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“Eu não acredito em fantasmas, mas tenho medo deles”

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Miriam Diez Bosch - publicado em 04/10/17

Um livro de Amalia Quevedo discute o mundo dos fantasmas, que faz tanto sucesso no cinema e na literatura

Os fantasmas, tão recorrentes no cinema e na literatura, não ganharam reconhecimento filosófico. No entanto, nossa imaginação coletiva continua fascinada pela ideia de que um morto possa retornar para nos visitar. Amalia Quevedo, filósofa colombiana, professora universitária e autora de livros sobre filosofia, acaba de publicar uma obra sobre o mundo sobrenatural: Ghosts, from Pliny the Younger to Derrida.

A curiosidade sobre o que acontece além do túmulo é tão antiga quanto a humanidade, e aparece em mitos antigos sobre viagens ao Hades (na mitologia grega, é o deus do mundo inferior e dos mortos) ou outras versões do submundo. As aparições dos mortos são temas em obras-primas como a Divina Comédia, de Dante, e Hamlet, de Shakespeare.

Na Roma antiga, os fantasmas eram considerados visitantes frequentes; Amalia Quevedo explica que o fantasma de Júlio César supostamente visitou Brutus em duas noites diferentes, “primeiro, depois que ele foi assassinado e, na noite anterior à batalha, em que Brutus perderia a vida”.

“Ao contrário dos tempos antigos, hoje em dia quase não pensamos nas almas”, afirma Quevedo; no passado, “sejam temidos ou invocados, evitados ou procurados, os mortos estavam sempre presentes na consciência das pessoas”. Agora, ela se pergunta se “talvez não estivéssemos longe demais, eliminando nossos antepassados ​​de nossas vidas”.

E no Evangelho?

No lago de Genesaré, os discípulos de Jesus veem um homem que desafia a lei da gravidade. No Cenáculo, Jesus chegou inesperadamente, e não o viram entrar na sala. 

No relato do Evangelho, Lucas fala dos discípulos temendo que eles estivessem vendo um “espírito”, não exatamente o equivalente a um “fantasma”. A crença de que os mortos apareciam era um elemento da cultura popular do tempo de Jesus.

A ideia de fantasmas, diz Quevedo, “não deixa de nos perturbar”. Relatos de visitas do além não são apenas uma coisa de antigamente; as pessoas continuam a reivindicar que os veem hoje. Há casos de casas mal-assombradas, visitas de almas do purgatório, demônios, espíritos e até conversas com fantasmas. Na literatura e nos filmes, frequentemente encontramos vampiros (seja o Conde Drácula ou uma das inúmeras outras encarnações desta icônica espécie de morto-vivo), e muitas outras fantasias.

Muitas culturas têm seus próprios fantasmas tradicionais; na América Latina, por exemplo, há a famosa figura de La Llorona (“A Chorona”), uma mãe que afogou seus próprios filhos porque se apaixonou por um homem que não os queria. A lenda diz que ela cometeu suicídio e agora vaga pelo mundo chorando por seus filhos mortos.

Ver fantasmas tem conotações ruins, Quevedo reconhece: “A tendência dominante hoje é associar a uma fraude, ilusão enganosa e instabilidade mental aqueles que afirmam ver fantasmas”.

“Ver fantasmas está associado à insanidade, ao delírio, ao consumo de drogas e álcool, à ansiedade, à insinuação e ao sentimento de culpa”, diz ela.

Desde o filósofo Demócrito de Abdera, todos os materialistas negaram a existência de fantasmas; no entanto, “os fantasmas não são o produto frívolo de uma imaginação hiperativa e caprichosa. Eles são o resultado de um processo de luto que não foi devidamente assimilado, ou de uma alteração de ritos de passagem deste mundo para o próximo; eles são uma distorção da memória do falecido”, explica Quevedo.

As aparições dos mortos são um assunto sério e envolvem experiências subjetivamente reais. O filósofo Schopenhauer era profético: “A crença em fantasmas é inata no homem. É encontrada em todas as épocas e em todos os locais, e talvez nenhum ser humano esteja totalmente livre disso”.

Mesmo em momentos céticos como o nosso, os testemunhos de pessoas mentalmente saudáveis ​​que afirmam ter tido algum contato com o além continuarão a fazer perguntas.

Embora não seja estritamente uma questão de religião ou mitologia, o assunto tem certa dimensão religiosa, além de ser um objeto de interesse em videogames, livros, atrações turísticas e até pesquisas universitárias; a prestigiosa Fundação Templeton destinou cinco milhões de dólares para investigar experiências de imortalidade e quase-morte.

Amalia Quevedo é filósofa, professora da Universidade La Sabana (Colômbia) e autora de livros sobre Foucault, Derrida e Aristoteles.

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