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Sanders, Morales e Correa discutem sobre a encíclica preferida dos “Teocon”

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Andrea Tornielli - publicado em 17/04/16

O candidato às eleições primárias entre os democratas disse que a situação, hoje, é “pior” do que na época de Leão XIII

É um sinal muito significativo que a Pontifícia Academia das Ciências Sociais tenha convidado (entre outros) para discutir sobre a encíclica Centesimus annus dois presidentes latino-americanos como Evo Morales (da Bolívia) e Rafael Correa (do Equador) e o candidato democrata Bernie Sanders. Não devemos esquecer que aquele texto do Papa Wojtyla, sua terceira encíclica social depois da Laborem exercens (1981) e da Sollicitudo rei socialis (1987), que foi publicada há 25 anos, imediatamente depois da queda do Muro de Berlim, é recordado como o documento mais na linha dos “think-tanks” estadunidenses.

O filósofo estadunidense Michael Novak, em um ensaio bastante crítico sobre algumas passagens da exortação Evangelii gaudium, recordou que teve a oportunidade de estudar os primeiros textos de João Paulo II. E notou que Wojtyla, “de 1940 a 1978, quando se mudou para o Vaticano, tinha ficado às escuras em relação à economia capitalista e aos sistemas de governo democráticos e republicanos. Para compreender os conceitos dessa forma de economia política, o Papa polonês teve que escutar muito e aprender a expressar-se com uma linguagem completamente diferente”.

Segundo Novak, João Paulo II “soube reconhecer” e dar valor à “grande mudança social” que se operou nos Estados Unidos justamente com sua encíclica Centesimus annus. João Paulo II compreendeu imediatamente que hoje “o fato decisivo é cada vez mais o próprio homem, e sua capacidade de conhecimento que surge mediante o saber científico, sua capacidade de organização solidária, sua capacidade para intuir e satisfazer as necessidades do outro”. O filósofo estadunidense católico citou depois o parágrafo 42 da mesma encíclica, na qual João Paulo II “define brevemente seu capitalismo ideal, como sistema econômico que nasce da criatividade, sob a égide da legalidade, e ‘cujo centro é ético e religioso’”.

Portanto, segundo o filósofo estadunidense, defensor da santa aliança entre o catolicismo e o capitalismo, a Igreja, com o Pontificado de João Paulo II, teria se aproximado deste sistema. E situações históricas concretas teriam motivado esta aproximação, cujo ponto mais elevado seria a Centesimus annus. Por isso, Novak disse que esperava que o Papa Francisco pudesse “desenvolver seu pensamento sobre a economia política, para assinalar a forma mais eficaz para ajudar os pobres a escalar a encosta das dificuldades e das privações. Estou certo de que conselheiros e colaboradores já estão trabalhando com afinco, e espero que partam das conclusões que João Paulo II redigiu, talvez com certas resistências, no parágrafo 42 da Centesimus annus, baseando-se na experiência concreta, para indicar uma via ponderada”.

Aqui se encontra um dogma teorizado e argumentado: a Igreja pode falar, se quiser, dos pobres e sobre a caridade, que nos recorde que temos que dar esmolas, que siga indicando-nos caminhos éticos, que trave suas batalhas para defender a vida e contra certos costumes nas sociedades ocidentais decadentes, que nos recorde que devemos ser bons e honestos. Mas, que não ouse sequer propor nenhuma questão sobre o atual sistema do capitalismo, esse sistema que já não tem contatos com a economia real, dá um enorme poder às finanças.

Devemos recordar que anos mais tarde, durante o Pontificado de Bento XVI, os mesmos “think-tank” chamados “teocons” não se sentiram tão à vontade com a Centesimus annus e criticaram a encíclica ratzingeriana Caritas in veritate, chegando inclusive a separar as partes do documento atribuíveis diretamente à mão do Pontífice daquelas escritas por alguns dicastérios vaticanos. Com as palavras claras do Papa Francisco sobre a “economia que mata”, acabou-se por completo a lua de mel.

A presença, no congresso sobre a encíclica wojtyliana, de personalidades como Morales, Correa e Sanders é um sinal que mostra esta distância. O candidato às eleições primárias entre os democratas disse que a situação, hoje, é “pior” do que na época de Leão XIII. “Em 2016, o 1% da população do planeta possui mais bem estar do que os 99% restantes”. E, a 25 anos da Centesimus annus, “a especulação, os fluxos financeiros ilícitos, a destruição ambiental e o enfraquecimento dos direitos dos trabalhadores são mais graves. Os excessos das finanças e a ampla criminalidade financeira de Wall Street desempenharam um papel direto ao provocar a pior crise financeira do mundo desde a Grande Depressão.

(Vatican Insider)

(IHU)

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