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Nomeação é «apreço» por Cabo Verde

D. Arlindo Furtado

Família Cristã

Ricardo Perna - Família Cristã - publicado em 05/01/15

"A princípio pensei que seria uma brincadeira", afirmou D. Arlindo Furtado, bispo de Santiago, à Família Cristã

D. Arlindo Furtado, bispo de Santiago, em Cabo Verde, será um dos 15 novos cardeais que o Papa Francisco irá nomear no próximo dia 14 de fevereiro.

À Família Cristã, o prelado revelou que se recebeu a nomeação com «muita surpresa». «A princípio pensei que seria uma brincadeira de mau gosto (risos), quando ouvi, mas pouco a pouco fui tomando consciência de que se tratava de uma coisa séria», conta.

Para o bispo de 65 anos, a nomeação não é «tanto uma questão pessoal», mas um «apreço» pela diocese de Santiago, uma «das mais antigas» em África. «No fundo, é um apreço e um reconhecimento pelo percurso da Igreja em Cabo Verde, que é uma das mais antigas da África subsaariana, que tem alguma especificidade no contexto africano, pois é um país maioritariamente cristão, imbuído de valores cristãos, de que a Igreja Católica é portadora, e portanto foi mais esse apreço que uma questão de carácter pessoal», considera D. Arlindo.



A intenção de chegar às periferias foi mais uma vez notória com esta nomeação, o que apraz ao bispo de Santiago.
«Nas periferias trabalha-se muito na pastoral da proximidade.

Acho que o Papa, sendo um homem da pastoral de proximidade, de acolhimento, de igreja em saída à procura das pessoas que precisam da luz de Deus, naturalmente que quer dar um sinal, preferencialmente às igrejas do Norte [hemisfério]», refere.



Um sinal de futuro? «Um sinal do caminho que devem tomar: proximidade, simplicidade, convivência com o povo e fazer sentir o calor da presença do pastor como representante de Cristo, e de todos os agentes da pastoral». Isto porque, no entender deste prelado, «no Norte a tendência é para o raciocínio frio, para uma certa burocratização, uma certa acomodação, ritualismo.

A Igreja mais simples, próxima e acessível, e portanto mais estimulante à comunhão, que é a característica da Igreja, é o que se pretende», sustenta.



Este exemplo que a Igreja que foi, durante tantos anos, destino de missionários europeus, guarda, pode ser a chave para o futuro da igreja no Norte, de onde saíram esses missionários. «Durante muito tempo, os missionários estiveram próximos das pessoas, e deram a experimentar essa comunhão intensa com as pessoas, o cuidado em todas as circunstâncias, e hoje em dia aquilo que nós recebemos e conservámos pelo estilo de vida mais simples, queremos devolver para essas igrejas que vivem com os problemas do individualismo.

Porque as pessoas precisam do calor humano, do encontro, da convivência e da fraternidade sentida», defende D. Arlindo Furtado.



Apesar de não saber o que o cargo de cardeal lhe reserva, declara-se pronto para colocar ao serviço da Igreja a sua «experiência de pastor, de abertura e de acolhimento, de sair à procura e criar pontes para o diálogo e a partilha de vida».

Papa quer «humanizar certas decisões»

Estas nomeações cardinalícias chegam numa altura em que a própria Cúria enfrenta uma era de reforma, iniciada pelo Papa Bento XVI e continuada pelo Papa Francisco.

Nos dias que antecedem o Consistório onde serão criados os novos cardeais, o Papa estará reunido com a Cúria Romana para lhes dar contas das reformas que se vão iniciar no Vaticano.

D. Arlindo considera que a reforma é bem-vinda, já que a Igreja «centralizou muito e criou muita burocracia, que se torna pesada e desnecessária». «A Igreja devia ter uma burocracia mínima, necessária, mas ser acima de tudo construtora de pontes e de comunhão», defende.



Esta necessidade de «agilizar» algumas coisas pode levar a grandes mudanças. «Não sei se alguns dicastérios poderiam estar fora de Roma, mas a facilitação dos processos, o contacto mais direto com a realidade e o dar alguma capacidade de decisão em certas matérias às conferências episcopais ou regionais, poderiam ser solução», considera D. Arlindo.

Até porque, segundo o bispo de Santiago, «o Papa quer agilizar os processos da Igreja para humanizar certas decisões, tornando-as mais próximas e candentes». «Tudo são possibilidades, mas sabemos que a decisão última dependerá sempre do Papa», conclui.

Ricardo Perna

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