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Ser simples te torna uma pessoa melhor?

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Miriam Diez Bosch - publicado em 19/01/18

“Não se preocupe em ser mais econômico ou simples, mas sim em dividir o que você tem com os outros”

“Viver com simplicidade não para sermos melhores, mas para vivermos com maior liberdade”. Essa é a premissa da professora Pilar Queralt, doutora em Física e professora da Universidade de Barcelona. Nesta entrevista, Queralt recorda que “divertir-me com os outros, fazer festa e celebrar são, para mim, valores tão importantes como a austeridade em si”.

(Nota: entenda austeridade como estilo de vida simples, econômico, longe do supérfluo).

Porque você fez da austeridade um modo de vida?

Não fiz da austeridade um modo de vida, mas optei por adotar um estilo de vida que supõe uma certa austeridade.

Procuro fazer com que meu modo de vida seja simples, de maneira que eu me conforme com o necessário. Claro, isso exige discernimento para que os critérios não sejam simplesmente os de seu meio social ou profissional, mas que você valorize as pessoas mais simples.

O consumismo nos desumaniza?

Não sei se austeridade é o contrário de consumismo, mas evidentemente que não são compatíveis.

Tudo o que tira a liberdade e te escraviza desumaniza. Na nossa sociedade, temos que consumir para podermos viver. Mas o consumismo supõe que se viva para comprar, para consumir. E isso acaba condicionando a vida, as opções… E as pessoas se tornam insensíveis ao que estão em situações de dificuldade. E cresce o abismo entre os que têm tudo e aqueles aos quais falta o essencial…

Assim, na parábola do rico e do pobre Lázaro, o que se reprova do rico não são apenas seus banquetes, mas, principalmente, sua insensibilidade e falta de solidariedade. Ele viveu preso em sua riqueza e se tornou incapaz de ver ou ouvir o pobre – até mesmo para receber a interpelação da Lei, os profetas e o Evangelho.

Em que medida ser austero é uma maneira de ser uma pessoa melhor?

Ter capacidade de decidir e procurar focar só no que é necessário (não só para economizar dinheiro, mas para poder levar em conta as necessidades dos que não têm nada e ser solidário com eles) são, acredito, uma humilde contribuição para a humanidade.

Para mim, não se trata de ser austero para “ser melhor”, porque isso pode levar a um orgulho ou pretensão. Todos temos nossos erros, carências e pecados. Recordemos como Jesus enaltece os que se rebaixam e confunde os que queriam ser melhores que os outros… (cf. Lc 14,7-11). Trata-se de viver com mais liberdade e simplicidade para poder dar prioridade ao que merece. (cf. Lc 12,29-31)

A opulência natalina te chateia?

A opulência natalina me chateia se você considerar opulência como luxo. Se for abundância, não me irrita, já que também é preciso compartilhar as festas com a família e os amigos. Divertir-me com os outros, fazer festa, celebrar são, para mim, valores tão importantes quanto a austeridade em si. No entanto, pode-se celebrar uma festa sem opulência, sem desperdício.

Além disso, o Natal, por sua essência, deveria ser uma festa grande, mas simples. No presépio, celebramos a vinda de Deus para dividir sua vida conosco, mas a partir da pequenez e da pobreza para que todos – dos pastores aos Magos – possam recebê-lo e acolhê-lo como uma Boa Nova. Por isso, podemos dizer que Jesus nos enriquece com sua pobreza (cf .2Co 8,9).

Jesus em Nazaré viveu uma vida simples, austera. Mas participou de festas e celebrações. Tanto foi que o censuraram porque não era austero como João Batista, mas sim um ‘fanfarrão” (cf. Lc 7, 34).

Não acho que devemos ser preocupados em sermos austeros, mas em compartilhar o que temos com os outros. Isso nos ajuda a sermos essenciais, resolvermos o que é necessário e nos esquecermos do superficial ou do opulento.

Podemos tentar dividir o que temos: dinheiro, comida ou tempo. Também temos que nos dedicar ao essencial: nos comunicar, ouvir, ajudar e sermos ajudados, rezar, contemplar e agradecer pela obra de Deus em nossas vidas. Logo comprovaremos que não nos faltará tempo e não teremos vontade de nos dedicarmos ao consumismo.

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