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Papa Francisco: opção pelos pobres sem cair no marxismo

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Aleteia Vaticano - publicado em 19/03/13

Entrevista com Marcelo Gullo

Marcelo Gullo é doutor em Ciências Políticas pela Universidade do Salvador (Argentina), da qual o atual Papa Francisco foi professor. Discípulo do cientista político Hélio Jaguaribe e do sociólogo e teólogo uruguaio Alberto Methol Ferré, Gullo é um profundo conhecedor do pensamento e da ação do novo Papa.

Qual é o traço humano que melhor define o Papa Francisco?
O Papa Francisco é um homem austero, humilde, simples e de enorme formação doutrinal, que soube privilegiar a opção pelos pobres sem cair nas vulgatas pseudo-marxistas.

Em sua experiência, o nome de Francisco é uma resposta do Papa à necessidade de reconstruir a Igreja?
A escolha do nome "Francisco" pelo cardeal Jorge Bergoglio tem, sem dúvida, um significado triplo: reconstruir e purificar a Igreja, reevangelizar a Europa e dirigir o olhar da Igreja preferencialmente às pessoas e povos mais pobres.

Você diria que se trata de formar uma Igreja mais horizontal, partindo do Papa?
Há muitos séculos, em um momento difícil para a cristandade, em que as forças do mundano haviam dominado a Igreja e não lhe permitiam levantar a cabeça para olhar para o alto, o sopro do Espírito Santo fez surgir, em um pequeno povoado da Itália, um homem aparentemente frágil, que se despojou de todo o material que o atava ao mundo para poder erguer os olhos e ver o rosto de Cristo crucificado.

Foi assim que o caminho seguido por São Francisco reconstruiu a Igreja, e foi assim que todos os cristãos – especialmente os homens da Igreja, seus sacerdotes e bispos – puderam afirmar com toda sinceridade: "vosso é o poder e a glória para sempre, Senhor". É por isso que a escolha do nome "Francisco" adquire hoje um significado especial, para que nossos pastores possam dizer novamente, com total franqueza: "vosso é o poder e a glória para sempre, Senhor".

E sobre a volta do Evangelho à Europa?
Deus morreu há muito tempo na Europa. Os templos deixaram de ser os lugares da fé para tornar-se pontos turísticos ou simples museus. As únicas catedrais são os bancos, e os únicos valores são cotados na Bolsa de Londres ou Frankfurt. A Igreja, que soube lutar contra o materialismo comunista (que havia decidido extirpar Deus da terra por meio da violência), ainda não soube lutar contra o materialismo libertino da sociedade de consumo, que conseguiu (mediante uma revolução anestésica realizada na mídia) fazer o homem europeu esquecer que Deus existe.

Para o homem pós-moderno das sociedades mais desenvolvidas, o poder, o dinheiro e o prazer são as medidas de todas as coisas. Em um ritmo vertiginoso, a autoestima do ser humano passou do ter ao ser, do ter ao parecer e do parecer ao aparecer. O homem pós-moderno parece acreditar que a felicidade está em possuir bens materiais, em parecer-se com determinado modelo físico imposto pela mídia e em aparecer nos meios de comunicação. Por isso, a Europa é hoje uma terra de missão. Se a Europa teve, há cinco séculos, a glória de evangelizar o novo continente, hoje a América tentará ter para si a glória de reevangelizar o velho continente – com a ajuda de um dos seus filhos prediletos, o Papa Francisco.

Existem ações do então cardeal Bergoglio que agora podem se refletir em seu ministério petrino?
Eu gostaria de destacar que vale a pena não somente conhecer as ações levadas a cabo pelo então cardeal Bergoglio, mas é imprescindível também conhecer seu pensamento, para vislumbrar como será seu ministério petrino. É importante também ressaltar que jamais houve, no cardeal Bergoglio, diferença alguma entre o pensamento e a ação. Sem dúvida alguma, as profundas reflexões do cardeal Bergoglio sobre a história e o destino da América Latina (reflexões realizadas durante décadas) se refletirão em seu ministério petrino.

Conhecendo seu pensamento, podemos então afirmar que, durante o papado de Francisco, a centralidade da Igreja continuará sendo Roma, mas sua filha predileta deixará de ser a Europa e passará a ser a América Latina, onde vive a maior massa de católicos do mundo. Porque, para o Papa Francisco, o destino dos povos latino-americanos e o destino da catolicidade estão intimamente vinculados um ao outro.

Como você situaria a postura do Papa, em termos filosóficos e teológicos?
Em termos teológicos, a postura do Papa Francisco continuará sendo marcada pelo Vaticano II, por João Paulo II e por Bento XVI, sem grandes mudanças. Já no contexto da filosofia política, a grande novidade histórica é que o pensamento do Papa Francisco tem suas raízes no nacionalismo popular latino-americano de Manuel Ugarte, José Vasconcelos, Juan Domingo Perón e Alberto Methol Ferré.

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