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Tenho medo do ebola, muito medo, mas não vou embora!

Fighting Ebola in West Africa – pt

European Commission’s Humanitarian Aid and Civil Protection department

Alvaro Real - publicado em 07/08/14

Outro missionário luta contra o ebola: “Não consigo me imaginar usando um traje tipo espacial da NASA para conviver com o meu povo”

São muitos os missionários que convivem hoje com a epidemia do ebola, acompanhando seus passos. E seus familiares estão preocupados com esta situação. Por meio de e-mails, entram em contato com eles, perguntando-lhes sobre sua saúde.

Um missionário publicou em seu blog suas preocupações pessoais, seus medos, mas também sua segurança e sua vontade de continuar com seu trabalho de evangelização.

É o caso de José Luis Garayoa, missionário agostiniano recoleto espanhol. Ele foi sequestrado pelos rebeldes em 1998, na guerra civil que assolou Serra Leoa, mas seus sequestradores não conseguiram amedrontá-lo. Voltou em 2005, para trabalhar na missão de Kamabai. E não pretende deixar que o ebola o vença.

Agora, o medo volta a estar presente em sua vida, mas, neste caso, não se trata do medo de um sequestro, mas de um vírus, como relata em seu blog: “Tenho medo, muito medo, mas, de uma entrevista que li há algum tempo, guardei estas palavras: ‘O medo é o assassino do coração humano, porque, com medo, é impossível ser feliz e fazer os outros felizes’. Só se pode enfrentar o medo com a aceitação, porque o medo é resistência ao desconhecido”.

Suas palavras foram escritas em abril, quando o ebola já fazia estragos na África, mas suas consequências ainda não eram manchete nos jornais do mundo inteiro.

Já naquele momento, o missionário começou a receber ligações e e-mails que manifestavam a preocupação dos seus conhecidos. Inclusive a embaixada o convidou a ser mais precavido e, se possível, que fosse embora de Serra Leoa. Mas ele não lhes deu muita atenção.

“Sei que todos os que me conhecem se surpreenderiam se eu fugisse por medo do contágio. Nunca fiz isso, e já não tenho idade para começar a fazê-lo. Minhas noites se encheriam de pesadelos, ao sentir-me traidor do meu povo. Assim, com ou sem ebola, não pretendo alterar, no mais mínimo, minha saída do país que, se Deus quiser, será somente em setembro”, era sua resposta taxativa.

Em uma das cartas, do Ministério da Educação e do Ministério da Saúde, pedem-lhe que seja extremamente cuidadoso: “Não comer carne de macaco, nem de morcegos, nem de porcos-espinho, nem de animais mortos. Tampouco tocar nos doentes, e simplificar os ritos funerários, porque o cadáver poderia estar contaminado”.

“Não quero nem lembrar dos inúmeros macacos e porcos-espinho que comi celebrando São Francisco Xavier, o santo padroeiro de Kamayeh”, respondeu ele.

De maneira irônica, o missionário falou do protocolo do qual lhe informaram: “Se os infectados se multiplicam em uma aldeia, isolam a aldeia, deixam todos morrerem, e depois incineram o local”. E comentou: “Não consigo me imaginar usando um traje tipo espacial da NASA para conviver com o meu povo”.

Depois, já mais sério, afirmou: “Nós, missionários, não costumamos ser os primeiros em abandonar o barco. E agora tampouco. Se, como diz o Papa, o pastor precisa ter o cheiro das ovelhas, convivendo de perto com elas, então precisará estar presente se o lobo as atacar. Somente o assalariado foge quando vê o perigo chegar. O bom pastor é aquele que dá a vida pelas ovelhas. E isso é o amor que aprendi de Jesus de Nazaré”.

“Nossas vidas continuam estando nas mãos de Deus – e não nas de um vírus chamado ebola”, conclui seu comentário, dando um impressionante testemunho.

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