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Idosos no Japão veem a cadeia como solução para a solidão

OLDER JAPANESE MAN

By MAHATHIR MOHD YASIN | Shutterstock

Lucandrea Massaro - publicado em 15/08/18

Para evitar a “morte solitária”, um número crescente de idosos comete pequenos crimes para ir para a prisão

O envelhecimento no Ocidente é acompanhado por um fenômeno semelhante no Japão, um país rico que, em muitos aspectos – incluindo clima, hábitos e dieta – é semelhante aos países europeus como a Itália: de fato, o Japão e a Itália têm a maior expectativa de vida média do mundo.

Mas essa circunstância, aliada a uma baixa tendência de ter filhos, resulta em um grande número de idosos solitários em um país cuja idade média está inexoravelmente aumentando. A solidão está se tornando um fenômeno mais difundido do que em qualquer outro ponto nos últimos séculos.

O Japão é o país com o maior percentual de idosos. Um pouco mais de um quarto da população total (27,3%) tem mais de 65 anos, e o Departamento de Saúde prevê que o percentual chegará a 40% até 2060.

Hoje, há mais de 2 milhões de pessoas no Japão com mais de 90 anos. As mulheres idosas, que muitas vezes são viúvas, são o grupo de maior risco: sem renda, elas têm que enfrentar a pobreza e a falta de companhia (Linkiesta, 20 de março).

No Japão, esse fenômeno levou um grande número de pessoas idosas – especialmente viúvas idosas – a recorrerem a pequenos furtos apenas para poder ir para a cadeia; dificuldades econômicas também são um fator, mas mais do que qualquer outra coisa, os idosos fazem isso para ter alguém com quem conversar e interagir. Em suma, eles vão para a cadeia para não ficarem sozinhos.

Esse fenômeno da solidão é tão difundido que essas pessoas podem até acabar morrendo sozinhas e são frequentemente encontradas mortas em suas casas após longos períodos de tempo. É tão comum que há uma palavra para descrever isso: kodokushi (literalmente “morte solitária”).

Em alguns casos, embora os problemas financeiros e econômicos também sejam citados como motivos, muitas pessoas relutam em solicitar assistência do governo, preferindo morrer ao invés de sofrer a humilhação de pedir ajuda. Em 2008, mais de 2.200 pessoas com mais de 65 anos morreram em uma “morte solitária”, de acordo com estatísticas do Escritório de Serviços Sociais e Saúde Pública (Wikipedia em italiano).

As estatísticas descrevem um país cheio de idosos dispostos a fazer qualquer coisa para não morrerem sozinhos: o número de detenções de idosos é maior do que o de qualquer outro grupo demográfico.

As condenações, segundo os dados mais recentes da polícia, dobraram nos últimos dez anos, passando de uma média de 80 por 100.000 habitantes entre 1995 e 2005 para 162 por 100.000 habitantes de 2005 a 2015. Quase uma em cada cinco mulheres atualmente detidas nas prisões japonesas têm 65 anos ou mais; nove em cada dez mulheres idosas condenadas por crime foram consideradas culpadas de furto em lojas (Bloomberg, 16 de março).

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