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O que um sacerdote sente ao ouvir nossa confissão?

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Carlos Padilla Esteban - publicado em 12/01/15

A reflexão sincera e profunda de um padre

Na vida, não basta ser canal. Também é preciso ser recipiente, poço. Uma frase do Pe. José Kentenich me dá muita luz:

“Segundo São Bernardo, precisamos nos preocupar por ser receptáculos, e não somente canais. Se sou somente um canal, isso quer dizer que Deus distribui suas graças através de mim, mas sem que esses dons me toquem em profundidade. Não podemos ser só canais: precisamos também ser recipientes.”

E acrescenta: “Devemos cultivar a vida interior em plenitude e em toda a linha. Por isso, precisamos nos manter sempre em alerta para não separar jamais o apostolado da vida interior, para não descuidar jamais da vida interior por causa do apostolado”.

Somos canais da graça. Deixamos que Deus nos utilize. É Ele quem salva e nos usa, quem precisa de nós.

Sempre penso que a graça que entrego com minhas mãos certamente me toca no mais íntimo. Que, ao absolver alguém na confissão, algo do perdão fica "grudado" na minha alma. Ao batizar, algo dessa água me fala do amor de Deus. Ao dar uma bênção, algo da bênção divina me toca.

E ainda preciso me acostumar a contemplar o corpo de Deus vivo entre as minhas mãos. Que sua carne, ao tocar a minha, me deixe algo do seu amor. Fico emocionado diante desse momento de luz.

Martín Descalzo escreveu, falando da Eucaristia: “Ninguém esteve mais sozinho que tuas mãos perdidas entre o ferro e a madeira; mas, quando o pão se converteu em fogueira, ninguém esteve mais cheio que tuas mãos. Ninguém esteve mais morto que tuas mãos, quando, chorando, as beijou Maria; mas, quando o vinho ensanguentado ardia, ninguém esteve mais vivo que tuas mãos. Ninguém esteve mais cego que meus olhos quando julguei meu coração perdido em um imenso deserto sem irmãos. Ninguém estava mais cego que meus olhos. Gritei: ‘Senhor, por que foste embora?’. E Tu estavas pulsando entre as minhas mãos”.

Esta descrição me toca profundamente. E eu, quão rápido passo, às vezes, sobre a água! Quão pouco me molha o fluir da graça! Que pobre meu olhar sobre esse Pão partido! Corro descalço para alcançar. Toco com minhas mãos. Mas posso passar por cima e não me queimar.

Por isso, corro o risco de congelar-me, quando a água ou o fogo não me tocam. Tenho sempre duas opções na mesma encruzilhada: ou me deixo tocar ou sigo em frente, até me congelar.

E eu sei, como dizia o Pe. Kentenich, que, “com um pedaço de gelo não se acende o fogo. Será que não temos medo de converter-nos em pedaços de gelo? Não estamos sempre em perigo de chegar à temperatura do gelo? Se isso nos acontecer, nunca brotará algo bom de nós”.

Quero também reter o que entrego. Deixar-me transformar com o que dou. Dar o que possuo. Ser fonte e poço, não somente fonte.

Acho que a pessoa dá o que tem e conserva o que entrega. E, ao mesmo tempo, dá muito mais do que guarda. É o milagre de quem dá a vida. Entrega-a e não a perde. Esvazia-se e permanece cheio. Por isso, preciso mergulhar no mais profundo do meu próprio mar, buscando o rosto de Deus.

Quero estender minhas mãos vazias a este menino que está dentro de mim. Sei que não posso reter tudo. Sei que só posso dar o que recebo. E isso me basta. Com as mãos cheias de sua bênção, caminho tranquilo. E espero. E sonho. E volto a estender as mãos buscando seu rosto.

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