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Como o Alzheimer da minha esposa tem testado minha virtude

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Larry Peterson - publicado em 13/07/17

Com a terrível doença vem um ataque implacável sobre, não apenas a paciência, mas a gentileza, bondade, fé e alegria

Outro dia minha esposa me informou que precisava comprar algumas roupas novas para o trabalho. Então ela me lembrou que precisávamos comprar filtros de café e maçãs. Antes de jantar, ela me perguntou se nós tínhamos almoçado e queria saber o que tínhamos comido. Isso tudo terminou com: “você vai ficar aqui esta noite ou vai para o ‘outro lugar’?”.

Estas desconexões passaram de esporádicas para diários e frequentes. Marty não trabalha há mais de sete anos. Ela não dirige um carro há três. Nós temos de sobra filtros de café e maçãs. Ela nunca se lembra se já almoçamos ou se ainda vamos almoçar. Além disso, ela tem esquecido (às vezes) onde é o nosso quarto, onde as toalhas, garfos e colheres estão. Não temos outro “lugar” e vivemos juntos na mesma casa há quase 10 anos.

Sua mente, ou melhor, seu próprio ser foi invadido por um intruso, e seu nome é (ela foi diagnosticado há vários anos) Alzheimer. Como este invasor persegue sua incansável tarefa, inflexível em devorar a pessoa real dentro da mente de minha esposa, ele também está provando ser o mais desafiador e conflituoso inimigo que já encontrei.

Um dos 12 frutos do Espírito Santo é a paciência. Para mim, esta virtude sempre foi um ponto forte. O velho clichê: “ele tem a paciência de um santo”, foi usado em uma referência a mim.

Mas deixe-me dizer uma coisa: eu sei que nunca tive qualquer tipo de auréola, mas se eu tivesse até mesmo um brilho estranho, ele se apagou.

Satanás pregou-me bem, e ele fez isso com a redundância insidiosa que acompanha o Alzheimer. Me vi como uma inocente vítima de uma doença que invadiu minha esposa e contorceu sua personalidade. Minha paciência evaporou-se e se transformou em raiva. Eu falhei como cuidador.

Fiquei imediatamente envergonhado, fui para o banheiro, fechei a porta e comecei a limpar as lágrimas do meu rosto.

Saí do banheiro, caminhei de volta para o computador e abri o e-mail. Como aconteceu tantas vezes em minha jornada espiritual, recebi uma mensagem na forma de um boletim de e-mail da Associação de Alzheimer. A mensagem apresentava uma “lista de verificação para os cuidadores”.

Eu rapidamente li oito itens listados. O número sete provou ser um bom e velho tapa na cara. Ele dizia: “Você se sente frustrado e com raiva quando a pessoa com demência repete continuamente as mesmas coisas e parece não escutar?” Meu pensamento imediato foi, SIM! SIM! A respiração profunda estava em ordem, seguido de um pedido de desculpas e um agradecimento a meu Senhor. Eu terminei a minha recuperação, fui até Marty e lhe dei um grande abraço e um beijo. Eu lhe disse que estava arrependido. Ela não sabia do que eu estava arrependido, mas sorriu de qualquer maneira.

Algo extremamente importante que aprendi como cuidador não é muito falado. Todos e cada um de nós precisa de orações, muitas orações. Além do assalto implacável na paciência de uma pessoa, há outras virtudes sob ataque. A gentileza pode ser continuamente corroída. A bondade pode ser encoberta. A fé pode ser contestada. A alegria pode evaporar.

Viver no mundo do Alzheimer é uma complicada existência. Muitas vezes nada faz sentido. Muitas vezes a redundância é semelhante a ter alguém constantemente empurrando você, mais e mais e mais. Você quer gritar, PARE COM ISSO! Mas você não pode… na maioria das vezes.

Eu vou para reuniões de cuidadores uma vez por mês. A maioria dessas pessoas (não todas) são pessoas de fé (católica, cristã, judaica, protestante etc.). Invariavelmente, elas se inclinam sobre a sua fé profundamente como navegam as águas estranhas e imprevisíveis da doença de Alzheimer. A crença em Deus é um escudo poderoso, uma barreira contra essa doença progressiva e contra o mal.

Quanto a mim, eu posso ter perdido uma batalha ou duas, mas tenho grandes aliados: Deus, minha fé católica, orações, família e amigos. Estes aliados me fortalecem e me dão forças. Eles são as sentinelas da minha paciência. E a oração é a minha armadura.

Por favor, lembrem-se em suas orações de todos os milhões de vítimas do Alzheimer. E se você tiver uma chance, inclua todos nós cuidadores também. Precisamos de toda a ajuda que pudermos obter.

Larry Peterson  é um autor cristão, escritor e blogueiro que escreveu centenas de colunas sobre vários temas. Seus livros incluem o romance  The Priest and the Peaches e o livro infantil  Slippery Willie’s Stupid, Ugly ShoesEle tem três filhos e seis netos, e todos moram perto uns dos outros, na Flórida.

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