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O real perigo para as crianças de hoje não é a tecnologia – é a psicologia

Reféns do celular

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Calah Alexander - publicado em 30/03/18

A aliança profana da tecnologia e da psicologia tem alimentado um mundo destrutivo para nossos filhos

Ontem, Charlotte se sentou ao meu lado no sofá e colocou a cabeça no meu ombro. “Mamãe”, ela começou docemente, “quando eu for adolescente, em que série eu terei meu celular?”.

Do outro lado da casa, sua irmã de 12 anos, com orelhas de águia, gritou: “NUNCA! Eu não tenho celular, Charlotte. Nós nunca teremos celulares, mesmo que todos os nossos amigos os tenham, porque mamãe é muuuuito rigorosa”.

Charlotte virou o rosto para olhar para mim, seus grandes olhos azuis se enchendo de lágrimas de crocodilo. “Isso é verdade, mamãe?”.

“Sim! Sim. Você nunca terá um celular até você ir à faculdade, e talvez nem assim”, respondi inequivocamente. Eu tentei muito não ficar feliz com isso, mas não tenho certeza se consegui.

Eu não simplesmente estou alegre com a minha absoluta proibição de telefones celulares para meus filhos. Mas estou satisfeita porque sei que os telefones celulares – e o mundo das mídias sociais que eles abrem para as crianças – são a ameaça mais destrutiva que as crianças enfrentam atualmente, e estou determinada a proteger meus filhos o máximo possível.

A maioria dos pais não entende a extensão da ameaça e, como resultado, eles costumam levar a culpa quando seus filhos são sugados para a areia movediça da tecnologia. A Medium publicou recentemente um artigo que explica exatamente por que as mídias sociais e os videogames estão provocando tanta confusão nas crianças.

O que nenhum desses pais entende é que a destrutiva obsessão de seus filhos e adolescentes com a tecnologia é a consequência previsível de uma fusão praticamente irreconhecível entre a indústria de tecnologia e a psicologia. Essa aliança combina a imensa riqueza da indústria de tecnologia de consumo com a mais sofisticada pesquisa psicológica, possibilitando o desenvolvimento de mídias sociais, videogames e telefones com poder semelhante ao das drogas para seduzir usuários sem maturidade.

Esses pais não têm ideia de que, escondidos atrás das telas e telefones de seus filhos, há uma infinidade de psicólogos, neurocientistas e especialistas em ciências sociais que usam seu conhecimento de vulnerabilidades psicológicas para criar produtos que captem a atenção das crianças em prol do lucro da indústria. O que esses pais e a maioria do mundo ainda têm que compreender é que a psicologia – uma disciplina que associamos à cura – está sendo usada muitas vezes agora como uma arma contra as crianças.

O artigo é longo, mas fascinante, pois se aprofunda na evolução da tecnologia persuasiva, uma ideia imaginada e aperfeiçoada por um psicólogo. O objetivo descarado da tecnologia persuasiva é alterar a maneira como os humanos pensam e se comportam, e as empresas de tecnologia adotaram essa tecnologia para impulsionar as vendas e dominar o mercado… às custas de as crianças serem literalmente reprogramadas.

Duvido muito que qualquer um dos executores de tecnologia estivesse tentando destruir a vida da próxima geração. Na verdade, acredito que muitos dos principais executivos de tecnologia realmente acreditam em aumentar a conectividade humana. Mas, brincando com o fogo da tecnologia persuasiva, eles estão queimando muitas crianças.

Estou confiante de que a próxima década verá uma restrição gradual da liberdade do Vale do Silício de empregar técnicas psicológicas para mudar o comportamento do usuário para beneficiar os lucros de uma empresa, especialmente à medida que mais e mais pais despertam para os efeitos prejudiciais que os smartphones e videogames estão causando em seus filhos. Enquanto isso, protegerei meus filhos da melhor maneira que eu sei – sendo a mãe menos legal, mais severa de todas as épocas e nunca deixando que eles tenham telefones celulares.

Eles vão me agradecer depois, provavelmente. E mesmo que isso não aconteça, durmo sabendo que meus filhos passaram o dia atormentando uns aos outros do lado de fora, em vez de serem atormentados em uma realidade virtual.

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