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Japão, a Terra do Sol Poente?

Japan: Land of the Setting Sun – pt

Chikache

Steven W. Mosher - publicado em 15/06/14

Bispos japoneses relatam que os católicos de um Japão em vias de extinção são indiferentes aos ensinamentos da Igreja sobre casamento e família

É um estranho paradoxo.

O Japão tem uma das economias mais fortes do mundo. O povo japonês se alimenta e se educa melhor do que nunca. A renda per capita nunca foi tão alta e a expectativa de vida nunca foi tão longa. Ao mesmo tempo, no entanto, as taxas de natalidade caíram para níveis anêmicos e a população envelhece mais a cada ano. Mesmo “The Economist”, que não é dado a hipérboles, escreve que "o Japão está envelhecendo mais rápido que qualquer outro país na história".

As mulheres japonesas têm atualmente a média de 1,39 filhos, bem abaixo dos 2,1 que os demógrafos consideram como o número necessário para manter a população estável. Acontece que faz 50 anos que a taxa de natalidade japonesa está abaixo dessa média.

O Japão já tem a população mais velha do mundo e, com relativamente poucos imigrantes, não parece haver nenhuma forma de o país fugir deste iminente democídio. Os idosos vão morrer e, nos anos vindouros, haverá menos pessoas e muito menos trabalhadores nas ilhas nipônicas. Não é exagero dizer que os japoneses desaparecerão da face da Terra em poucas gerações se algo não for feito logo.

Seria de se esperar que os católicos japoneses fossem uma exceção a esse quadro sombrio. Afinal, em seu casamento, eles prometem viver abertos à vida; seu livro sagrado, a Bíblia, se refere às crianças como bênçãos; e a pessoa de ninguém menos que o papa os encoraja a ser fecundos.

Mas os bispos japoneses relatam que não é assim que as coisas acontecem na prática.

Em resposta ao questionário que o Vaticano enviou aos episcopados de todos os países com perguntas sobre a família, os bispos do Japão observam que a concepção cristã do casamento baseado na lei natural "não é geralmente entendida nem aceita" no país.

Um dos motivos deste panorama é que 76% dos católicos japoneses casados têm um cônjuge não católico. Ao contrário dos casamentos mistos em outros países, o cônjuge não católico no Japão tende a não se batizar e a ter pouca compreensão ou apreço pela visão cristã do mundo no tocante à vida e à família.

Além disso, a sociedade japonesa é agressivamente laica: tanto o aborto quanto a contracepção são vigorosamente promovidos em aulas de educação sexual nas escolas. Os bispos admitem que o rebanho é "mais influenciado por normas sociais" do que pelos ensinamentos da Igreja, "especialmente quanto ao controle da natalidade".

O relatório não diz quantos filhos o casal católico tem em média no Japão. Mas a minha impressão, com base em discussões anteriores com bispos japoneses e com padres missionários, é que os católicos do país, especialmente nos casamentos mistos, têm o mesmo número de filhos que a sociedade japonesa em geral.

Apesar dos séculos de esforços de dedicados missionários, desde São Francisco Xavier no século XVI até hoje, só existem cerca de 440 mil católicos japoneses, o que representa cerca de 0,33% da população. O Japão como um todo tem sido notoriamente resistente à conversão e, como os bispos observam, "as oportunidades de influenciar a sociedade com os valores e ensinamentos do Evangelho são profundamente limitadas".

Se existe esperança, ela está na população de imigrantes, muitos dos quais provêm de países católicos como as Filipinas e o Brasil. Missas em inglês são hoje relativamente comuns nas grandes cidades, pensando-se especialmente nas centenas de milhares desses imigrantes, que também tendem a ser mais formados na fé e mais fervorosos na sua prática do que os católicos locais.

Os esforços cada vez mais frenéticos do governo para aumentar a taxa de natalidade oferecem outra possibilidade. Os líderes e os leigos da Igreja poderiam combinar os seus esforços com os do governo para encorajar os jovens casais a serem mais abertos a ter filhos, já que duas das perguntas da pesquisa vaticana foram justamente estas: “Como promover uma atitude mais aberta aos filhos?” e “Como promover o aumento dos nascimentos?”.

Os bispos japoneses, liderados pelo arcebispo Peter Takeo Okada, de Tóquio, responderam: "Para melhorar a situação atual, a Igreja deve trabalhar de várias maneiras com o governo e com as organizações cívicas. Além disso, a preparação para o matrimônio deve incluir o planejamento familiar e o entendimento de que ter e educar filhos faz parte do casamento".

Espera-se que os bons bispos consigam fazer o seu povo entender que os esforços da Igreja são essenciais para a sobrevivência do Japão –e que, ao falarem de "planejamento familiar", eles querem dizer planejamento familiar natural, é claro.

Tags:
Cristianismo
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