que se exprime como revelação da verdade ou atração pelo bem. Onde Deus opera, Ele existe. E onde as criaturas expressam a sua ação, lá está Deus. Uma maneira de compreender a presença de Deus é então interpretar a sua ação.

Há várias formas de se conceber a ação de Deus e a sua presença na criação e na história. A primeira considera o criador como aquele que inicia o processo, dá o impulso para o desenvolvimento completo, mas dota a criatura de autonomia, para que possa gerir o seu futuro até a conclusão, sem dever mais intervir.

Esse modelo é fruto das ideias de filósofos e teólogos medievais que falavam do impulso divino (ou ímpeto – impetus –, no termo usado por Jean Buridan 1290-1358) como de uma determinada quantidade de força colocada por Deus na criação, força essa que permite a execução do movimento sem qualquer ajuda externa.

Esse modelo também vem da concepção do tzimtzum, desenvolvida pela cabala judaica, que afirma que Deus contraiu a sua infinitude para dar espaço às criaturas. Estas, uma vez inseridas na existência, avançam de modo autônomo até o fim. Deus se retraindo cria o espaço para a existência das criaturas.

O segundo modelo, mais tradicional, além da ação inicial de Deus, também dá uma atenção assídua ao seu progresso, intervindo com ações pontuais e gestos circunstanciais quando se deve superar um limiar (da existência inanimada à vida, da vida vegetal à sensibilidade, à consciência etc.).

Um terceiro modelo considera a criatura continuamente dependente da ação e da fonte divina, mas de forma aberta e não determinista. É o modelo da criação contínua. A criatura é sustentada por uma força oculta, que a partir de dentro alimenta o seu progresso, oferecendo muitas possibilidades. Não se trata de intervenções sucessivas de Deus, mas de uma ação fundadora que sustenta o devir cósmico e dos seres. As criaturas podem acolher este dom em pequenos fragmentos sucessivos, que a estruturam e conduzem até a sua realização.

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