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Apesar de livres de minas, igrejas de Raqa ficarão vazias no Natal

Operation to liberate Iraq’s Mosul from Daesh

©Yunus Keles / Anadolu Agency

MOSUL, IRAQ - NOVEMBER 4: Iraqi Christians light candles at Al-Tahira Church which was damaged by Daesh terrorists after the Hamdaniya District rescued during the operation to retake Iraq's Mosul from Daesh terrorists, in Mosul, Iraq on November 4, 2016. Yunus Keles / Anadolu Agency

Agências de Notícias - publicado em 24/12/17

“Todos os cristãos fugiram de Raqa. Antes, havia alegria em todas as partes, mas expulsaram a todos nós”

Duas igrejas históricas de Raqa ficaram livres das minas a tempo para o Natal, mas nenhum cristão ficou para as festas neste que foi o principal reduto dos extremistas islâmicos na Síria. Todos fugiram dos combates.

Antes de perder Raqa, em outubro, os extremistas do grupo Estado Islâmico (EI) plantaram minas em toda a cidade, transformada em ruínas pelos bombardeios aéreos da coalizão liderada pelos Estados Unidos.

Seis sapadores (militares especializados em trabalhos diversos, como a retirada de minas) da organização especializada ROJ concluem a espinhosa tarefa em dois edifícios desfigurados: a Igreja dos Mártires e a da Anunciação. Eles levam detectores consigo e usam uniformes beges e uma braçadeiras vermelhas adornadas com caveiras.

Os dois prédios em ruínas estão livres de minas, mas não haverá missa de Natal, afirmam líderes religiosos. A imensa maioria dos moradores partiu de Raqa, tanto cristãos quanto muçulmanos.

“Como as festas se aproximam, nosso objetivo é permitir aos nossos irmãos cristãos que voltem para praticar seus ritos religiosos”, afirma o assessor técnico da ROJ, Abdelhamid Ayo.

Da igreja armênia católica dos Mártires, no centro da cidade, restou apenas o esqueleto de cimento. Os extremistas derrubaram a cruz no topo e transformaram o templo em uma prisão, após conquistarem a cidade, em 2014. Também cavaram um túnel subterrâneo para se deslocarem.

“Há milhares de minas. Terminamos a metade de Raqa e até agora retiramos 1.300”, reforça Ayo, de 33 anos.

As Forças Democráticas Sírias (FDS), uma coalizão curdo-árabe, apoiada pelos Estados Unidos, expulsaram o EI de Raqa. Mas apenas uns poucos moradores se arriscaram a voltar.

“Não há absolutamente nada previsto em Raqa”, afirma Butros Mariati, da diocese armênia católica de Aleppo (norte), à qual a igreja dos Mártires é subordinada.

“A igreja está em ruínas”, lamenta.

Os milhares de cristãos armênios e sírios que viviam em Raqa representam cerca de 1% da população local, muçulmana sunita em sua grande maioria.

Quando o EI chegou, em 2014, os cristãos e outras minorias religiosas fugiram por medo do terror imposto pelos extremistas, com os quais tinham três opções: se converter, pagar um imposto ou morrer.

Entre os poucos civis que decidiram voltar, um ou vários morrem diariamente na explosão acidental de minas. Uma mensagem nos muros de Raqa adverte: “Perigo! Minas”.

Nayef al Madfaa é um dos poucos que se aventurou. Ele o fez para checar o estado de sua casa, situada atrás da igreja dos Mártires.

“Em Raqa não havia diferença entre muçulmanos e cristãos. Todos vivíamos juntos, felizes”, garante este muçulmano, que suspira apontando para várias casas abandonadas.

“Todos os cristãos fugiram de Raqa. Antes, havia alegria em todas as partes, mas expulsaram a todos nós”, lamenta.

“O pinheiro de Natal era colocado neste canto e as crianças entravam na igreja com seus pais”, lembra o sexagenário. “Quando vejo apenas destruição ao meu redor, fico triste”.

– ‘Partiram’ –

O panorama da igreja da Anunciação, incendiada pelo EI, é igualmente desolador.

Um nicho que antes abrigava uma estátua da virgem Maria agora está vazio. “Deus é maior. Glória a Deus”, escreveram os jihadistas. Os muros semidestruídos estão cobertos de pichações similares.

“O EI transformou a igreja em um armazém de armas. Queimaram livros e bíblias”, lembra Mahmud al Jumaa, de 23 anos.

“Quando os combates se intensificaram, o fizeram explodir, enquanto gritavam ‘Deus é maior que todos os infiéis e valos fazer explodir esta igreja para que (o presidente americano Donald) Trump não possa rezar’” nela, conta, em frente ao prédio em ruínas.

Ele também lembra e época de coexistência pacífica entre cristãos e muçulmanos. “Nós éramos vizinhos da igreja, celebrávamos com nossos irmãos, cristãos, suas festas e eles faziam o mesmo conosco”.

“Agora não há mais cristãos. Todos partiram, e com eles, as celebrações e as bonitas festas de Natal”.

(AFP)

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