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Os sete pecados (e as sete neuroses) capitais

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John Zmirak - publicado em 13/06/13

O pequeno e obscuro segredo das pessoas religiosas: toda uma lista de pecados que elas cometem mesmo sem perceber

Um dos temas mais populares nos livros sobre moral é o dos 7 pecados capitais. Esta enumeração de vícios, elaborada pela primeira vez por monges cristãos do Oriente, é uma maneira tão precisa de diagnosticar o comportamento humano, que até mesmo os ateus gostam de ler tais livros – e escrevê-los, claro.

Um dos melhores foi escrito pelo humanista Henry Fairlie, que não escolheu esse tema por deferência aos monges antigos, mas porque ele achou seus insights úteis. Outros bons livros sobre o assunto foram escritos por Solomon SchimmelFulton SheenRobert Barron e George Rutler. Eu adicionei um livro a esta coleção: "O guia do mau católico para os 7 pecados capitais" (The Bad Catholic’s Guide to the Seven Deadly Sins).

Mas eu decidi fazer algo um pouco diferente. Adotei algo que eu encontrei no tratamento de São Tomás de Aquino para estes males. Sim, ele expôs o pecado, e a "virtude oposta". Mas, como bom aristotélico, ele sabia que o raciocínio moral não é uma linha dimensional que corre da direita para a esquerda, com o pecado em um extremo e a virtude no outro.

Em vez disso, ele viu um triângulo, com uma espécie de vício em um extremo, outro vício no polo oposto (do tipo que nós hoje chamamos de "neurose"), e acima deles, no topo de uma pirâmide, a virtude.

Cada pecado capital envolve o abuso ou uso pervertido de uma coisa boa feita por Deus. Mas há mais do que uma maneira de abusar de alguma coisa, e, normalmente, uma forma reta para cada um de nós (dependendo do estado de vida) para usá-la bem. Dando um exemplo que agrada o público, vejamos o caso do sexo: pode-se entrar no pecado mortal da luxúria, e se envolver ou ficar obcecado com o sexo ilícito.

Mas, se você domina a castidade, você limita o seu uso a seu próprio contexto, o casamento. Ou – e aqui está o xis da questão –, se você foi consumido pelo medo do pecado ou desdém pela criação carnal, você pode muito bem conceber uma fobia com relação a algo bom que Deus fez, caindo na neurose de frigidez. Casamentos assexuados que terminam em divórcio crescem devido a este vício particular. Celibatários que olham com desdém para os casados ​​são igualmente culpados.

O mesmo raciocínio se aplica a cada um dos outros seis pecados capitais:

O avarento tem um apego muito forte às coisas boas que vêm do trabalho duro e da administração sábia. O generoso ama a riqueza em sua devida proporção, e domina a arte de compartilhá-la. Já o esbanjador, por outro lado, trata com desdém a riqueza e desperdiça o que tem.

O guloso consome prazeres carnais como comida ou vinho na quantidade errada ou no caminho errado. A virtude da temperança mantém todos os apetites sob controle, pela força da razão e da autocontenção; já a abstinência dos gnósticos leva a ver o alimento como um conjunto de unidades de nutrição intercambiáveis ​​e o vinho como um mal em si mesmo.

No polo oposto da ira mortal não está a santa paciência, mas o servilismo masoquista, que nos ensina a deixar os agressores ganharem e valentões triunfarem, seja qual for o custo para a próxima vítima que cruzar seu caminho.

Outro grande problema não é tanto o pecado da preguiça, mas a apatia, do tipo que pode levar ao desespero. O diligente aprende a ser dedicado com uma resignação saudável, valoriza suas limitações e fraquezas de maneira realista. Já os fanáticos lançam-se de cabeça em paredes, atormentam as pessoas que os amam, e se eles não se autoimolarem, podem se queimar e cair na apatia.

A vaidade ensina as pessoas a encher-se de orgulho por coisas que não são reais ou que não significam nada para o que elas realmente merecem; por exemplo, ficam orgulhosas por ser bonitas ou altas. Você pode combater esse vício pela prática cruamente honesta da humildade, que lhe mostra os prós e contras reais. Ou você pode entrar em pânico por ser orgulhoso e cair na escrupulosidade.

O oposto de inveja – pecado do próprio diabo, que odeia o bem – não é a virtude da magnanimidade, mas o tímido e vazio pecado da pusilanimidade, o tipo de coisa que leva um servo a enterrar o tesouro de seu mestre no campo.

Grande parte do problema e das loucuras de auto-tortura que encontramos nos círculos religiosos não vem tanto das pessoas afundadas em pecados capitais – embora todos nós tenhamos nossa parte neles –, mas sim de pessoas bem-intencionadas que descuidadamente reagiram de forma exagerada a um pecado, abraçando o vício oposto, apenas para estar do lado seguro.

Talvez a razão pela qual nós vemos tanta mediocridade e maledicência neurótica nos círculos dos fiéis cristãos é que nós perdemos de vista São Tomás e sua consciência de que a virtude é complexa, frágil e geralmente ativa.

Devemos trabalhar para formar-nos retamente, orar por uma boa orientação, e usar a mente que Deus nos deu para descobrir – à luz da razão – o que Deus realmente quer de nós.

Pode não ser exatamente o que você espera. Ele é cheio de surpresas.

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