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Histórias Inspiradoras
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O tatuador de Auschwitz: durante 50 anos, ninguém descobriu seu segredo

TATUAŻ AUSCHWITZ

AFP/EAST NEWS

Była więźniarka obozu Auschwitz prezentuje tatuaż na swoim przedramieniu.

Dominika Cicha - publicado em 27/02/18

Uma história de amor e superação

Foi somente depois da morte de sua mulher que ele falou o que fazia em Auschwitz. Hoje, sabemos que muitos dos números tatuados nos antebraços dos internos dos campos de concentração foram feitos por ele…

Lale abre a pele delicada com uma agulha. O sangue começa a sair do braço da moça, mas ele não demonstra qualquer emoção. Espera pacientemente até que a tinta verde preencha a ferida. Seu novo nome é 34902.

Cedendo a um impulso inesperado, ele aperta um pouco mais a mão dela. “Quer dar mole para aquela jovem judia? “Vá, depressa!”, exorta uma voz impaciente às suas costas. Quando vira, a jovem já tinha ido embora.

Cinquenta anos depois, ele disse que, naquele dia, aquele número ficou tatuado em seu coração.

Lale Sokolov ou Ludwig Eisenberg

Ele chega ao campo bem vestido, com camisa branca e gravata. Oferece-se como voluntário para trabalhar para os alemães. Em contrapartida, seus pais, sua irmã e seus irmãos não devem ser perseguidos.

Espera que o aspecto elegante, o dinheiro que traz no bolso e sua habilidade com os idiomas (fala alemão, esloveno, russo, francês e polonês) ajudem-no a conseguir um bom trabalho. Tem 26 anos e uma vida toda pela frente.

Ele é colocado no trem cheio de gente. Ordenam-lhe que deixe a mala no chão. “Como saberão depois qual é a minha”, pergunta-se. Quando chega à cerca com a inscrição Arbeit macht frei, ouve um homem que se apresenta como Rudolf Höss, dizendo: “bem-vindos a Auschwitz. Trabalhem duro e serão livres. Façam o que lhe mandam e nunca levantem os olhos”.

O crime: ser judeu

Alguém lhe dá uma folha com o número 32407. Depois de um pouco tempo de fila, alguém tatua uma série de número em seu antebraço. A ferida sangra abundantemente. A partir daquele momento, a tinta verde marcará sua nova identidade. Ele se diz: “sobreviverei para deixar este lugar como um homem livre”.

Seu primeiro trabalho é a ampliação do campo de Birkenau. Ele aprende a ser humilde, sem se opor a ninguém. Infelizmente, logo contrai o tifo.

Enquanto é transportado inconsciente em um carro cheio de cadáveres, um dos prisioneiros o tira do veículo, arriscando sua vida. Lale se levanta depois de oito dias de grave doença. É curado por um recluso mais velho.

Ele se chama Pepan, um acadêmico de Paris que trabalha como tatuador no campo de concentração. O francês quer que Lala seja seu ajudante; um homem que conhece tantos idiomas seguramente lhe seria útil.

Lale tem medo só de pensar em causar dor a outras pessoas. Mas, no fim, aceita porque o trabalho poderia aumentar suas possibilidades de sobrevivência.

Prisioneiro número 34902. Gita Fuhrmannova

Semanas depois, de repente, Pepan desaparece. Lale nunca soube o que aconteceu. Ele passa a morar sozinho em um pequeno quarto, mas divide os suplementos de comida que recebe com outros prisioneiros. Sente-se um rei, mas é plenamente consciente do fato de que um dia ou outro poderia ser rotulado como colaboracionista.

Certo domingo, Lale vê a jovem de quem recordava os belos olhos e o número que ele tatuou. Ela está com um grupo de mulheres judias.

A troca de olhares é interceptada por Stefan Baretski, um oficial da SS, que fazia a guarda do tatuador.

“Que bela moça! Quer falar com ela? Escreva. Eu lhe trarei papel e lápis. Sabe como ela se chama?”. Lale ficou em silêncio. Mas, no fim das contas, cede e escreve uma breve carta à jovem, perguntando se ela gostaria de se encontrar com ele.

Quando entrega o texto ao oficial da SS, percebe o risco que está correndo e o risco a que está expondo a moça.

