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A pergunta que você deveria fazer a quem está sofrendo

CANCER

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Calah Alexander - publicado em 06/10/17

Uma dica de demonstrar solidariedade e humanidade a quem sofre

Há algumas semanas, li um artigo sobre o câncer no Chicago Tribune, mais especificamente sobre como deveríamos deixar de usar termos militares quando nos referimos à doença. Eu adorei o artigo, pois esse é um assunto que me chama a atenção há anos e me parece preocupante.

A autora, Mary Wisniewski, falava sobre como a reação pública dos norte-americanos ao diagnóstico de gliobastoma do político republicano John MCCain se concentra na personalidade dura e valente do senador. O texto explica que a filha mais velha dele acabara de morrer com o mesmo tipo de câncer, e logo lamenta a maneira como falamos sobre a doença:

 “Odeio como, às vezes, as pessoas se referem ao câncer com termos militares, como se as pessoas que têm personalidades fortes e determinação pudessem “vencê-lo”. Isso não é uma guerra. Você não vai ser mais virtuoso se sobreviver a um câncer, tampouco será um fraco no caso contrário.

Por que fazemos isso? Por que imaginamos o câncer como uma batalha que só pode ser vencida pelos melhores pacientes?”.

Wisniewski trabalha com a hipótese de que, quando as pessoas ouvem falar sobre um diagnóstico de câncer, não sabem o que dizer e, na verdade, tratam de expressar palavras de ânimo. Creio que isso tem uma parte de verdade. Mas penso que a questão é mais profunda. Creio que nossa resposta ao câncer é, em grande medida, como nossa resposta a qualquer tragédia: nossa empatia não transcende nosso medo devastador de sofrer da mesma coisa.

Na internet, você pode ver que isso acontece quando as pessoas recebem notícias de alguma tragédia. Alguns rezam, oferecem condolências ou perguntam como podem ajudar. Mas muitas pessoas destrincham os acontecimentos que levaram à tragédia para encontrar o erro fatal que poderia ter evitado a crise ou encontrar os supostos culpados.

Foi exatamente isso o que aconteceu em setembro de 2017, em resposta aos apuros provocados pelo furacão Harvey: a metade dos artigos vangloriava os heróis espontâneos; outra metade culpava os cidadãos de Houston por não quererem deixar a cidade. “Tudo poderia ter sido evitado se tivessem feito isso ou aquilo”.

A forma como as pessoas reagem ao câncer é parecida.  A maioria tenta encorajar os que sofrem com a doença a lutar duro e a não se render. É um pensamento tranquilizante, não? Bom seria se a força de vontade, por si só, pudesse nos salvar do câncer. Mas não é bem assim.

A verdade é que temos muito medo. Sabemos que há coisas más que acontecem a pessoas boas; sabemos que as coisas acontecem sem aviso prévio e que nada poderia ter mudado o resultado. Mas, se nos permitíssemos crer nisso, provavelmente ficaríamos paralisados pelo medo, sem sair de casa. Por isso, nos apaziguamos, dizendo que aquilo não vai acontecer conosco, pois sabemos fazer melhor as coisas ou lutamos com mais força.

Refutar a possibilidade de nosso próprio sofrimento é uma reação totalmente compreensível. O problema é que, quando negamos a possibilidade de nosso próprio sofrimento, também negamos aquelas pessoas que sofrem. Como disse o papa Bento XVI, isso é sinal de “uma sociedade cruel e desumana”.

Por isso, em vez de motivar os que sofrem – seja por um câncer ou uma inundação, por exemplo – com palavras “militares”, deveríamos tentar buscar uma maneira de sofrer com eles. “Como posso te ajudar?” é uma boa pergunta. Mas outra melhor seria: “Como posso te ajudar a suportar essa carga? Como posso te mostrar que você não sofre sozinho?”

Fazer isso é difícil, muito difícil. Mas também é um gesto muito mais humano.

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