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Quem terá escutado as ligações telefônicas do Papa Francisco?

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Inma Alvarez - publicado em 31/10/13

Reflexão sobre a tranquila resposta do porta-voz vaticano, Pe. Federico Lombardi

Informação é poder, mas é poder deste mundo.

A revista italiana "Panorama" revelou que, entre os alvos da espionagem da Agência Nacional de Segurança dos EUA (NSA), também estava o Vaticano. A quase despreocupada resposta do Pe. Federico Lombardi diante da pergunta dos jornalistas foi: "Não temos informações sobre este tema, mas, de qualquer maneira, também não temos preocupação alguma a respeito disso". Interessante contraste com a irritada resposta de Angela Merkel, ao saber que suas conversas privadas haviam sido espionadas.

O Vaticano não é consciente da gravidade do escândalo? Certamente sim, depois da dor produzida pelo vazamento de informações conhecido como "Vatileaks", no qual documentos privados desapareceram do escritório papal. Mas, nesse caso, o foco era a preocupante sensação de ter um espião dentro de casa, uma pessoa aparentemente fiel que agia nas sombras, por motivos inconfessáveis.

A "limpeza" iniciada por Bento XVI – e que continua com seu sucessor – nos organismos financeiros da Santa Sé leva a pensar que, realmente, se houvesse alguma informação secreta de cunho econômico revelada pelas escutas telefônicas, o próprio Papa Francisco ficaria feliz em saber.

Por outro lado, que o Vaticano não escape das escutas das agências de inteligência das grandes potências, era de se esperar, dada a intensa atividade diplomática da Santa Sé. São muitos os chefes de Estado e muitas as questões delicadas que passam pelas mãos do Papa, tanto de Francisco como dos seus antecessores.

Mas também é verdade que a reserva vaticana tem a ver com a prudência, e não com os interesses econômicos ou geoestratégicos. O Vaticano é um protagonista político de primeira ordem, mas como uma instância moral que ajusta as relações entre os países. Ele não tem nada a ganhar com isso. No máximo, conseguirá a proteção das minorias cristãs e dos bens da Igreja nos países em conflito, mas estes não seriam motivos inconfessáveis.

Parte das escutas realizadas, segundo revela o "Panorama", ocorreu durante a realização do conclave do qual o Papa Francisco saiu eleito. Dadas as enormes medidas de segurança que a Santa Sé desenvolve para manter o sigilo durante um conclave, caberia esperar um pouco de preocupação nas altas esferas vaticanas. Mas não foi isso que aconteceu.

O impenetrável sigilo que permeia a eleição de um papa foi concebido, antes de tudo, para evitar a entrada de informação, mais do que a saída: ou seja, o que se busca é evitar as pressões externas sobre os cardeais eleitores, de maneira que ninguém de fora possa condicionar um momento tão delicado. O problema mais grave não são as escutas, mas as interferências.

Resta, finalmente, a ironia de que surja o tema das escutas precisamente com o Papa mais "telefônico" que já passou pelo Vaticano. Seria muito divertido escutar as gravações do Papa Francisco ligando para aquela mãe solteira ou para o dentista argentino.

Para um Papa que decidiu fazer-se ouvir pelas pessoas "de fora", saber agora que os técnicos das agências de inteligência também estavam atentos pode até tê-lo feito pensar que a Providência tem caminhos inesperados para levar a Boa Notícia da salvação da humanidade.

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