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Polêmica: “O celibato não é um dogma”

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Carlos Zapata - publicado em 16/09/13

Palavras de Dom Parolin, novo secretário de Estado do Vaticano, foram tiradas do contexto e levaram a interpretações equivocadas

"O celibato não é um dogma da Igreja e pode ser discutido, porque é uma tradição eclesiástica": esta frase virou manchete na imprensa internacional nos últimos dias, desde que foi tirada de contexto, em uma entrevista concedida a El Universal pelo novo Secretário de Estado do Vaticano, Dom Pietro Parolin.

Apesar de ter gerado um rebuliço – como tentam criar outras pessoas também, afirmando que o Papa Francisco aprova a Teologia da Libertação ou o ateísmo –, a realidade é que o celibato não é dogma, mas tampouco está aberto mundialmente ao debate.

A polêmica começou, na verdade, com Peter Seewald, quem, em seu livro-entrevista com Bento XVI ("O sal da terra"), cujo texto tive o prazer de devorar, quase memorizar, pergunta várias vezes sobre o celibato, obtendo respostas amplas e claras.

Seewald dedica um capítulo inteiro ao tema, que, na 5ª edição (2005), ocupa 8 páginas. Transcrevo aqui alguns trechos deste interessante texto, no qual o então cardeal prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, mais tarde Bento XVI, deixa clara a posição da Igreja:

"Seewald: Por outro lado, não é um dogma. O problema será discutido algum dia, no sentido de escolher uma forma de vida com ou sem celibato?

Ratzinger: De fato, não é um dogma. É um costume de vida que, desde muito cedo, foi se formando no interior da Igreja, por boas razões bíblicas. (…) Naturalmente, ele envolve o risco de que haja quedas. Quando se quer chegar tão alto, pode haver quedas.

Acho que as pessoas atualmente ficam contra o celibato porque veem muitos padres que, de fato, no seu interior, não concordam muito com ele, e então o vivem de maneira hipócrita, errada, ou simplesmente não o vivem, ou o vivem angustiados, e dizem que…

Seewald: … que destrói a pessoa…

Ratzinger: Quanto menos fé houver, mais quedas haverá. E, com isso, o celibato acaba também perdendo prestígio e não se reconhece tudo o que ele oferece de positivo. (…)

Seewald: Mas, se os números de rupturas do celibato são exatos, poderíamos dizer, de fato, que o celibato fracassou há muito tempo. É por isso que repito a pergunta: algum dia se abrirá o debate sobre a possibilidade de uma livre escolha?

Ratzinger: O celibato sempre tem de ser de livre escolha. Mais ainda: antes da ordenação sacerdotal, é preciso afirmar, sob juramento, que ele é aceito livremente e porque se quer. Eu sempre fico incomodado quando dizem que o nosso celibato é obrigatório e que nos foi imposto.

O celibato é vivido desde o começo, por uma palavra dada. Mas seria preciso colocar mais atenção durante a preparação para o sacerdócio, para que essa palavra seja seriamente dada. (…) Eu acho que, no fundo, suprimindo esta condição, nada melhoraria; a única coisa que conseguiriam seria disfarçar um pouco uma autêntica crise de fé. Para a Igreja, sem dúvida, é uma tragédia que haja alguns – poucos ou muitos – que vivem uma vida dupla. (…)

São costumes na vida da Igreja que, ainda que estejam bem alicerçados e fundamentados, não há por que concebê-los como totalmente absolutos. A Igreja com certeza se questionará sobre muitas coisas, uma e outra vez, como acabou de acontecer nos últimos dois sínodos.

Mas, partindo sempre da história da cristandade do Ocidente, e por tudo o que está no fundo desta questão, acho que a Igreja não deve pensar que, se decidisse solucionar esta ‘desadaptação’, ela sairia ganhando. Porque ela sairia prejudicada, certamente."

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