Falamos com Franca Giansoldati, a jornalista que quebrou um tabu secular e realizou uma das mais importantes entrevistas com o Papaà
O jornal da Santa Sé, L’Osservatore Romano, escreveu que “é a segunda vez que isso acontece na história do papado: a primeira foi em 1892 quando, no ‘Figaro’ do dia 4 de agosto, foi publicada a entrevista de Séverine (Caroline Rémy), a Leão XIII”; a segunda entrevista a um pontífice foi publicada no último dia 29 de junho no jornal italiano “Il Messaggero”, concedida pelo Papa Francisco a Franca Giansoldati.
A Aleteia entrevistou a jornalista que quebrou este tabu no Vaticano. A jornalista Franca Giansoldati, formada pela Universidade de Bolonha, tem 25 anos de experiência profissional. Ela escreveu seu primeiro artigo quando tinha 18 anos. Quando trabalha na agência de notícias Adnkronos, começou a cobrir assuntos da Igreja e do Vaticano. Colaborou também com a agência ANSA. No próximo dia 16 de agosto festejará seus 50 anos de idade, no voo papal que levará o Papa Francisco à Coreia do Sul.
Quais ideias passaram por sua mente considerando que foi a primeira jornalista a “quebrar” um recorde mundial das informações vaticanas?
Estou feliz, ao menos por ter sido a segunda [mulher a entrevistar um papa na história]. Eu não sabia disso até o momento em que li no L’Osservatore Romano. É curioso. De qualquer modo, acho que seja singular que exista um recorde deste tipo. Talvez o Papa deveria ter sido entrevistado por uma mulher muito antes. Não consigo entender por que o Vaticano é tão singular. Os presidentes estrangeiros são entrevistados por jornalistas mulheres. No Vaticano este fato é curioso. É singular que eu seja a primeira multar nos tempos modernos a entrevistar um Papa.
Como se explica?
Penso que a Igreja tenha muita estrada para percorrer. Não falo das questões teológicas relativas ao sacerdócio feminino, é uma coisa velha, e a questão é o fechamento. Penso que se trata de uma questão cultural. A Igreja é formada por 1,2 bilhão de fiéis no mundo, mais da metade são mulheres. Podemos questionar qual é a voz da mulher na cúpula da Igreja.
Podemos pegar como referência o organograma do Vaticano. Outro dia li sobre a primeira mulher nomeada reitora da Universidade Pontifícia Antonianum, de Roma (Irmã Mary Melone, S.F.A), mas estamos em 2014! O organograma do Vaticano é exclusivamente masculino. Conheci no Vaticano mulheres muito bem preparadas, com vários títulos acadêmicos, que falam 3 ou 4 línguas e têm encargos secundários, marginais. São raros os casos nos quais uma mulher é nomeada para um cargo importante, mas deveria ser normal. Não podemos ficar surpresos se um Papa nomeasse uma mulher como presidente de um decastério vaticano.
Não me refiro à Congregação para o Clero, mas para o Pontifício Conselho para os Leigos espero a nomeação de uma mulher, ou talvez no Pontifício Conselho das Famílias, porque não se pode nomear um casal. É sobre isso que me refiro.
Em sua entrevista com o Papa Francisco, fala-se do mal das grandes cidade, da corrupção, da “bandeira” dos pobres (roubada na Igreja de Marx), da exploração de pessoas, da pedofilia… Qual destes temas é o mais destacado de sua entrevista e por quê?
Depende da sensibilidade de quem lê. Em Roma, sei que se está desenvolvendo uma reflexão positiva, por exemplo, sobre palavras que o Papa usou para ilustrar a degradação moral da sociedade, na qual se chega a tolerar as aberrações dos clientes das crianças prostitutas. Pela primeira vez, Francisco fez cair um tabu e definiu os clientes desses meninas como pedófilos. Fala-se de crianças entre 13 e 14 anos, e que colocam saltos altos, crianças com uma consciência frágil e que devem ser protegidas, não desfrutadas. Quem aproveita delas são os pedófilos. O Papa tem razão.