Manter o frescor do dia-a-dia é o segredo de uma vida boa
Meu amigo dom Terry Richey, da arquidiocese de Los Angeles, é conhecido pela bondade, sabedoria e sagacidade. Certa vez, eu perguntei a ele qual era a sua dica para um bom retiro espiritual.
"Eu só tenho uma regra", respondeu ele. "Eu não me deixo entediar".
Quanto mais eu pensava nisso, mais compreendia o que ele queria dizer. “Reflita sobre o que você vai falar. Fale de coração. Não reduza as suas palavras, pensamentos e ações a uma fórmula”. E quanto mais eu pensava nisso, mais percebia que não me deixar entediar é uma boa regra para a vida toda!
Eu não me deixo entediar na oração.
Eu não me deixo entediar nas conversas.
Eu não me deixo continuar num trabalho que me entendia, podendo escolher outro.
Eu não me deixo entediar na minha fé.
Isto não significa, é claro, que devamos nos obrigar a sentir um frenesi de louco entusiasmo todas as manhãs. O pe. Terry também diz o seguinte: "É sinal de sanidade não sair por aí de rosto acalorado berrando sobre Deus aos quatro ventos".
O que eu acho é que nós devemos, na medida do possível, manter o frescor da nossa fé.
É um sinal da graça de Deus que, independentemente do quanto estejamos sofrendo, do quanto nos sintamos sobrecarregados, do quanto o nosso progresso pareça lento, ainda assim estejamos dispostos a ser surpreendidos; ainda assim sejamos capazes de perceber a luz que brilha, a comida na mesa, os rostos dos nossos vizinhos, que muitas vezes também sofrem!
Estive recentemente no norte de Ontário, no Canadá. Eu pensava numa ideia que tinha ouvido havia pouco tempo: que Deus nunca se impõe a nós contra a nossa vontade. Portanto, se nós queremos ser mudados, somos convidados a nos mostrar abertos à mudança.
Todos os dias, neste vilarejo rural de Combermere, eu dou um passeio a sós. Uma tarde, descendo por uma estrada deserta de terra, só os pássaros e eu, proclamei em voz alta: "Deus, você tem a minha permissão. Pode me desmontar! Pode me desmontar e me refazer de novo do jeito que você quiser! Permissão total. Tudo o que você tiver que fazer, faça".
Eu não sei vocês, mas quando eu digo “desmontar”, vou logo pensando que Deus me faria enfrentar queimaduras de terceiro grau, ou me envolveria num acidente de carro, ou qualquer outra coisa dramática. Para fortalecer o meu caráter, enfim. Para que eu pudesse oferecer o meu sofrimento de alguma forma nova. Eu sou como a personagem do conto "Um templo do Espírito Santo", de Flannery O’Connor: "Ela nunca poderia ser santa, mas pensava que poderia ser mártir se eles a matassem rápido"…
Raramente me ocorre pensar que Deus possa me “desmontar” de um jeito tão sutil e suave que eu mal me dê conta. Nunca me ocorre que Ele possa me desmontar de tal forma que aquilo que eu sinta seja mais paz, e não menos! De uma forma que me permita não só amar mais, mas também me sentir mais amada! Para mim, é difícil aceitar que Deus possa me dar não mais sofrimento, e sim mais gratidão, mais conhecimento, mais vontade, mais alegria!
Eu digo tudo isso porque estou fazendo os exercícios espirituais inacianos de um mês, em silêncio. Passei um bom tempo longe de casa; o retiro foi precedido por dez dias de viagem, visitas, conversas, conversas, conversas. Para uma pessoa extremamente introvertida, como eu, esse tipo de atividade humana, não importa o quanto eu ame as pessoas com quem estou convivendo (e eu as amo muito, mesmo!), é uma forma real de sofrimento.
Eu estou surpresa, por isso, ao perceber o quanto eu lidei bem com essa experiência. Eu tendo a ficar mal-humorada quando não disponho do silêncio e da solidão. Desta vez, consegui me divertir, junto com família e amigos, apesar do fato de estar sofrendo. Não só isso: eu percebi, de uma forma nova, que eu não estava mais tentando mudar mentalmente, resgatar e corrigir as pessoas com quem eu entrava em contato! Eu vi que sou capaz de amar as pessoas do jeito que elas são e que elas são capazes de me