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Espiritualidade
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Autoridade e liberdade

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Rômulo Cyríaco - publicado em 13/06/16

A liberdade joga o homem no encontro com o outro, na responsabilidade de cuidar de si e do outro. Mas o homem quer tudo, menos isso

Pai, Rei do Universo, Senhor do céu e da terra, eles já vos conheceram, quando bebês; agora, não vos conhecem mais – até mesmo vos negam, com a arrogância que aprendem e imitam do príncipe do mundo – mas irão vos conhecer novamente.

O arrependimento será inevitável. O espírito deles tremerá, com calafrios, o medo súbito os fará cair por terra, seus olhos arderão, ao verem que passaram a vida por tanto tempo distantes do seu Criador, que aparecerá a eles como a Luz que não quiseram ver. Negaram o Deus Uno e Trino, que poderia ter vivificado e vitalizado a sua vida, tão mortificada, vazia e triste: o Deus que não viram mas que verão é Aquele que estabeleceu na Criação as Leis da Vida, não há nenhuma Lei verdadeira que não tenha sido Ele a ter criado, então somente Ele pode sustentar a vida com plenitude.

A Vida foi criada pela Palavra de Deus, aqueles que não a ouvem nem a veem, vivem mas não encontram nunca a Vida.

Aqueles que não querem obedecer às profundas e Divinas Leis da Vida, marginalizam-se na morte e na escuridão.

Eles, ao se arrependerem, mesmo que tarde, surpreender-se-ão também com o calor e a luz do Abraço do Pai, que nunca nega o retorno de nenhum de seus filhos, pelo contrário, os busca incessantemente e se regozija com seu retorno consentido. Ele, quando é reconhecido como Pai, nunca deixa de reconhecer-nos como suas criaturas, de quem quer cuidar e a quem ama, pois Ele se vê em nós, em nós reconhece seus traços, mesmo que nós, quando imersos no pecado, não possamos vê-Lo, e reconhecer em nós sua imagem e semelhança, nem em nós nem em nossos próximos.

Vosso Filho Unigênito, nosso Senhor Jesus Cristo, foi enviado à terra por vós, Pai, concebido pelo Santo Espírito com o consentimento da Santa Virgem Maria, para com Sua plenitude amorosa e misericordiosa, nos apresentar pessoalmente, com a concretude do seu Corpo e do seu Espírito, a possibilidade da antecipação do arrependimento em vida, para que nossos olhos acordem em tempo, para que as profundezas do nosso espírito e as entranhas do nosso corpo abram-se à Santa Presença do Pai e se santifiquem, para que em tempo possamos morrer para a morte, e ressuscitarmos em Deus Pai para a Vida, renovando-nos por inteiro e nos livrando assim da desorientação do pecado original, agenciado pelo anjo caído.

Se ainda não viram, verão aqueles homens, Senhor, como o Senhor existe, muito mais do que isso, verão como o Senhor é Aquele que É, transcendente e imanente, eterno e presente em nossa história, terrível e misericordioso ao mesmo tempo, e como esteve presente a todo o instante, dentro deles mesmos e ao seu redor, mesmo que eles vos negassem, Senhor, e vos afastassem, numa vida que era ela mesma uma tentativa de blasfêmia, ainda que dissimulada, embelezada pelos caprichos e vaidades, pelas mentiras sedutoras, pelas sofisticações enganosas do príncipe do mundo.

Esperemos, Senhor, com todo o nosso coração, que nós e também eles possamos conhecer plenamente o vosso abraço Misericordioso, Santo e Vivo: e então saberão eles, como fui eu e muitos irmãos agraciados a sabermos, que vosso Abraço estava aqui conosco, como está agora, com todos nós, suas criaturas, a cada vez que respiramos, a cada batida de nosso coração, a cada instante em que um mínimo espaço em nosso corpo e espírito é preenchido e flui com as águas da vida.

Tristes são eles, Senhor, que de vós aceitam apenas o mínimo para a sobrevivência, pois sem vós, fonte de toda Vida, sequer poderiam continuar de pé, não respirariam, seus corações não bateriam. Tristes são eles, cuja respiração não é plena no Espírito Santo, cujos corações não batem plenos em Deus, cujas barrigas, pelas represas do diabo, estão fechadas para os rios das águas da vida. Tristes são eles, que nem sequer estão em busca do Senhor, pois rejeitam a Suprema Autoridade da Trindade. Nós, que buscamos o Senhor, ainda somos marcados pelo pecado, pela nossa natureza humana, mas já podemos sentir, ou ao menos pressentir, a verdade da plenitude de Deus em nossa respiração, nos batimentos de nossos corações e nos movimentos das águas da vida em nossas barrigas. E apenas este pressentimento já é motivo de imensa Alegria.