Ela responde à carta. Diz que trabalha na seleção dos efeitos pessoais dos prisioneiros. É da Eslováquia e, sim, eles podem se encontrar no domingo.

Quando se falam pela primeira vez, ela diz apenas seu nome: Gita. Não acrescenta mais nada.

– Não sou mais que um número. Deveria saber. Você é que que me disse.
– Não pergunto quem você é aqui, mas quem você é fora deste lugar.
– Já não existe um “fora”. Existe somente este lugar.
– Eu me chamo Ludwig Eisenberg, mas me chamam de Lale. Venho de Krompakha, Eslováquia. Tenho mãe, pai, um irmão e uma irmã. Agora é sua vez.
– Sou a prisioneira número 34902, de Birkenau, Polônia.
– Me promete uma coisa?
– O quê?
– Antes de deixar este lugar, você me dirá quem é e de onde vem.
– Prometo!

Os dois se encontram mais frequentemente. Fazem planos.

Lale tatua centenas de prisioneiros. Mas quando não tem ninguém para tatuar, fica em um beco sem saída. Ele se envolve com o contrabando. Ajuda as moças que selecionam os uniformes dos recém-chegados e, às vezes, conseguem esconder objetos de valor, que, depois  são trocados por alimento extra, remédios e chocolate.

O tatuador de Auschwitz

Lale tenta ajudar a todos, colocando continuamente sua vida em risco.

Quando um prisioneiro condenado à morte por tentar fugir do campo de concentração vai até ele, Lale troca o número da tatuagem do condenado e, com a ajuda de uma enfermeira, o coloca em uma lista de reclusos que são enviados a outros campos. Tudo tem que acontecer apenas umas horas antes da execução.

Lale e Gita: una história de amor

Em 1945, Gita se une a um grupo de mulheres dispostas a fugir do campo. No último momento, consegue gritar seu sobrenome para seu amado: Fuhrmann.

Lale é transferido para Mauthausen e, depois de muitas provações volta à sua cidade natal. Lá, descobre que seus pais e seu irmão, juntamente com o restante da família, foram mortos. Somente sua irmã sobreviveu. Ele diz que quer procurar Gita. Mas como?

Gita consegue deixar o corredor da morte com suas amigas. Esconde-se em bosques e em casas de pessoas boas durante várias semanas. Depois, chega a Cracóvia e inclui seu nome em uma lista da Cruz Vermelha. Em seguida, vai para Bratislava escondida em um caminhão de verduras.

Lale fica sabendo que os ex-prisioneiros se encontram sempre na estação ferroviária de Bratislava. Ele vai para lá e tem acesso à lista da Cruz Vermelha. Ele e Gita se encontram na rua. Casam-se no mesmo ano, 1945, e adotam o sobrenome russo Sokolov.

Lale abre sua empresa têxtil, mas é preso. Quando consegue sair da prisão, parte com Gita para Viena, depois, vão para Melbourne, na Austrália.

O filho deles, Gary, nasce em 1961. Lale retoma sua empresa, enquanto Gita desenha roupas femininas.

Somente as pessoas mais próximas a eles conhecem essa história. Lale sente que não deve falar deles para ninguém. Teme ser acusado de colaboracionismo com os nazistas.

Mas ele muda de ideia depois da morte de Gita, em 2006, quando conhece a escritora Heather Morris, que escreve um livro sobre eles:  The Tattooist of Auschwitz (O tatuador de Auschwitz), que, por enquanto está disponível somente em inglês.

* Como se pode ler em Auschwitz.org, “as tatuagens no campo de Auschwitz começaram no outono de 1941.”

As autoridades decidiram usá-las para identificar os prisioneiros de guerra soviéticos. O número era tatuado no lado esquerdo do peito do prisioneiro, usando um timbre metálico com discos móveis, em que eram inseridas agulhas para formar números específicos.

Desde a primavera de 1942, as autoridades do campo de concentração ordenaram que a tatuagem fosse feita no antebraço esquerdo, embora a prática de tatuar no peito tenha continuado. Começaram, então, a usar agulhas fixadas em um suporte de madeira e cheias de tinta para tingir a pele e formar os números.

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História da Igrejanazismo
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