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“É hora de proteger as crianças e restaurar a fé”, pede ao papa o produtor de “Spotlight”

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Ary Waldir Ramos Díaz - Aleteia Brasil - publicado em 29/02/16

O filme premiado com o Oscar é recomendado pelo arcebispo encarregado de investigar os casos de pedofilia na Igreja

Ao receber a estatueta de melhor filme de 2015, o produtor de “Spotlight”, Michael Sugar, fez um pedido inesperado:

“Papa Francisco, é hora de proteger as crianças e restaurar a fé”.

É um pedido que já está sendo atendido com afinco.

Aliás, poucos sabem que os membros da Comissão Pontifícia para a Proteção dos Menores, instituída pelo próprio papa Francisco, viu o filme “Spotlight” em uma projeção privada no último dia 4 de fevereiro. Dom Charles Scicluna, arcebispo de Malta e perito da Congregação para a Doutrina da Fé, declarou ao jornal italiano La Repubblica a propósito do filme:

“Este filme deve ser visto por todos os bispos e cardeais, especialmente pelos responsáveis das almas, porque eles têm que entender que é a denúncia o que vai salvar a Igreja, e não a lei do silêncio (…) O filme mostra como o instinto que estava presente na Igreja, de proteger a boa reputação, foi um erro. Não existe misericórdia sem justiça”.

A admissão do erro de não denunciar os padres criminosos também foi feita pelo cardeal George Pell, de 74 anos. Ele afirmou, neste dia 29 de fevereiro, que a Igreja cometeu erros diante das denúncias de abusos sexuais contra menores na Austrália, seu país natal e onde ele foi arcebispo de Melbourne e de Sidney. A Igreja, diz ele, “cometeu erros enormes, mas está trabalhando para solucioná-los. Foram causados graves danos em muitos lugares. Decepcionamos os fiéis”.

O cardeal Pell está prestando informações a uma comissão de investigação do seu país sobre as respostas dadas pelas instituições eclesiais australianas aos abusos sexuais perpetrados contra menores nas décadas de 1970 e 1980. “Não estou aqui para defender o indefensável”, declarou ele, em depoimento, definindo como “uma catástrofe” a transferência de paróquia, na Austrália, do sacerdote pedófilo em série Gerard Ridsdale, que deveria ter sido denunciado à polícia em vez de apenas removido.

Em épocas passadas, prossegue o cardeal australiano, a Igreja “se inclinava a aceitar os desmentidos de abusos por parte de quem tinha sido acusado”. O “instinto” era o de “proteger a instituição, a comunidade da Igreja”.

A atual reforma do papa Francisco ordena que os bispos denunciem todos os abusos à justiça. De fato, neste último dia 15 de fevereiro, a Comissão Pontifícia para a Proteção dos Menores publicou um documento que deixa clara “a obrigação de indicar às autoridades civis as suspeitas de abusos sexuais”.

O próprio papa, no voo de volta do México a Roma, neste recente dia 18 de fevereiro, reiterou:

“Um bispo que troca um sacerdote de paróquia quando detecta um caso de pederastia é um inconsequente. O que ele deve fazer é apresentar a denúncia. Está claro?”.

Francisco aproveitou para prestar reconhecimento ao cardeal Ratzinger, que, desde antes de ser eleito papa, “lutou em momentos em que não tinha forças para impor-se”. Foi o trabalho escondido do papa Bento XVI, segundo Francisco, o que preparou a Igreja para “destapar essa panela”. O atual pontífice recordou que o então cardeal Ratzinger, “dez dias antes da morte de São João Paulo II, naquela via-crúcis de Sexta-Feira Santa, disse a toda a Igreja que era preciso limpar as porcarias da Igreja”. Por isso, considera o Santo Padre, Ratzinger foi eleito pontífice.

Atualmente, a Congregação para a Doutrina da Fé “não dá conta de todos os casos”, declarou Francisco, que, por isso, nomeou “um terceiro secretário adjunto para se encarregar somente destes casos”.

Trata-se de evitar mais atrasos nos casos antigos e atender os novos, explicou o papa, que falou também da criação de um “tribunal de apelação, presidido por dom Scicluna, que está se encarregando dos casos de segunda instância quando há recursos que voltam à primeira instância, porque isso não é justo”.

“Eu dou graças a Deus porque tudo isto foi destapado e tem que continuar sendo destapado”, afirmou o Santo Padre, chamando a pedofilia na Igreja de “monstruosidade, porque é um sacerdote consagrado para levar uma criança para Deus e que, no entanto, a consome num sacrifício diabólico”.

Francisco pediu que a Comissão de Proteção aos Menores promova a responsabilidade local. Seus membros, devido a esta diretriz, estão em contato com várias conferências episcopais.

O trabalho é árduo. A comissão foi alvo, recentemente, das críticas de um ex-membro, o leigo britânico Peters Saunders, ele próprio vítima de abusos de um sacerdote. Saunders criticou a comissão porque ela estuda políticas e diretrizes voltadas a estabelecer as melhores práticas a fim de evitar novos abusos, quando, em sua opinião, “deveríamos tomar decisões contra os sacerdotes abusadores”.

Os julgamentos dos criminosos, no entanto, não cabem à comissão, cuja missão é a que está explícita em seu próprio nome: a proteção dos menores. Ainda assim, o órgão destaca que a Igreja também está se encarregando de julgar os criminosos já identificados, o que se ressalta nas palavras que o papa Francisco pronunciou em seu discurso aos bispos dos Estados Unidos em setembro de 2015:

“Eu me comprometo com a zelosa vigilância da Igreja para proteger os menores e prometo que todos os responsáveis prestarão contas”.

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