Por que, se estão tristes e insatisfeitos em suas almas, querem eles ainda viver na morte e no pecado? Estão eles encantados e cegos pelo projeto do diabo, o anjo invejoso, caído e expulso do Paraíso, que maliciosamente puxou a espécie humana com ele para fora. Quando se aliam ao diabo, mordendo o seu fruto tentador, saibam eles já disso ou não, eles caem e são também expulsos do Paraíso, criando um mundo solitário para si, mundo que já nasce com um príncipe, mas que pelo mesmo motivo é um mundo que morre e que só pode morrer. Em suas profundezas, eles estão tristes e frustrados por viverem longe de vós, Pai, pois assim vivem longe da Vida. Ainda assim, por não vos enxergarem, em sua arrogância persistente não se submetem à Vossa Autoridade Divina, às Leis da Vida, eternas e profundas, que vós criastes, pois são convencidos pelas estratégias tenebrosas do diabo, em sua consciência distorcida, a não abrirem mão de uma falsa liberdade. Querem ser, eles mesmos, deuses, seus próprios deuses. Mas nada de verdadeiro podem criar sozinhos, nem mesmo o pode o anjo caído.

A liberdade que insistem em manter para si, mesmo que ao preço de sua própria vida, é a de pensarem e fazerem o que quiserem, cada um à sua maneira, assim como a espécie inteira, rejeitando a Sabedoria e a Autoridade do Pai, que poderia lhes orientar, lhes dar consistência vital e devolver a Luz espiritual. Não querem enxergar Deus e reconhecê-Lo como o Pai e o Criador, pois também não o quer o diabo, que os alicia: se O reconhecessem propriamente, diabo e homens pecadores se tornariam então servos de Deus, seguindo a sua Autoridade, e toda a sua vida, agora vitalizada em plenitude por Deus, seria verdadeiramente Livre. Mas esta, não seria a falsa liberdade que o homem tanto quer; seria a verdadeira Liberdade Divina, que traz consigo intrinsecamente a Responsabilidade pela Vida que Deus criou, pela vida de um e de todos, pelo Amor ao Criador e ao próximo, como nos disse Jesus. São tantos séculos de escuridão e escravidão, que o homem, assim como o diabo, temem com toda a sua carne, espírito e existência, mais do que nenhuma outra coisa, a Luz e a Liberdade Divina.

Alguns, conectando estas palavras a ideias políticas, com razão poderiam dizer: mas nem toda autoridade é boa autoridade. Não são válidas, no plano social, algumas tentativas humanas de revolução política contra uma determinada autoridade opressora…? Estarão certos em fazer esta pergunta, pois somente a Autoridade de Deus é, inerentemente, boa autoridade, pois quando obedecida nos dá a vida, a saúde e a plenitude. Na sociedade estruturada no pecado, há frequentemente o autoritarismo humano – que, certa vezes, se apropria de ideias das próprias religiões, distorcendo-as, inclusive (ou principalmente) as do Cristianismo. O que muitos não percebem é que, além daquela falsa liberdade a que nos referimos, o autoritarismo humano também é resultado da resistência do homem a Deus. Tanto do ponto de vista daquele que oprime, sendo autoritário, quanto do ponto de vista daquele que é oprimido, e que apoia o seu opressor para não sair do seu lugar comum: se saísse do seu lugar comum de pecado, a queda do humano opressor poderia jogar na Liberdade muitos humanos que não a suportam, e que por isso estão aliados ao projeto do diabo, aprisionador da vida humana. A Liberdade, realmente, jogaria o homem diretamente no encontro com o outro, e na responsabilidade de cuidar de si e do outro. O homem, em geral, quer tudo menos isso.

Portanto, há como se filiar ao diabo, neste seu projeto, tanto por rigidez e apoio ao autoritarismo, quanto pelo desejo, que às vezes ganha tons de revolução, por uma liberdade humana completa, em que se cai no relativismo e no individualismo. O que une ambas as tendências é aquela “liberdade” que o homem ganha em sua associação ao diabo no pecado original: pois o autoritarismo humano também é fruto desta “liberdade” que o homem toma para si para ditar o que é correto para ele e para os outros, mesmo que Deus esteja mostrando, em todos os âmbitos da vida, precisamente o contrário. Como um grande grupo de homens, no jogo perverso da política, comumente quer impor a todos os outros homens as suas “verdades”, os revolucionários, também, comumente respondem da seguinte maneira: agora, apenas eles, de acordo com os seus próprios pensamentos e tendências, imporão a si mesmos (e logo também ao mundo, que tem a obrigação de aceitá-los) o que lhes é certo ou errado, sem reconhecer a positividade das mensagens incessantes que manda ao corpo, à mente e ao espírito as Leis da Vida, que estão dentro, mas que também estão fora e vêm de fora, pois vêm de Deus, seu Criador, que aplicou nelas qualidades e formas imutáveis.

