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Nosso Papa anticlerical

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Russell Shaw - publicado em 17/06/13

Francisco não é o primeiro, mas talvez seja o mais franco

O Papa Francisco é o nosso primeiro papa anticlerical? Tecnicamente falando, ele não é – os seus dois predecessores imediatos também foram mais ou menos críticos do clericalismo –, mas ele está demonstrando ser talvez o mais franco.

Consideremos, por exemplo, uma citação de grande circulação a partir de uma entrevista de 2011, que ele deu enquanto ainda era o cardeal Bergoglio, de Buenos Aires. Caso você não tenha visto ou tenha se esquecido, o trecho é o seguinte:

"Como eu disse antes, há um problema: a tentação de clericalismo. Nós, sacerdotes, tendemos a clericalizar os leigos. Nós não percebemos isso, mas é como se nós os infectássemos com a nossa própria doença. E os leigos – não todos, mas muitos – nos pedem de joelhos que os clericalizemos, porque é mais confortável ser coroinha que o protagonista de um caminho leigo. (…)

O leigo é um leigo e tem de viver como um leigo, com a força de seu Batismo, que lhe permite ser fermento do amor de Deus na sociedade… não a partir de seu púlpito, mas de sua vida cotidiana. E o sacerdote – deixe o padre carregar a cruz de um padre, uma vez que Deus lhe deu um ombro largo o suficiente para isso."

Estas são palavras fortes e estimulantes. Mas, para além das palavras, o jeito de ser e estilo de vida de Francisco – despretensioso, simples, direto – constituem uma espécie de repúdio de certas convenções clericalistas (para que não haja qualquer dúvida, muitos outros bons sacerdotes também falam e vivem dessa forma).

A essência do clericalismo, no sentido em que o Papa Francisco (e eu) usa o termo, é uma forma de pensar que toma como certo que a vocação clerical e o estado de vida dos padres são superiores a todas as outras vocações e estados de vida cristãos.

Deste ponto de vista, segue-se que os clérigos são os agentes ativos na Igreja – aqueles que tomam as decisões, dão as ordens, exercem o comando. O papel dos leigos seria ouvir e fazer o que eles disserem.

Muitos leigos parecem ainda pensar desta forma, pelo menos tanto quanto os padres, mas provavelmente até mais do que eles. Isso é verdade inclusive (ou talvez especialmente) naqueles que se rebelam contra isso e acabam abandonando a Igreja.

Profundamente enraizado e difundido, o clericalismo é um abuso que substitui a ideia de uma Igreja cujos membros vivem em igualdade, tendo diversos cargos e funções, por uma caricatura: os clérigos são os chefes, os leigos são mandados.

E isso não acontece apenas nos Estados Unidos: em uma palestra dada recentemente em Nova York, o arcebispo Diarmuid Martin, de Dublin, disse que "fortes resquícios de clericalismo herdado" continuam atormentando a Igreja na Irlanda. "Já passou a época em que os clérigos exerciam o papel de dominadores da ‘Igreja institucional’, mas esta ideia ainda permanece na cultura", explicou.

Então, o que fazer? O Papa Bento XVI, mais de uma vez, sugeriu uma dimensão importante do que precisa ser feito em relação à "corresponsabilidade".

Em uma mensagem de agosto do ano passado, ele explicou: "A corresponsabilidade exige uma mudança de mentalidade relativa, em particular, ao papel dos leigos na Igreja, que devem ser considerados não como ‘colaboradores’ do clero, mas como pessoas realmente ‘co-responsáveis’ do ser e do agir da Igreja".

Esta é a ideia: a reforma da máquina administrativa central da Igreja está no topo da agenda do Papa Francisco. Será que encontrar formas para que os leigos tenham uma presença mais forte e uma voz mais ativa no que acontece em Roma é parte dela?

Talvez tenha chegado a hora de tornar isso realidade.

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