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Por que a Besta é o único personagem da Bíblia a ter um número e não um nome?

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Daniel R. Esparza - publicado em 22/07/18

Algumas explicações da hermenêutica bíblica tradicional lançam luz sobre o assunto, assim como os pensamentos do Papa Bento sobre a história recente e eventos atuais

No capítulo 13, versículo 18 do Livro de Revelação de João, lê-se:

“Aqui há sabedoria. Aquele que tem entendimento, calcule o número da besta; porque é o número de um homem, e o seu número é seiscentos e sessenta e seis” Apocalipse 13,18.

Em 15 de março de 2000, enquanto ainda era o Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, o então Cardeal Joseph Ratzinger falou durante a inauguração da Terceira Semana de Fé Diocesana na Catedral de Palermo, na Sicília, diante de aproximadamente 1.500 pessoas. Esse discurso – não tão conhecido como o de Regensburg  –  agora é comumente referido como a conferência de Ratzinger sobre Paternidade e Apocalipse.

Nesta conferência, Ratzinger advertiu o público sobre os perigos da biotecnologia, explicando que a redução da paternidade humana a um fenômeno biológico, privando-a das suas dimensões humana e espiritual, é uma ameaça que esvazia todas as afirmações que se poderia dizer sobre Deus, o Pai. “A dissolução da paternidade e da maternidade”, explicou, “está ligada à dissolução de nossos filhos e filhas”.

Agora, o que isso pode ter a ver com o número apocalíptico da Besta? O argumento de Ratzinger explica que o antagonista de Deus, a Besta, é o único personagem da Bíblia que não tem um nome, mas um número. Na revelação bíblica, a presença atenta de Deus revela-se com um nome e, até mesmo, pode argumentar, em um nome. Este ato, argumenta Ratzinger, significa o desejo de Deus de ser abordado, para entrar em comunhão. O antagonista de Deus, “esta Besta”, explica Ratzinger na mesma conferência, “não tem um nome, mas um número […] A Besta é um número e se transforma em números”.

Alguns autores leram isso como a crítica de Ratzinger à razão instrumental. O então cardeal estava claramente se referindo à experiência dos campos de concentração, mas também aos riscos de compreender o humano em termos de meros mecanismos biomecânicos.

“Em seu horror [os campos de concentração] cancelam rostos e história, transformando o homem em um número, reduzindo-o a uma engrenagem em uma máquina enorme. O homem não é mais do que uma função. (…) Nos nossos dias, não devemos esquecer que eles prefiguraram o destino de um mundo que corre o risco de adotar a mesma estrutura dos campos de concentração se a lei universal da máquina for aceita. As máquinas que foram construídas impõem a mesma lei. De acordo com essa lógica, o homem deve ser interpretado por um computador e isso só é possível se traduzido em números. A Besta é um número e se transforma em números. Deus, no entanto, tem um nome e chama pelo nome. Ele é uma pessoa e procura a pessoa”.

Agora, como acontece com a gematria hebraica (ou seja, a atribuição do valor numérico às letras do alfabeto), as letras gregas também podem ter um valor numérico correspondente. Isso é o que é conhecido como isopsephia. O uso da isopsephia para “calcular” o número da Besta ajudou toda uma tradição teológica e hermenêutica a entender o número 666 como equivalente ao nome e título de Nero César, que era o imperador romano do ano 54 até 68. Seu nome, escrito em aramaico, também pode ser “calculado” como equivalente a 666 usando gematria hebraica tradicional. Na verdade, “Nero Caesar” em hebraico lê נרון קסר (NRON QSR). Essa ortografia, quando usada como números, representa 50-200-6-50-100-60-200, o que equivale a 666.

Os historiadores entenderam que essa era a maneira pela qual as primeiras comunidades cristãs perseguidas podiam falar contra o imperador sem que as autoridades romanas soubessem. Mas esta explicação não torna o argumento de Ratzinger inválido, simplesmente porque Nero era uma pessoa histórica real. O que o número da Besta revela é que a dissolução de traços pessoais, a substituição de nomes por estatística, a redução do ser humano a qualquer das suas funções básicas (como na redução da paternidade a apenas um fenômeno biológico, privada de sua dimensão espiritual e moral, ou como na redução da crise dos refugiados a mera estatística), cedo ou tarde, corre o risco de conduzir à desumanização.

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