Ao diabo e ao homem pecador, que não busca a Deus, não interessam a Verdadeira Liberdade, mais do que isso, amedronta-os: eles fogem, organizam uma vida em sociedade que fecha todas as portas para qualquer visão clara desta Liberdade. Pois esta leva a reconhecer a Autoridade de Deus sobre nós, e esta é a Autoridade que toda a civilização humana pecaminosa não quer reconhecer, pois então, imediatamente, seria reconhecida também a Responsabilidade que nos é transmitida por Ele, como seres que receberam a vida como dom e são livres para vivê-la. Seria reconhecida também a infertilidade da arrogância, seria interrompida a tentativa sempre fracassada do diabo e do homem pecador de estabelecer eles mesmos as leis da vida, que, se não são as Leis de Deus, só podem ser falsas leis, que levam à morte, ao erro e ao engano; à solidão, à separação e aos conflitos; ao vazio, à infertilidade e à frustração.

Portanto, a liberdade que o homem tanto busca – que é a liberdade buscada pelo próprio anjo caído – não pode ser verdadeiramente liberdade, pois é falsa, não é passível de ser legitimamente obtida e vivida, a não ser através de ilusões, delírios e arbitrariedades temporárias; é infrutífera e inócua, resulta sempre em frustração, escuridão e desacordo. Estes homens, nunca abandonados pelo Pai, pois sem Ele sequer poderiam se sustentar vivos, no entanto estão eles mortificados, e quando vislumbram de relance em sua vida pecaminosa o Divino, tremem de medo e mistério, atribuem-no logo em seguida a qualquer outra coisa mas não ao Pai: pois assim podem continuar se protegendo da Liberdade Divina em sua própria arrogância, criando filosofias e místicas vazias, esoterismos e ideias equivocadas, desviando o Poder que é o Pai para elementos da natureza, que é ela mesma Criação do Pai.

Eles discutem sobre a espiritualidade e a religião, e se veem no direito de criar sua própria ideia de Deus e mesmo de Cristo Jesus, a cada um seu Deus e seu Jesus particular, com as características que mais lhes convierem: não se reconhecem como Criaturas feitas à imagem e semelhança de Deus, mas querem fazer Deus à sua imagem e semelhança. Não se deixam ganhar eles mesmos e suas vidas real significado e força através de Deus e Jesus Cristo, mas querem reduzir Deus e Jesus Cristo, em seu hábito de a tudo manipular, a suas próprias ideias inférteis e insignificantes.

É dessa maneira, que, ainda que se considerem espiritualizados, insistem em continuar existindo fora do Paraíso e do rebanho divino, mantendo-se escravos de sua arrogância, ou de sua ignorância, tendo alguma esperança ou fragmento de calor em experiências e ideias espirituais, mas ainda entregues ao frio do não reconhecimento da intervenção direta de Deus em nossas vidas. Eles reconhecem qualquer coisa do mundo invisível, mas somente de uma maneira que ainda os possa manter como as autoridades únicas de suas próprias vidas. Não reconhecem o próprio Pai Criador de tudo o que existe no mundo visível e no mundo invisível, no céu e na terra, e então permanecem em seu infrutífero e enganoso senso de liberdade, sem notar que este senso, distorcido, é mesmo o caminho perverso que trilham com a morte e na direção dela.

Eles querem a vida e o calor, e esse desejo é bom, mas estão cegos e buscam a vida e o calor em caminhos em cujo fim os esperam apenas a morte e o frio. Isso é tão triste, e é essa a tristeza do mundo, e será essa a tristeza do mundo, enquanto este tiver o anjo caído como príncipe, e o pecado como única delícia. Enquanto eles estiverem apegados, com todas as suas forças e defesas que restaram, à falsa liberdade que lhes é dada pelo agenciador do pecado original. Enquanto ignorarem o Criador, o único Rei do Universo, Deus Uno e Trino, para continuar crendo apenas em si mesmos, e na ilusão de que podem pensar e fazer o que quiserem e ainda assim terem consigo a Vida, sendo eles mesmos os únicos deuses do seu próprio mundo. Não existem outros deuses, então, se eles querem ser seus próprios deuses, sua vida resulta assim, numa vida em que eles são apenas seus próprios “nadas”. O homem, como bom artífice, vive a pintar sua miséria com a tinta do orgulho.

Pai, que meu pensamento e minha vida não sejam livres conforme a minha natureza humana pecadora, mas que eu seja verdadeiramente Livre ao reconhecer-me sua criatura, assim reconhecendo que compartilho, na terra, de vossa responsabilidade pela Vida imensa e expansiva que criastes e nos destes. Deus Pai, sei que posso contar sempre e para sempre convosco e com seu Amor, e minha alma deseja profundamente através da orientação da Santo Espírito poder um dia dizer na minha pequenez: Pai, podes na terra contar com este filho. Pai, seus outros filhos, podem contar com este filho.

Pai, livra-me daquela falsa liberdade, adorada e criada pelo homem pecador em sua queda. Falsa, pois tudo o que o homem cria sem Deus só pode ser falso. Resulta, e só pode resultar, em vazio, mortificação e escuridão. Flacidez, insucesso e frustração. Pois se somos livres para vivermos somente através de nossos próprios parâmetros, ignoramos os Parâmetros inerentes da própria Vida que nos foi dada por Deus, e portanto não podemos tê-la em sua plenitude. Ela nos escapa. Nós a jogamos para fora, para que, esvaziados dela, possamos nos preencher com nossas mentiras.

A Liberdade dada por Deus Pai é a única Verdadeira Liberdade. Não há liberdade que seja verdadeira e que possa estar dissociada da responsabilidade pela vida. Deus, nosso Pai, nos deu a Vida. Agora temos a Vida, podemos senti-la como Amor e cuidar d’Ela onde quer que Ela exista, em nós mesmos e em todos os seres vivos como nós, e em nosso próprio habitat. Somos responsáveis por essa Vida, pois Ela nos foi dada com pleno Amor por Deus Pai o Criador, e agora a temos em nós mesmos e ao nosso redor. Por que então iríamos rejeitá-la? Por que rejeitaríamos o Amor de Deus nosso Pai?

Deus nos deu a vida, nós a rejeitamos. Deus veio a nós, e nos deu a vida novamente! Por que então rejeitaríamos a Salvação, a nova vida – que é a vida novamente – oferecida a nós por Jesus Cristo seu Filho? O Filho que deu a vida nova, que é a vida eterna novamente, desceu às profundezas da morte, ressuscitou e ascendeu para sempre vivo aos céus. Por que rejeitaríamos a orientação iluminada do Espírito Santo?

Deus Pai, não O rejeitaremos. Aceitaremos com acolhimento a Vida que vós nos destes, pois, ao nos dar a Vida, vós nos acolhestes em sua Casa como filhos queridos. Aceitaremos o vosso Amor. Aceitaremos a Salvação em Cristo Jesus vosso Filho. Aceitaremos a orientação do Santo Espírito. Aceitaremos a pureza e o cuidado da Santa Virgem Maria, e também dos Anjos que habitam convosco no Paraíso, o Anjo Gabriel, o Arcanjo Miguel, todos os que vós nos enviais todos os dias e noites para cuidar-nos e proteger-nos. Aceitaremos a intercessão dos apóstolos, santos e mártires da Igreja do Vosso Filho, Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, que é a Vossa Igreja.

Aceitaremos a Vida que nos destes. Não rejeitaremos o vosso Amor, e então, finalmente, reencontraremos o caminho no qual, no horizonte, nos aguarda a própria vida, a Vida Eterna. Saberemos que o que vemos nesse novo horizonte é o próprio caminho: que a única vida que existe é a Vida Eterna, e que foi apenas o homem que, aliado ao pecado e à morte, quis impor um fim a esta vida, sobrepondo a ela o regime da morte.

Nesse novo caminho, todo o nosso caminhar, nossa vida na terra, nossos pensamentos e experiências partilhadas com os irmãos e irmãs, nossas relações e buscas, poderão estar acompanhados e encontrar as marcas da plenitude Divina: a essência, a consistência, a firmeza, o enraizamento, a paz, a calma; a pureza, o vínculo, a entrega, os dons do Espírito Santo; e, permeando estas qualidades, o Amor, o Dom Supremo de Deus, Criador e Rocha que sustenta a Vida com Justiça, Santidade e Verdade.

O homem pecador, com sua consciência entorpecida e distorcida em sua realidade decaída, discute sobre a verdade de Deus, ignorando que somente em Deus há verdade. Daí a irrealidade generalizada, o vazio existencial, da vida do homem. Nenhuma experiência humana pode ser nutrida de verdadeira e profunda consistência de Realidade, a não ser em Deus, o Criador de toda Realidade. Que nossa realidade possa se enraizar na Verdade Divina, Fonte das Águas da Vida, e por ela ser nutrida a todo instante.

Amém.

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